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REPORTAGEM

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No Corinthians há quem veja pontos positivos no balanço. Analistas conferem

16/04/2021 04h01

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Déficit de R$ 123.314.000 em 2020. Dívida que se aproxima de R$ 1 bilhão, sem contar o débito referente à construção de seu estádio. Empréstimos feitos junto a empresários. Esses dados preocupantes para o torcedor corintiano estão no balanço do clube referente ao ano passado. Mesmo assim, há entre os integrantes da gestão comandada pelo ex-presidente Andrés Sanchez quem veja aspectos positivos no documento.

A tese é de que as demonstrações financeiras mostram que já estava em prática um rígido corte de despesas.

Um dos principais argumentos é o de que parte significativa do passivo é não circulante (referente a compromissos que não vencem nos 12 meses seguintes a dezembro de 2020).

Segundo o balanço, em 31 de dezembro do ano passado, o passivo não circulante do Corinthians era de R$ 443.514.000.

Já o passivo circulante (com vencimentos nos 12 meses seguintes) foi registrado em R$ 847.215.000.

O argumento é de que o montante com vencimento a longo prazo dá um pouco de fôlego para o clube administrar suas contas diárias. Mas há o reconhecimento de que a situação é difícil.

Quem enxerga avanço em relação aos cortes de despesas argumenta que o déficit aconteceu principalmente por conta de uma queda nas receitas devido aos reflexos da pandemia de covid-19.

O blog ouviu dois especialistas em balanços de clubes sobre as demonstrações financeiras do Corinthians. Para ambos, a situação do alvinegro é preocupante.

"A gestão do Corinthians precisa mudar muito e urgente, estão assustadores os números", disse Amir Somoggi, sócio da Sports Value Marketing Esportivo.

"Tem solução, mas a longo prazo e com muita disciplina", afirmou Cesar Grafietti, consultor de gestão e finanças do esporte.

Indagado sobre o que é mais preocupante e mais animador no balanço do Corinthians, Grafietti respondeu: "Sim, é preocupante, não tem nada muito animador. A pressão da dívida de curto prazo é o mais preocupante. O clube terá que reestruturar essa dívida ou novos atrasos surgirão", declarou.

A seguir, leia os principais pontos destacados pelos dois especialistas sobre o balanço corintiano. Os números citados são aproximados.

Amir Somoggi

Receitas

"As receitas do Corinthians saltaram de R$ 426 milhões para R$ 474 milhões, mas isso somente foi possível pois as receitas com transferências (de jogadores) saltaram 318% e atingiram R$ 189 milhões.

Sem as vendas de atletas as receitas foram baixíssimas, R$ 285 milhões, valor similar a 2014?".

Custos

"Os custos com futebol estão em R$ 462 milhões, alta de 2%. Os custos com gastos de aquisição e venda de jogadores foram de R$ 63 milhões.

Os custos com futebol representam 97% das receitas. Em 2019 representavam 107%, um total descontrole. Esse indicador não deve superar os 80%".

Déficits

"Os déficits estão altíssimos. R$ 319 milhões em dois anos, R$ 536 milhões em sete anos".

Dívidas

"A dívida que era de R$ 784 milhões em 2019 foi para R$ 949 milhões em 2020. Em 2018 estava em R$ 477 milhões".

Cesar Grafietti

Redução de despesas

"De fato, se você analisar as despesas com pessoal verá redução, tanto no futebol quanto no social. Mas há outras movimentações, como as despesas administrativas que cresceram bastante, então uma coisa compensa a outra. Tem um custo chamado "futebol" que caiu bastante, mas não há explicação sobre o que representa. Enfim, os números apontam para redução efetiva, mas faltam dados para justificá-la".

Longo prazo

"A questão da dívida ter R$ 400 milhões de longo prazo é positiva, mas há quase R$ 600 milhões de curto prazo, sendo que cerca de R$ 217 milhões são com outros clubes e agentes. Se não forem pagas podem gerar problemas junto à Fifa. Há uma pressão imensa e isso foi gerado pelos volumes de investimentos em contratação, que em 2020 foram de R$ 81 milhões em elenco profissional".

Despesas financeiras

"Há também um valor relevante de despesas financeiras, fruto dos custos financeiros elevados que pagam nas dívidas".

O remédio

"Se fizer mais R$ 40 milhões de corte de custos, reduzir contratações (que viram dívidas), ajuda. Mas precisarão alongar as parcelas de dívidas de curto prazo e renegociar custos. Só a despesa financeira é maior que esses R$ 40 milhões (foram R$ 55 milhões em 2020).

Corinthians não comenta

O blog procurou o departamento de comunicação do clube para ouvir a diretoria sobre pontos positivos do balanço e a respeito dos comentários feitos pelos especialistas.

Porém, a informação foi de que as perguntas enviadas não seriam respondidas. Apenas este posicionamento foi enviado: "consideramos que o balanço está publicado e que ele está aberto a análises diversas, as quais serão sempre bem-vindas".

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