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Descriminalizar é importante para a sociedade, mas a maconha não é inocente

Está a maior polêmica nessa votação sobre a descriminalização da maconha, ou seja, diferenciar o traficante do usuário.

A discussão é sobre liberar a porta de uma pequena quantidade de maconha para uso pessoal.

Até o momento, a votação no STF é de 5 a 1 a favor da descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Mas o ministro André Mendonça pediu vista e a continuidade do pleito foi adiada.

Bom, eu sou dependente químico, fiquei internado por um ano numa clínica de reabilitação psiquiátrica por compulsão de uso de drogas.

É muito difícil você dizer que a dependência é por causa de uma determinada substância, visto que a maioria dos dependentes usa todas as que aparecem.

Eu acho importante separar o usuário do traficante, porque um é criminoso (traficante) e o outro é um usuário ou dependente.

Pelo lado da criminologia é super importante saber quem é quem, pois a polícia não deveria prender um cara que não tem antecedentes criminais para portar uma quantidade mínima de maconha para seu próprio uso.

Não poderia bater, xingar, agir de forma racista ou homofóbica por porta limitada para uso pessoal.

Descriminalizar e preparar melhor os policiais são ações que evitam abordagens preconceituosas. Mas claro que não evitariam que alguns policiais "plantem" um flagrante quando têm a intenção de prejudicar alguém. Eu sei o que estou falando, pois isso aconteceu comigo.

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Não sei se essa discussão é tão importante assim no momento que estamos passando. Ao meu ver, existem muitas outras coisas mais importantes para debater em nossa sociedade. Porém, não estou dizendo que isso não seja importante para se discutir.

A maconha não é inocente. Vejo muitas pessoas dando opiniões sobre descriminalizar ou não, sem ter um conhecimento profissional ou de experiência própria para poder ajudar com sua posição. Antes de publicar este texto, conversei e mostrei para a psiquiatra Dra. Fernanda Gonçalves Moreira, que é professora adjunta da EPM/Unifesp.

"O tratamento que hoje em dia existe com uma droga que até tem efeito alucinógeno para depressão é a ketamina (ou cetamina). O ácido lisérgico foi usado em experimento na década de 1970, mas hoje em dia desconheço pesquisas a respeito. Ayahuasca e peyote são usadas em propostas alternativas para o tratamento de dependência química, mas são iniciativas isoladas", disse a Dra. Fernanda.

Durante minha internação de um ano, conheci centenas de pessoas em momentos diferentes. Mesmo depois de passar pelo tratamento ambulatorial, ocorreu um surto psicótico devido ao uso de maconha.

É isso mesmo!!!

Alguns nem foram por excesso e nem por longo tempo de consumo.

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Todas as drogas são perigosas para o lado psíquico do ser humano. Isso não se discute, porque é científico.

Beleza, já faz um tempo que tem tratamento para dependência com uso de ácido lisérgico, que é alucinógeno. Porém, é feito por médicos especializados neste método e com todos os cuidados possíveis.

O alucinógeno, como é o caso da maconha, mexe muito com a realidade e a irrealidade e faz o usuário andar na linha do limite, entre ter um surto psicótico ou não.

Não estudei nada disto mas fui atrás do conhecimento para me entender e não usar nada mais. Não é fácil largar qualquer tipo de dependência. Comida, jogo, compras, álcool, chocolate, maconha, cigarro, cocaína, heroína, crack e todas as demais drogas.

Psiquiatras e psicólogos especializados em dependência química deveriam participar do debate antes do voto do STF sobre a descriminalização de qualquer droga. O uso de drogas faz parte da saúde mental de uma sociedade, e não apenas da criminalidade do tráfico.

Essa discussão é mais ampla.

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Sou um favor de separar o usuário de maconha do traficante, assim como a polícia precisa ser melhor treinada e também ter conhecimento sobre dependência. Mas a maconha não é inocente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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