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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Sem suas grandes estrelas, Hawks e Bucks se preparam para o imprevisível

Lou Williams, do Atlanta Hawks, reage durante jogo contra o Milwaukee Bucks nos playoffs da NBA - Kevin C. Cox/Getty Images/AFP
Lou Williams, do Atlanta Hawks, reage durante jogo contra o Milwaukee Bucks nos playoffs da NBA Imagem: Kevin C. Cox/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL

01/07/2021 04h00

LeBron James. Anthony Davis. Joel Embiid. Russell Westbrook. Jaylen Brown. Luka Doncic. Kyrie Irving. James Harden. Chris Paul. Jamal Murray. Kawhi Leonard. Mike Conley. Donovan Mitchell. Kemba Walker.

Esses são apenas alguns dos jogadores de maior importância que, nessa pós-temporada, chegaram a perder jogos por lesões ou então jogaram no sacrifício em meio à temporada com mais lesões da história recente da NBA. E, depois do Jogo 4 entre Bucks e Hawks, podemos adicionar mais dois nomes a essa lista, o de dois dos maiores protagonistas desses playoffs até aqui: Trae Young, que perdeu o Jogo 4 depois de torcer o pé no fim do Jogo 3, e Giannis Antetokounmpo, que saiu e não voltou no Jogo 4 com uma lesão feia no joelho.

As lesões de Trae e Giannis foram um soco no estômago de qualquer um que acompanha a NBA, e ainda mais essa série particularmente divertida: Trae Young vinha tendo uma fantástica pós-temporada e se apresentando ao mundo como estrela do basquete, enquanto Giannis estava em meio aos melhores playoffs da sua carreira e com uma chance de ouro de finalmente chegar a - e, quem sabe, ganhar - uma Final de NBA. Em uma pós-temporada já amplamente marcada e por vezes até decidida com base em lesões cada vez mais graves, tudo que a gente não precisava era ver dois dos mais empolgantes atletas ainda disputando o título machucados; agora, três dos quatro times disputando as finais de conferência estão sem seu melhor jogador, e mais uma vez as contusões assumem papel central nas narrativas.

As informações oficiais sobre a situação de Trae e Giannis ainda são escassas. Trae parece ser quem estaria mais perto de uma possível volta, já que foi declarado "apenas" como "questionável" antes do Jogo 4 e foi descartado minutos antes da partida, mas mesmo sua situação não parece promissora: Trae foi diagnosticado com uma contusão no osso do pé, e se ele não pode jogar no Jogo 4 por causa das dores, dificuldade de movimentação e perigo de piora relacionados à contusão, é difícil de imaginar que sua situação vá melhorar com tão pouco tempo de descanso, ainda mais se tratando de uma contusão óssea. Mesmo que Trae consiga voltar às quadras, é muito difícil de imaginar que ele consiga jogar perto de 100% - embora, naturalmente, torço para estar errado.

Do lado de Giannis, ainda estamos esperando os resultados dos raio-x e da ressonância, mas as primeiras impressões não são boas. A informação oficial disponível é de que se trata de uma hiperextensão do joelho, mas mesmo que Giannis tenha evitado o pior cenário de lesão ligamentar, a expectativa nesses tipos de lesões é de que o jogador em questão perca pelo menos certo de duas a três semanas, o que seria suficiente para tirar o grego do resto da série e da maior parte - se não por completo - das Finais da NBA, caso os Bucks consigam avançar.

Em outras palavras, é bastante possível (se não provável) que o resto dessa série - atualmente empatada em 2-2 - seja jogado sem seus dois melhores e mais importantes jogadores. E se for o caso, bem, boa sorte tentando entender o que vai acontecer daqui para frente: como os times vão jogar, quem substitui Giannis, que equipe tem a vantagem, e por aí vai. Mais do que em nenhum outro momento, e salvo algo inesperado acontecendo, essa série parece mais 50-50 e imprevisível do que em qualquer ponto antes.

No papel, você pode argumentar que os Bucks levam uma certa vantagem com Trae e Giannis fora em questões de talento; Milwaukee ainda tem dois jogadores de nível All Stars no seu elenco em Holiday e Middleton, enquanto os Hawks não tem nenhum outro jogador que tenha chegado perto dessa distinção - tirando talvez John Collins. A NBA é uma liga controlada pelas suas estrelas, e embora Middleton e Holiday não cheguem perto de Giannis nesse sentido, em teoria são os dois melhores jogadores que sobraram na série, e sua capacidade de dominar o jogo pode ser fundamental para os jogos finais.

