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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perrone: Crise do Botafogo testa capacidade das SAFs de segurarem treinador

John Textor, investidor do Botafogo, celebra vitória sobre o Fortaleza junto à torcida - Vitor Silva / Botafogo
John Textor, investidor do Botafogo, celebra vitória sobre o Fortaleza junto à torcida Imagem: Vitor Silva / Botafogo

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16/06/2022 12h08

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A crise do Botafogo serve para medirmos até que ponto a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) é capaz de reformular a maneira de se administrar clube de futebol no Brasil.

Este colunista sempre defendeu a tese de que agremiação com dono pode ter mais tranquilidade para desenvolver seus projetos sem precisar trocar de treinador a cada má fase.

Presidente de clube tem que se preocupar com a política interna. Precisa dar satisfação a conselheiros e sócios, que frequentemente pensam como torcedores que são.

Nesse universo, a pressão da torcida tem potencial para definir os rumos do clube. Isso porque o presidente precisa cuidar da sua reeleição, da eleição de um aliado para sucedê-lo ou simplesmente evitar um processo de impeachment.

Já o proprietário do clube independe de política. Ele não precisa ser reeleito para continuar mandando. Assim, teoricamente, o responsável pela SAF pode seguir com seus planos sem sucumbir às pressões da torcida.

Mas será que na prática é assim? O Botafogo pode nos dar uma resposta. O time tem sido vaiado durante as partidas e uma torcida organizada invadiu o CT do clube nesta quarta (15), cobrou jogadores e o técnico Luís Castro.

Até aqui John Textor, sócio majoritário da SAF botafoguense, demonstrou apoio incondicional ao treinador português.

Mas, se o time não reagir, o norte-americano seguirá com sua visão de empresário que busca transformações a longo prazo?

Textor não precisa agradar aliados políticos ou torcedores para continuar no comando, mas até que ponto ele está disposto a aguentar a pressão de torcedores que usam a hostilidade para serem ouvidos?

Há muita coisa para ser feita no Botafogo. Seria uma perda de tempo retroagir para acalmar a torcida.

A melhor demonstração de respeito que Textor pode dar aos torcedores alvinegros é tocar a reestruturação do clube com a seriedade e a profundidade que ela exige.

O caminho é longo e árduo. Mas, teoricamente, seria muito mais difícil de ser percorrido com um dirigente amador na linha de frente.

Os próximos capítulos poderão mostrar se a realidade será compatível com a expectativa de que com as SAFs quase tudo será diferente.

Claro que o que acontecer com o Botafogo não serve de regra para todo clube que virar SAF. Mas será um bom indicador.

Uma vitória botafoguense sobre o São Paulo nesta quinta interromperia a sequência atual de quatro derrotas seguidas. Acalmaria o ambiente, mas não mudaria muito o contexto geral porque a reconstrução botafoguense levará tempo. No tropeço seguinte, Textor voltaria a sentir a pressão da torcida que pode levá-lo a agir mais como cartola raiz do que como empresário.