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Seleção mostrou entrega, foco e espírito de luta em Wembley

Quase 24 horas depois da surpreendente vitória do Brasil sobre a Inglaterra por 1 a 0 em pleno Wembley a repercussão desse resultado na Europa só aumenta.

O Dorival Júnior é um ótimo organizador de time e isso ele mostrou nos seus dois últimos trabalhos em clubes — Flamengo, em 2022, e São Paulo, em 2023.

O que esses dois trabalhos têm em comum com esse início de seleção brasileira?

Dorival pegou Flamengo, São Paulo e seleção brasileira em situações parecidas.

Com péssimos resultados, jogando muito mal, desorganizados taticamente e com ambiente tumultuado.

Nos clubes, colocou tudo em ordem em pouco tempo e ganhou três títulos, somando os dois trabalhos (duas Copas do Brasil e uma Libertadores).

Assumiu o comando da seleção brasileira na sequência de dois péssimos trabalhos.

Ramon Menezes foi um erro grave. Ele não tinha nenhum grande trabalho que avaliasse a sua chegada à seleção brasileira principal. Tinha apenas no currículo o título do torneio Sul-Americano sub-20 e logo sucumbiu à exigência de resultados e rendimento.

Depois chegou Fernando Diniz, que apresentou um estilo de jogo diferente do tradicional no futebol local.

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Os resultados e o rendimento continuaram ruins, mas o que assustou a todos foi a péssima colocação nas Eliminatórias à Copa de 2026. A sua queda foi por motivos diferentes à de Ramon.

Fernando Diniz precisa treinar seus jogadores todos os dias intensamente para o mecanismo ter funcionamento, e na seleção esse tempo não existe. Claro, ele tem méritos por ter sido campeão da América pelo Fluminense no fim de 2023.

Antes de tudo, quando Tite deixou o comando da seleção — algo que a CBF já sabia há tempos —, o novo treinador deveria ter sido o Abel Ferreira, na minha opinião. Entre os brasileiros, no entanto, Dorival era aquele que havia feito um grande trabalho no Flamengo em 2022.

Era quase unânime que seria ele o cara certo para ser o interino até a possível chegada de Carlo Ancelotti.

Bom, finalmente ele chegou e conseguiu em pouco tempo organizar taticamente um time que estava perdido.

Não podemos esquecer que foi um amistoso, mas temos que valorizar o modo como a seleção jogou. Neste momento o mais importante foi esse resultado muito significativo.

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Não podemos dizer que a seleção brasileira fez um grande jogo tecnicamente. Foi bem, mas não foi espetacular. O que me encheu mesmo os olhos foi a determinação e o comprometimento que eu já não via há muito tempo, visto que nos últimos anos o Brasil deixou de chegar a finais ou de ser campeão de algo, principalmente pela falta de foco.

Um dos grandes problemas que estamos enfrentando no nosso futebol é a falta de autoestima e vencer a Inglaterra em Wembley mexeu com todos que amam o futebol.

Não pela importância, mas pelo significado para uma seleção e um povo torcedor que não estava acostumado a passar vexame, assim como estávamos passando.

Não estou mencionando a Copa do Mundo, pois aí o cenário continua muito ruim até chegar o Mundial de 2026. Mas estou me referindo às derrotas que vínhamos sofrendo.

Como imaginar que uma equipe que empata com a Venezuela em casa, perde para três seleções africanas nos últimos quatro jogos, ocupa apenas o sexto lugar nas Eliminatória e havia sofrido três derrotas consecutivas (Uruguai, Colômbia e Argentina) pudesse chegar em Wembley e jogar de igual para igual contra a forte Inglaterra?

Muitos tentam desqualificar essa vitória dizendo que os ingleses estavam desfalcamos, mas não falam que o Brasil também estava.

Gente, não foi uma final de Copa do Mundo e não fomos campeões de nada, foi apenas um amistoso importante para a recuperação moral e futebolística da seleção brasileira.

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O nosso cenário continua o mesmo e os jogadores precisam focar em tentar embalar. Não só pelos resultados, mas pelo rendimento. Por enquanto, foi apenas um grande jogo que serve para criar expectativas, e não virar a chave e dizer que já temos uma grande seleção. Calma, foi apenas uma partida.

Espero que contra a Espanha, terça-feira (26), a seleção de Dorival dê continuidade nesse princípio de evolução. Mesmo que não tenha uma boa atuação e que o resultado positivo não venha no Santiago Bernabéu, esse jogo em Wembley colocou uma sementinha nas nossas esperanças, mostrando que podemos formar um bom time.

O mais importante foi ver o comprometimento, entrega, espírito de luta, coragem dos jogadores em bater de frente contra uma equipe mais pronta que a nossa.

A falta de foco era a minha maior crítica nesses últimos anos, porque uma coisa liga a outra.

Sem foco é impossível vencer e jogar bem.

Sem comprometimento é impossível voltar a ser campeão de algo.

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Sem entrega e espírito de luta é impossível honrar uma camisa importante como a nossa.

O que eu mais espero do Dorival Jr e seus convocados daqui para frente é isso.

Quero jogadores que honrem de verdade a camisa amarela pentacampeã do mundo e que se crie novamente uma identidade com o torcedor brasileiro.

Já falei e escrevi várias vezes e vou repetir.

Acredito que os novos garotos sejam os caras que conseguirão criar essa nova relação com os brasileiros.

Endrick é a grande referência para os garotos que estão começando a jogar futebol pela pouca idade, deixando tudo mais próximo até porque joga no Palmeiras e já foi protagonista na conquista do Brasileirão do ano passado.

O torcedor até julho terá esse jovem jogador por aqui e isso cria uma identificação.

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Eu sei que é difícil para essa geração de torcedores que pegaram os grandes jogadores já na Europa de entender essa identificação.

Mas em outros tempos os grandes craques jogavam aqui. Tínhamos os ídolos nos nossos campos, mas agora o cenário é outro e os jogadores precisam se esforçar para criar essa identificação, mesmo a distância. O único modo de conseguirem isso é ter comprometimento e foco como tiveram contra a Inglaterra.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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