Topo

Nilton conquista a torcida com estilo durão

Luiz Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

14/11/2013 06h10

O ator Eduardo Moscovis fez muito sucesso no ano 2000 fazendo o papel de Julião Petrucchio, na novela "O cravo e a rosa", ambientada nos anos 20 do século passado. O personagem, muito estereotipado, era machista, caipira e abrutalhado. Tentava conquistar Catarina Batista (Adriana Esteves), uma mulher feminista e moderna.

“O Nilton era como o Petrucchio. Um cara muito simples, simplório mesmo, mas de coração muito grande”, lembra um amigo que conviveu com o volante quando jogava no Corinthians em 2008.

Não era um apelido porque Nilton nunca soube dele, talvez por uma outra característica sua. “É o jogador mais forte e mais bruto que já vi. Ele não tinha noção da sua força e não sabia como se controlar. Houve um treino em que acertou uma cabeçada na testa do William, nosso zagueiro. E teve um jogo contra o Criciúma em que quebrou a perna de um jogador deles, sem nenhuma maldade, apenas na dividida”, lembra o mesmo colega.

Na Libertadores de 2011, Nilton estava no Vasco e o Corinthians teve contra si a força bruta que sempre teve a seu favor. “O Nilton tinha melhorado muito tecnicamente, estava mais maduro e era o melhor jogador do Vasco, o único que preocupava a gente”, continua contando o colega, incógnito.

Com pouco tempo de Cruzeiro, Nilton comemorou, pelo twitter, a contratação de Dedé, ex-companheiro de Vasco. “O Mito é nosso”, escreveu. Hoje, não é exagero dizer que Nilton tem o mesmo respeito que a torcida da Raposa sente por Dedé.

E ele se sente muito bem em Minas. “Ainda não aprendi a falar uai, mas meu estilo está bem mineiro”, declarou ao jornal Hoje em Dia, o volante de 26 anos e 1,85m, nascido em Barra do Garças, em Mato Grosso. “É a melhor temporada da minha carreira”, afirmou. Ele foi campeão brasileiro em 2005, pelo Corinthians.

Nilton começou como centroavante e depois passou a ser volante. No Corinthians, estreou contra o Botafogo, no Rio, como zagueiro. Fez um gol contra logo no início, mas no segundo tempo, empatou o jogo com um chute de fora da área.

É uma de suas características. Neste Campeonato Brasileiro, fez sete dos oito gols que tem pelo Cruzeiro. No Vasco, marcou 13 e no Corinthians, quatro. “Estou falando para o pessoal não acostumar com meus gols, porque não é para isso que estou em campo, mas estou feliz com tantos que fiz”.

Mesmo em uma temporada de tanto êxito como a de 2013, o estilo “Petrucchio” também apareceu. Após a vitória por 5 a 0 contra o Atlético-GO, Nilton começou a discutir com o meia Róbston. Foi chamado por um repórter que lhe perguntou qual o motivo da discussão. “Ele fica provocando, mas não ligo”, disse, antes de emendar um xingamento ao vivo. A frase virou sucesso nas redes sociais e Nilton se desculpou com a torcida. Nem precisava. Já estava ganhando seu espaço no coração dos cruzeirenses.

Na base da brincadeira, ele deixou claro a Julio Baptista, que chegou na fase final do campeonato, vindo do Málaga, que não abriria mão do número 19 às costas. “Sei que você também gosta do 19, mas se você é forte eu também sou e vamos brigar por ele”, disse, mostrando uma novíssima tatuagem no antebraço direito, com o numero 19. Julio Baptista está com a 10.

Mesmo com tanta força, Nilton deixa claro que, em casa, quem manda é Karin, com quem se casou há cinco anos. Ela é formada em Educação Física e queria trabalhar com arbitragem. Nílton não deixou. Preferiu que ela ficasse em casa e ganhou uma técnica ainda mais rígida que Marcelo Oliveira. 

“Cobro muito. Quando vejo que ele está lento dentro de campo, cobro posicionamento, cobro quando não vai para dentro da área. Ele fala que é porque estava cansado, porque a vista estava escura. Não me importa se sua vista estava laranja, amarela ou marrom, tem que se doar ou pedir para sair”, disse Karin ao blog Salto Alto.

Exigir do marido, tudo bem, mas pedir que ele faça como Messi? “O Messi fez uma cobrança de falta absolutamente perfeita em um jogo, sem o goleiro se mexer. Falei com o Nilton gritando, que ele poderia ter feito um gol e ele não fez. Contra o América de Teófilo Otoni, ele bateu uma falta na barreira. Disse que não é para bater na barreira”, contou.

Nilton tentou argumentar. ”Eu falo para ela, o Messi bate colocado, eu bato com força. Mas ela fala para eu dar um jeito e conseguir bater bem”, comenta o jogador, que também recebe “conselhos” para os treinos. “Falo para ele ficar um pouco mais no treino, porque assim ele vai poder se diferenciar, crescer no futebol. É o que falo com ele. Não é para ser chata, é para ele saber como tem de ser”, diz Karin.

Ela também tomou conta do twitter de Nilton, que tem hoje cerca de 20 mil seguidores. Hoje, o utiliza mais do que o próprio jogador.

Parece claro que nosso Petrucchio, por mais forte que seja, por mais reconhecido que seja, por mais títulos que tenha, encontrou mesmo sua Catarina Batista.

E é muito feliz com ela e com Geovanna, de 1 ano e 9 meses, filha do casal.