Mas, por outro lado, eu acho que Atlanta vai ter um trabalho mais fácil jogando sem Trae Young do que os Bucks sem Giannis. Embora Lou Williams - que substituiu Trae no Jogo 4 - obviamente não seja nem de longe tão bom quanto Trae, seu estilo e características são semelhantes o suficiente para que Atlanta não precise fazer grandes mudanças na sua forma de jogar. Nós vimos isso em grande medida no Jogo 4, uma partida que os Hawks já lideravam por 10 pontos mesmo antes da lesão de Giannis e, honestamente, foram quase perfeitos dos dois lados da quadra: Atlanta ainda usou o pick-and-roll com Lou para iniciar os ataques, mas a partir desse ponto fizeram um esforço muito maior em rodar a bola, procurar jogadores livres e dar chances para os coadjuvantes embalarem na partida, algo que tem sofrido muito para fazer com Trae Young monopolizando tanto a bola.

E isso não é uma crítica a Trae ou uma sugestão de que os Hawks são melhores sem ele, mas ter um jogador que controla tanto a bola - especialmente com os Bucks focando em tirar as assistências de Trae - pode muitas vezes tornar difícil para que pontuadores secundários tenham boas chances e desenvolvam um ritmo ao longo da partida. Sem sua estrela, o elenco mais profundo e variado dos Hawks brilhou com esse foco mais coletivo, de movimentação de bola, procurando cestas fáceis e sabendo atacar muito bem a defesa dos Bucks - e parte importante disso veio do fato de que ainda estavam jogando dentro de um esquema familiar e confortável. Essa situação lembra um pouco os Nets quando perderam James Harden no Jogo 1 das semifinais contra esses mesmos Bucks, que por dois jogos pareceram jogar ainda melhor sem Harden focando em um jogo mais coletivo e variado que atrapalhou a defesa dos Bucks. No entanto, conforme a série avançou e os Bucks foram se adaptando e tirando os espaços coletivos, Brooklyn começou a sentir mais a falta do talento individual de Harden - o que também pode acontecer com Atlanta. A falta de Trae torna o ataque mais variado e difícil de defender, mas também menos letal.

Atlanta também, não coincidentemente, teve sua melhor partida defensiva na série sem Trae Young. Apesar de Lou também ser um defensor fraco, Atlanta estava visivelmente menos preocupado em cobrir ele na defesa do que estava com Trae, e pode se focar em ser mais agressivo e atacar mais os jogadores de Milwaukee para tirar seu ataque da zona de conforto, com mais rotações, trocas e até algumas dobras que não tinha visto tanto nos outros jogos. Milwaukee sem dúvida ajudou nesse sentido com um ataque extremamente pouco inspirado, mas foi de longe o melhor que eu vi de Atlanta desse lado da quadra.

Mas os Bucks não tem essa vantagem de poder continuar jogando da mesma forma; ninguém pode substituir Giannis em estilo, e ele é o pilar de tudo que o time faz dos dois lados da quadra. Parte do motivo do ataque dos Bucks ter sido tão bom nessa série veio do fato de que ninguém em Atlanta consegue marcá-lo, e a pressão que isso coloca no aro força todo tipo de colapso ou cestas fáceis da defesa dos Hawks - sem ele, o time vai precisar encontrar uma forma totalmente nova de criar essas boas chances. A entrada de Connaughton ou Portis no lugar de Giannis vai ajudar a espaçar a quadra e abrir mais espaços para a infiltração de Holiday ou Middleton, mas agora a pressão está nesses dois para conseguir manter o ataque vivo dentro do garrafão e forçar a defesa dos Hawks a entrar em colapso.

E isso passa por outro problema que eu citei na coluna passada, que é a inconsistência. Quando suas três estrelas estão jogando bem juntas, os Bucks são quase invencíveis, mas isso raramente acontece: Milwaukee em geral tem que se virar com dois deles em bom dia, e sem Giannis a pressão sobre Middleton e Holiday para carregar o time ofensivamente fica muito grande - algo que não sei se conseguem fazer consistentemente. E eu estaria mentindo se a péssima atuação dos Bucks antes da lesão no Jogo 4 não tivesse me incomodado também; não é bem que os Bucks entraram de salto alto, mas foi um nível preocupante de desatenção, comodismo e um time que simplesmente não parecia saber como enfrentar os Hawks jogando de forma ligeiramente diferente do normal. E, para um time famoso pela aversão a mudanças e ajustes, realmente preocupa como a equipe irá lidar com um ambiente de pressão, precisando se reinventar em tempo real sem seu melhor jogador.

As lesões mudaram por completo a dinâmica da série, que agora passa a ser uma Melhor de 3 com times totalmente diferentes. Curioso pelo que vem a seguir? Com certeza. Empolgado para isso? Depois do Jogo 4, não muito.