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Lito Cavalcanti

Quanto vale Hamilton? Só a Mercedes pode responder

Lucas Lima/UOL
Imagem: Lucas Lima/UOL

27/01/2020 13h03

Quanto vale Hamilton? Só a Mercedes pode responder

O que parecia apenas uma formalidade entre Lewis Hamilton e a equipe Mercedes ganhou um certo grau de dificuldade nas últimas semanas. Ciente de que o contrato que assinará para 2021 será o último de sua carreira, o hexacampeão inglês fez uma pedida bem acima do que se esperava: um contrato de quatro anos com salários anuais de 55 milhões de euros, 13 a mais do que ganhou em seu último compromisso.

Trazida a público pelo jornal espanhol Marca, a pretensão de Hamilton abalou a equipe alemã — principalmente pelo momento escolhido por seu principal piloto. Mesmo reconhecido unanimemente como o melhor volante da Fórmula 1, o inglês já tem 35 anos. Mesmo em formas física e mental impecáveis, nada garante que ele se manterá neste mesmo patamar por muito tempo. Por isso, esta é para ele a hora de prolongar ao máximo a duração do vínculo.

No jogo de avanços e recuos típicos das negociações entre a melhor equipe e o melhor profissional, Hamilton tem a seu favor a recente extensão dos contratos de seus maiores rivais. Max Verstappen está preso à Red Bull até 2023, Charles Leclerc à Ferrari até 2024. Não há no horizonte nenhum outro piloto à altura de Hamilton, e a Mercedes sabe disso.

Mesmo tendo conquistado todos os campeonatos de construtores e de pilotos desde a introdução dos motores híbridos, em 2014, a Mercedes não pode ignorar a crescente ameaça de suas principais rivais, a Red Bull-Honda e a Ferrari. Ela tem a clara noção de que nem todas suas vitórias ocorreram por sua superioridade na pista - muitas se deram por erros estratégicos da equipe italiana e por deficiência de potência dos motores japoneses que impulsionam os carros austríacos.

Sabe também que alguns de seus melhores resultados, como a espetacular vitória no Grande Prêmio da Hungria, não teriam acontecido se não fosse pela enorme capacidade de Hamilton de fazer as 15 ou 16 voltas finais em um ritmo a que nenhum outro piloto chegou nem mesmo nas provas de classificação. Sabe também que a aposta em seu outro piloto, o finlandês Valtteri Bottas, é um tiro no escuro.

Isso tudo aumenta significativamente a cotação de Hamilton na bolsa dos pilotos. Principalmente se considerando que em 2021 a Fórmula 1 terá novos carros — e a vantagem de potência de que a Mercedes desfrutou desde 2014 vem-se diluindo ano a ano, a ponto de seu motor já não ser mais visto como o melhor do grid atual. O da Ferrari é, pelo menos, tão bom quanto, e o da Honda e o da Renault se aproximam a passos largos.

Com novos chassis, aerodinâmica e a troca dos conhecidíssimos pneus de aro 13 pelos de aro 18, 2021 é um enorme ponto de interrogação para todas as equipes. A única certeza é que essa será uma ótima oportunidade para o competentíssimo engenheiro da Red Bull, o inglês Adrian Newey, tirar da cartola mais um carro à altura dos que deram a Sebastian Vettel quatro títulos mundiais de 2010 a 2013.

Sabe-se que vitórias e títulos na Fórmula 1 dependem mais dos carros do que dos pilotos. Mas também se sabe que, para tornar um carro competitivo, os engenheiros precisam das informações e avaliações dos pilotos. Sem esse direcionamento, existe a possibilidade de serem priorizados setores menos importantes e de se tomarem decisões erradas.

Aí reside o dilema da Mercedes, e parece só lhe restar a opção de rejeitar a pretensão de Hamilton, que é inegavelmente seu principal patrimônio, e se retirar da Fórmula 1 como a maior dominadora da categoria em toda sua história e se limitar ao papel de fornecedora de motores.

Ou isso ou convencer o hexacampeão a repensar sua pedida. Segundo o respeitado jornalista inglês Christian Sylt, especialista em finanças do automobilismo, Hamilton amealhou nada menos de 443,368 milhões de euros em seus 13 anos na Fórmula 1. Mas não parece ser o dinheiro em si o que o move, o que o hexacampeão tem como objetivo é o reconhecimento de que ele vale mais do que tudo nas pistas do mundo que habita.

Pesadelo em Maranello

Mal começou o ano e a Ferrari já parece de volta ao purgatório. Notícias vindas de dentro de Scuderia Rossa revelam um certo grau de preocupação por parte dos engenheiros após os primeiros testes no túnel de vento. Segundo fontes que merecem atenção, a pressão aerodinâmica revelada ficou abaixo do que se planejava, o que traz de volta o fantasma dos problemas do ano passado.

Sim, nada está perdido e muito menos confirmado, principalmente porque o novo carro ainda não cobriu um metro sequer de pista e ainda há um bom tempo até 19 de fevereiro, o primeiro dos seis dias da pré-temporada. Mas como a precisão dos resultados obtidos no túnel da Ferrari nunca esteve em dúvida, o temor de um novo insucesso se justifica. Principalmente porque os números do túnel foram corroborados pelos evoluidíssimos aplicativos de fluidodinâmica que os complementam.

Nada poderia ser pior para a Scuderia Rossa. Isso porque a decisão coletiva das equipes de manter os pneus de 2019 trouxe a chance rara de trabalhar pelo segundo ano consecutivo com compostos e construções já conhecidos. Tudo que resta é melhorar o que se mostrou insuficiente no ano passado.

O problema que mais se sobressaiu na última temporada foi a pouca pressão aerodinâmica, insuficiente para extrair todo o potencial dos pneus. Essa foi a principal causa das dificuldades da Ferrari em 2019, um ano que a Scuderia encerrou com apenas três vitórias em 21 corridas.

Uma eventual repetição seria um desastre insuportável para aquela que é a maior equipe da Fórmula 1. Pelo menos historicamente.