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Opinião: eleição nos EUA teve aula de militância para jogadores brasileiros

LeBron James, do Los Angeles Lakers, deveria inspirar jogadores brasileiros  - Sam Greenwood/Getty Images
LeBron James, do Los Angeles Lakers, deveria inspirar jogadores brasileiros Imagem: Sam Greenwood/Getty Images

08/11/2020 12h20

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A eleição norte-americana deveria servir de exemplo para atletas brasileiros, em especial os jogadores de futebol. O engajamento dos astros da NBA é uma aula para nossos boleiros, normalmente alienados politicamente ou comprometidos em apoiar um candidato que atenda a seus anseios.

Por aqui, é raro ver jogador de futebol trabalhando por uma ideia que possa melhorar a vida das pessoas por meio da política.

Os craques da NBA mostraram como se faz. Primeiro, interromperam a Liga como protesto contra a violência policial que sangra negros, muitas vezes até a morte. A mesma praga faz estrago por aqui, mas sem trombar com semelhante mobilização das estrelas de chuteiras.

Para o show continuar, os jogadores da NBA exigiram que a Liga e as franquias abraçassem seus ideais. Principalmente com a campanha para que as pessoas votassem na disputa presidencial.

A bolha de Orlando reapareceu envelopada com o slogan "vote". Algo que lembra a campanha feita por jogadores da Democracia Corintiana no Brasil nos anos 1980, num gesto isolado liderado por caras diferentes da maioria, como Sócrates.

Além de mensagens para estimular o voto, não obrigatório nos EUA, as camisetas dos atletas passaram a estampar recados à sociedade, na maioria dos casos contra a violência policial sofrida pelos negros.

O estímulo ao voto tinha como lógica aumentar o colégio eleitoral, promovendo maior participação da sociedade na votação. O foco principal da campanha era o eleitor negro.

LeBron James, um dos líderes do movimento, é desafeto público de Donald Trump. Porém, a luta dos jogadores não pode ser descrita como um simples apoio a Joe Biden, candidato de pelo menos a maioria dos envolvidos.

A argumentação e a meta eram muito mais complexas. O movimento falou de conscientização cívica e brigar por seus direitos e por transformação social.

O esforço dos jogadores da NBA pode ser considerado um sucesso, já que o voto popular cresceu tanto que o vencedor do pleito, Biden, se tornou o candidato à presidência do país mais votado na história. O envolvimento dos gigantes do basquete não foi o único fator responsável por isso, mas certamente contribuiu.

Enquanto tudo isso acontece nos EUA, por aqui, a maioria dos jogadores olha para seu umbigo e afaga políticos sem demonstrar alcance em seus gestos que ultrapasse os limites de suas vidas privadas.

A união de suas grifes para lutar por mudanças significativas para a sociedade inexiste. Essa alienação já era constrangedora, agora, com o exemplo arremessado ao mundo pela NBA ficou pior. Com essa aula de militância, se nada mudar, só poderá ser por falta de interesse. Algo como "já mudei minha vida, os outros que lutem".