Topo

Perrone

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perrone: Caso Caboclo confirma que sociedade não pode esperar ajuda da CBF

Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF - Thiago Ribeiro/AGIF
Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

25/08/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O episódio em que Rogério Caboclo foi acusado de assédio sexual e moral por uma funcionária da CBF poderia ter indicado que a confederação amadureceu com os erros cometidos por seus dirigentes no passado.

A priorização da proteção da vítima e do apoio psicológico a ela e uma decisão puramente técnica seriam mais do que sinais de transformação. Um caso que decolou no Fantástico seria um importante exemplo do rigor com que todos os setores da sociedade devem lidar com esse tipo de situação.

Mas, não teve zebra nesse jogo. Num resultado previsível, a política se mostrou mais importante para muitos dos cartolas da entidade do que tudo.

A partir do afastamento provisório de Caboclo da presidência, assistimos a uma guerra por poder envolvendo vice-presidentes e outros cartolas. Por mais que ele negue envolvimento, a sombra de Marco Polo Del Nero está presente desde o início do escândalo. Na disputa pela cadeira presidencial, o ex-presidente da CBF é um dos mais engajados, segundo dirigentes ouvidos pelo blog.

Caboclo acusa o ex-padrinho político de aplicar um golpe para recuperar o poder por meio de terceiros. Del Nero, banido pela Fifa sob acusação de praticar atos de corrupção, rejeita as acusações.

Em meio ao caos, Gustavo Feijó, um dos oito vices, ganhou poder na entidade. Passou a ter até o direito de pedir explicações da comissão técnica da seleção brasileira sobre seus critérios de convocação. Ganhou também críticas de colegas na rachada vice-presidência.

Entre articulações, manobras políticas e jurídicas e trocas de acusações, em último plano ficou a denunciante. Ela está bem? Teve suporte psicológico por parte da CBF? Ninguém sabe, pois não se falou mais nela.

O capítulo mais recente só aumentou a demonstração de que da confederação dificilmente virá um bom exemplo sobre como tratar caso tão delicado.

Nesta terça (24), a Comissão de Ética do Futebol Brasileiro decidiu que não houve assédio, mas, sim, conduta inapropriada. Optou por punir Caboclo com 15 meses de afastamento.

Como ele já cumpriu quase três meses de afastamento, ficará fora do cargo por cerca de um ano, se a punição for referendada pela assembleia com representantes de 27 federações.

A decisão dá margem para mais discussão política, principalmente porque a comissão caminhou para aplicar uma pena de 12 meses, mas aumentou em três meses a pena ao se dar conta do período que já foi cumprido.

Há entre os vices quem entenda que foi feita uma manobra para evitar uma eleição com um deles sendo eleito para completar o atual mandato, que vai até abril de 2023. O pleito ocorreria se Caboclo fosse banido. Quem pensa assim, entende que a decisão, caso seja confirmada, satisfaz Del Nero, pois mantém coronel Nunes, seu aliado, na presidência.

Além disso, o prazo definido provavelmente tiraria Caboclo da próxima eleição na CBF, em abril de 2022.

O presidente afastado voltou a falar em armação de Del Nero e prometeu recorrer da decisão.

A assembleia para confirmar ou não a punição seria nesta quarta, mas os advogados de Caboclo conseguiram sua suspensão apontando irregularidades na convocação. O presidente afastado calcula que precisa de seis votos (olha a política aí de novo), caso todas as federações votem, para evitar o castigo.

Assim, nas últimas horas se falou muito de política e praticamente nada sobre a funcionária que se sentiu assediada. Mais uma vez, a CBF mostrou que a sociedade brasileira não pode contar com a ajuda dela para evoluir. Só para tomar banho de lama.