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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Da abertura a fan fest, a Copa do Mundo no Qatar é um clube do Bolinha

Colunista do UOL

20/11/2022 12h41

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Está começando a festa na casa do Bolinha, onde os homens podem tudo e as mulheres não podem nada. Foi assim que a abertura da Fan Fest da Copa do Qatar, realizada pela Fifa, foi descrita pelo jornalista Diego Garcia, aqui no UOL.

A grande festa de confraternização acontece em todas as Copas do Mundo. É onde muitas pessoas se encontram depois de quatro anos, outras se conhecem, e que todos se divertem com total liberdade, sem preconceito, e todos com direitos iguais.

Independentemente de cor, raça, gênero, classe social, profissão... porque a Copa sempre foi um evento de futebol com total inclusão, em que todos os cidadãos e cidadãs do mundo podem torcer para os seus países e, ao mesmo tempo, se divertem sem ter a preocupação com julgamentos.

Mas, no Qatar, todas as pessoas que estão no país serão julgadas assim que saírem nas ruas, principalmente as mulheres turistas e a comunidade gay.

Será que poderei usar as minhas camisas rosas? Será que uma mulher com todo o calor local terá que sair nas ruas toda coberta? Será que se eu encontrar uma amiga poderei abraçá-la e beijá-la?

Essa é a minha sexta Copa seguida como comentarista e colunista. Conheço jornalistas do mundo todo, e muitos só encontro em época de Copa.

Estou indo para o Qatar trabalhar, mas também para viver o clima, a atmosfera, e sentir toda a energia que uma Copa do mundo oferece.

E enquanto a cerimônia de abertura da Copa rola, eu penso: será que os torcedores poderão comemorar livremente a vitória das suas seleções? E quando o Qatar for eliminado e o interesse do país pelo jogo terminar?

Não se iludam com a beleza da cerimônia, porque a mulher foi uma figura insignificante no show. Para mim, foi o espetáculo que representa todo o machismo desse país.

Nas imagens da história do Qatar com as pessoas jogando futebol, não aparecia uma mulher. No discurso do emir com a imagem aberta da TV atrás dele, só homens (embora fotos mostrem algumas poucas mulheres ao fundo). No corpo de balé do cantor sul-coreano, só homens.

Não teve nada de inclusão nessa abertura. Foi uma cerimônia para causar uma ilusão de ótica para quem estava no estádio e também para quem assistiu pela TV.

As imagens do estádio deixaram muito claro que as poucas mulheres estão apenas nas torcidas das seleções visitantes. Sem dúvida alguma, essa Copa não tem espaço para as mulheres locais.

Eu nunca imaginei estar numa Copa do Mundo onde a discriminação de gênero será legítima. Com a Copa no Qatar, a sociedade mundial deu diversos passos para trás na conquista do respeito e da inclusão de gênero.

Algumas pessoas dizem assim: "Vamos ficar só na competição, nos jogos". Mas não podemos varrer para baixo do tapete ou fingir que está tudo legal, porque é exatamente isso que os donos do Qatar querem. É isso que os preconceituosos e os machistas querem.

Sim, é verdade, também teremos jogos de futebol de muito interesse mundial, mas devemos fazer as duas coisas. Curtir e comentar os jogos, ao mesmo tempo que devemos relatar toda essa falta de respeito com os direitos humanos.

Seremos testemunha de um tipo de comportamento social completamente fora de propósito, e muito longe do que a maioria dos países do mundo quer e luta contra.

Mas, de qualquer maneira, teremos o Mundial. Com grandes jogadores e também ausências muito sentidas para o espetáculo.

Apesar de torcedores de todos os gêneros, essa Copa será marcada pelo preconceito.

Futebol é coisa de homem. Essa é a frase mais machista que existe no esporte, que as mulheres já atropelaram faz tempo. Mas é o grande slogan da Copa do Qatar.