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Seleção brasileira já está com a cara do Dorival, mas é preciso ter calma

Vou fazer um perfil pessoal sobre o Dorival Jr, porque as pessoas não sabem, mas eu o conheço desde os meus 19 anos e os 20 anos dele. Eu sou de 1963 e ele de 1962. Em 1982, o enfrentei nos jogos Corinthians x Ferroviária pelo Campeonato Paulista. Na época, ele era o volante Júnior que jogava muito ao estilo do seu tio, o grande Dudu, que fez dupla com Ademir da Guia por anos no Palmeiras, sendo um ótimo marcador que se arriscava pouco ao ataque, mas que batia muito bem de fora da área.

Não foi um volante de muitos gols, mas aí vem o detalhe: organizava muito bem o meio de campo com viradas de jogo e sendo o suporte defensivo, mas também o ofensivo, porque quando um dos dois setores ficava apertado, o Júnior estava bem ali para receber o passe e reorganizar a jogada.

Sempre foi um cara discreto dentro e fora de campo, sem nunca ter sido um jogador violento, mas marcava muito forte. Como jogador, passou por diversos times, entre eles Guarani, Palmeiras, Coritiba, Grêmio, entre outros. Sempre com muita seriedade e sem ter entrado em nenhum problema sério de comportamento, já demonstrando ser o típico ex-jogador/treinador, aquele que todos já sabiam que seu futuro seria comandar uma equipe.

Em 2002, começou sua história como técnico de futebol onde começou a jogar e na cidade onde nasceu: a Ferroviária, de Araraquara. Daí em diante, foi desenhando seu estilo de treinador, mostrando-se muito ponderado e bom no convívio com os jogadores dos times em que trabalhou.

Tem diversos títulos em clubes diferentes: Figueirense, Sport, Coritiba, Vasco da Gama, Santos, Internacional, Athletico PR, Flamengo e São Paulo. Entre eles, três Copas do Brasil (Santos 2010/Flamengo 2022/São Paulo 2023), uma Copa Libertadores da América (Flamengo 2022) e uma Recopa Sul-Americana (Internacional 2011), ou seja, títulos importantes fora os estaduais e um Campeonato Brasileiro da Série B.

Nesse caminho, teve um problema sério de indisciplina e falta de respeito que passou no Santos em relação ao Neymar, que num primeiro momento agiu energicamente, como tinha que ser, mas na sequência foi demitido. Foi nesse episódio que o treinador Renê Simões fez a sua mais forte profecia em relação ao Neymar: "Estamos criando um monstro".

Daí em diante, se definiu como um treinador que tem a habilidade de colocar a casa em ordem, organizador de time e com facilidade para tratar de assuntos disciplinares. Fez isso no Flamengo e no São Paulo, dois times que estavam com problemas de relacionamento no elenco, e conseguiu resolver os problemas e ganhar títulos importantes com os dois.

Bom, já deveria ter sido convidado para ser o treinador da seleção brasileira na saída do Tite pela CBF. Aquele momento era delicado e o presidente Ednaldo Rodrigues dizia que estava tudo certo com Carlo Ancelotti, que chegaria em julho de 2024. Nesse momento, os erros de escolhas começaram a acontecer (Ramon Menezes e Fernando Diniz) e as consequências foram derrotas atrás de derrotas, fraco desempenho, 6º lugar nas eliminatórias (atrás da Venezuela) e uma equipe muito frágil taticamente e desorganizada.

Com a negativa definitiva de Carlo Ancelotti, recorreram ao cara que tinha que ser o primeiro a ser escolhido, Dorival Jr! Novamente, ele foi chamado para colocar mais uma casa em ordem, só que dessa vez a dificuldade e o risco eram muito maiores porque se tratava de reerguer, organizar, recuperar a autoestima e o respeito da nossa seleção brasileira.

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De cara, ele já teria dois amistosos de peso e riscos: Inglaterra em Wembley e Espanha no Santiago Bernabéu. No primeiro teste, já vimos um time totalmente diferente, para melhor é claro, daquilo que estávamos vendo. Um time com a cara de Dorival Jr, sendo muito organizado, compacto, com velocidade no contra-ataque, agressivo na marcação e com um futebol simples, errando muito pouco.

A princípio, foi incrível porque não víamos uma seleção brasileira tão organizada como essa há muito tempo. Mas temos que entender que, por enquanto, foi apenas um jogo amistoso e hoje (26) teremos o segundo jogo contra a Espanha. A minha expectativa é que façamos outro bom jogo, independentemente do resultado, porque quando se começa um processo de reorganização, o mais importante é recuperar o jogo, a organização tática, uma definição de esquema e o mais importante, o nosso respeito futebolístico no mundo. Não tinha outro treinador brasileiro com essa capacidade para colocar tudo em ordem como o Dorival Jr.

Podemos vencer a Espanha, mas o processo está só no início e o parâmetro começará quando jogarmos valendo pontos e classificação, como já acontecerá na Copa América do meio de ano nos Estados Unidos. Ali, a sua organização tática será colocada em prova e dali em diante já poderemos ter uma ideia da personalidade de seu time.

Não estou falando em vencer ou perder, mas sim de competitividade da equipe, se temos força para bater de frente com os rivais, porque as três últimas derrotas foram para os três sul-americanos mais difíceis e melhores nesse momento.

Eu tenho total confiança no trabalho do Dorival Jr, porque já mostrou diversas vezes ser muito competente para reerguer uma equipe.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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