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Tales Torraga

REPORTAGEM

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O contrário de agora: Brasil adiou Copa América por gripe espanhola em 1918

 Conmebol anuncia Brasil como sede da Copa América 2021 - Reprodução/Flickr
Conmebol anuncia Brasil como sede da Copa América 2021 Imagem: Reprodução/Flickr

Colunista do UOL

31/05/2021 12h41Atualizada em 31/05/2021 12h54

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Era 1918. Sede do Sul-Americano (a hoje Copa América), o Brasil adiou a competição por conta da pandemia da "gripe espanhola", que desembarcou no país com os navios que partiram da Europa ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O cenário é oposto ao atual. A Conmebol anunciou, na manhã de hoje, que a Copa América será realizada no Brasil, país que tem mais de 462 mil mortes por covid-19 e que ocupa o 2° lugar no mundo com mais óbitos em decorrência da doença.

O comunicado surge horas depois de a entidade suspender a Argentina como sede do evento justamente por conta da pandemia da covid-19.

Paralisação geral

Naquele 1918, o futebol parou no Brasil. O Campeonato Paulista, por exemplo, ficou paralisado por mais de dois meses e só foi encerrado em 1919, com o cancelamento de partidas que não influenciavam no título. Clubes abriram espaço para montagem de hospitais provisórios.

No Rio, além do torneio local, havia a preparação para o Campeonato Sul-Americano, cuja arquibancada no estádio das Laranjeiras estava sendo feita para a competição que acabou sendo transferida para o ano seguinte. O Campeonato Carioca ficou paralisado de 13 de outubro a 8 de dezembro.

"Foi uma tragédia, amigos, uma tragédia. Houve na cidade uma enchente de caixões. Pergunto: 'Quem não morreu na espanhola?'", definiu o escritor Nelson Rodrigues em 1961.

Nascimento da "pátria de chuteiras"

A realização do Sul-Americano de 1919 no Rio de Janeiro e vencido pelo Brasil é descrita como o marco zero na tentativa de unir a população em torno da seleção - muito por um afago que minimizasse os danos do aterrador 1918.

A então Copa América foi disputada entre os dias 11 e 29 de maio daquele ano e terminou no estádio das Laranjeiras, com uma dramática vitória do Brasil sobre o Uruguai por 1 a 0, gol de Friedenreich, depois de duas prorrogações.

Há até um livro escrito sobre o evento: "Sul-Americano de 1919 - Quando o Brasil Descobriu o Futebol", de Roberto Sander. Na obra, é analisada a influência dos jornais cariocas ao divulgar, com exageros, cada passo do "escrete nacional" rumo ao seu primeiro título na competição.

Raridade histórica

Além de toda a questão sanitária que envolve a realização da Copa América, a decisão da Conmebol surpreende também ao se contextualizar a história da competição. Sede da Copa América em 2019, o Brasil vai realizar o torneio continental pela segunda vez consecutiva, o que não ocorria desde 1924, quando o Uruguai recebeu a competição (então anual) duas vezes seguidas. De lá para cá, a Copa América chegou até a abrir mão da sede fixa (nas edições de 1979 e 1983), mas jamais repetiu o país-sede.

Criada em 1916, a Copa América de 2021 será a 47ª da história, a sexta realizada no Brasil. Além das edições de 2019 e 2021, o país recebeu a competição também em 1919, 1922, 1949 e 1989.