Ex-diretor indica que Corinthians planejou que Vai de Bet pagasse comissão
Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do Corinthians, disse em depoimento que foi informado inicialmente de que a comissão pela intermediação do contrato com a Vai de Bet seria paga pela patrocinadora.
A oitiva foi realizada pela Polícia Civil e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo), na última quarta (24).
Ouvido como testemunha, Yun afirmou que, em 29 de dezembro do ano passado, antes de a atual diretoria tomar posse, recebeu de Sérgio Moura, que era o superintendente de marketing do Alvinegro, um formulário intitulado "Solicitação de contrato de patrocínio".
O documento trazia informações sobre a negociação. Nele aparecia a identificação e a qualificação da Rede Social Media Design como intermediária do negócio.
No formulário, constava também, segundo a versão de Yun, que a comissão seria paga pela patrocinadora. O valor estipulado era de 10% do montante total do contrato.
O então diretor jurídico havia solicitado por escrito as tratativas que estavam ocorrendo. Isso já pensando na formalização do acordo comercial.
Yun afirmou em seu depoimento que, até o envio da documentação, ele desconhecia a existência de intermediaria na operação. Procurado pela coluna, o ex-diretor jurídico disse que não pode falar nada sobre o assunto.
Por sua vez, Moura visualizou, mas não respondeu à mensagem enviada pela coluna a respeito do conteúdo desta reportagem. O espaço segue aberto para a manifestação dele.
Yun declarou em sua oitiva que, em 2 de janeiro, quando a diretoria comandada por Augusto Melo tomou posse, foi informado por Moura e Marcelo Mariano, o Marcelinho, diretor administrativo, de que a comissão da Rede Social tinha caído para 7% da quantia total. Isso representaria cerca de R$ 25,2 milhões.
O ex-cartola afirmou que não participou das negociações, mas acredita que houve mudança nas tratativas, pois o clube e ficou responsável pela comissão. No momento em que ele recebeu o formulário, as conversas entre as partes estavam em andamento.
Em entrevista à TV Gazeta, Rubens Gomes, ex-diretor de futebol do Corinthians, disse que, em dezembro, ouviu de Augusto que o contrato tinha sido fechado sem intermediário.
Em depoimento à polícia e ao MP, Alex Cassundé, dono da Rede Social, afirmou que apresentou o contato da Vai de Bet para o clube, mas não participou da negociação. Ele ainda disse que, inicialmente, não exigiu comissão. O pagamento teria sido oferecido ao empresário pela diretoria alvinegra.
Durante seu depoimento, Yun afirmou que chegou a ser consultado por Marcelinho e Moura sobre se existe lei que defina porcentagens mínima e máxima para pagamento de comissão por intermediação. A resposta foi que não.
O inquérito
Em junho, o delegado Tiago Fernando Correia, da 3ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) instaurou inquérito para apurar se houve prática de lavagem de dinheiro, entre outros possíveis crimes, na esteira do pagamento de comissão por intermediação do contrato entre Corinthians e Vai de Bet.
O caso começou a ser investigado após a coluna de Juca Kfouri no UOL mostrar que, depois de receber R$ 1,4 milhão do Corinthians, a Rede Social transferiu cerca de R$ 1 milhão para a Neoway Soluções Integradas.
Para a polícia, a Neoway é uma empresa de fachada aberta em nome de Edna Oliveira dos Santos, beneficiária do Bolsa Família. Ela alega que desconhecia a existência da companhia.
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Quero receberA Justiça determinou a quebra de sigilo bancário da Neoway, pedida pela polícia. Cassundé afirmou à polícia que pagou à Neoway pela implementação de um sistema de consultas veterinárias à distância, mas que o serviço nunca foi prestado.
O caso policial desencadeou uma debandada de diretores da gestão comandada por Augusto Melo e culminou com a rescisão do contrato de patrocínio.
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