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Derrota de Monteiro encerrou Masters memorável para o Brasil

É bastante possível que daqui a uma ou mais décadas este Masters 1000 de Madri de 2024 seja lembrado com especial destaque pelos fãs de tênis brasileiros. Não, não se trata de exagerar, afinal nenhum tenista do país passou da terceira rodada. Não estamos falando de Gustavo Kuerten numa batalha de cinco sets contra Marat Safin nem de Thomaz Bellucci ameaçando encerrar uma série de vitórias de Novak Djokovic. Nem tanto. Há, porém, alguns elementos que fizeram este torneio um tanto peculiar. Por isso, quando Thiago Monteiro foi eliminado nesta segunda feira pelo tcheco Jiri Lehecka, terminou também um evento um tanto memorável para o Brasil.

Um Bravo Monteiro

Um deles foi a brilhante vitória de Thiago Monteiro sobre Stefanos Tsitsipas, número 6 do mundo. Nem tanto pelo ranking - que também tem seu peso, evidentemente - mas por uma soma de fatores: 1) o grego vinha de um título em Monte Carlo e um vice em Barcelona. No saibro, reencontrou seu melhor tênis e era candidato a ir longe também em Madri; 2) Tsitsipas ofereceu resistência. Ficou no jogo, tentou encontrar soluções (o que não é seu forte) e lutou até o último game; e 3) a grande atuação de Thiago, que encaixou 89% de seus primeiros serviços, usou bem forehand cruzado e foi agressivo a maior parte do tempo, sem esperar por erros do adversário. Levando tudo isso em conta, trata-se de uma vitória muito mais relevante do que aquela contra um desanimado Tsonga no Rio Open ou até mesmo a sobre Rune, na Copa Davis, na casa do dinamarquês, que esteve muito abaixo de seu melhor nível.

Alcançar a terceira rodada em um Masters, especialmente vindo de resultados frustrantes em Challengers (incluindo duas derrotas para Orlando Luz, atualmente fora do top 300), e mais especialmente ainda com esse triunfo sobre Tsitsipas, depois de furar o qualifying, é uma bela recompensa para Monteiro, que sempre pareceu capaz de atuações assim com mais frequência, mas não conseguiu tanto fazer isso na prática. É um trabalhador, profissional com todas as letras e agora, mesmo se não conseguir seu sonhado lugar no top 50, terá ao menos outra bela partida para relatar quando encerrar a carreira.

A Empolgante Estreia de Fonseca

Outro momento daqueles de ticar caixinhas neste torneio madrilenho foi a estreia de João Fonseca em um Masters 1000. O carioca de 17 anos ganhou um convite para a chave principal e aproveitou a chance, mostrando seu valor. Diante de um jovem Alex Michelsen, #70 do mundo, venceu de virada por 4/6, 6/0 e 6/2 e distribuiu mais cartões de visita na Caja Mágica.

Nas duas partidas que fez em Madri, Fonseca deu mais amostras vibrantes de seu potencial, que não só ganha jogos como cativa torcedores. Foi assim no Rio, no Estoril e, agora, na capital espanhola. Não fosse o primeiro set muito ruim - oscilações normais da idade - contra Cameron Norrie, o carioca poderia ter aprontado uma zebra e tanto na segunda rodada. Não faltarão oportunidades para isso em um futuro nada distante.

Afirmação de Wild

Pela terceira vez seguida, Thiago Wild alcançou a terceira rodada em um Masters 1000. Derrotou dois tenistas de ranking superior (Safiullin, #42; e Musetti, #29) e acabou eliminado diante de Carlos Alcaraz, que, sim, foi muito superior. Na frieza dos números, talvez não seja a mais memorável campanha do paranaense, atual #63 na ATP. Entretanto, foi, ao mesmo tempo, seu melhor resultado em um Masters 1000 (igualando Indian Wells e Miami), e um resultado que confirma seu amadurecimento e mostra que sua subida no ranking não acontece por acaso.

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Coisas que eu acho que acho:

- Além de tudo citado acima, fazia 21 anos que o Brasil não tinha três tenistas na chave principal de um torneio desse nível. É um número bacana, mas que vem acompanhado de asteriscos. Primeiro porque durante a maior parte desses 20 anos apenas dois Masters por ano (Indian Wells e Miami) tinham chave de 96 jogadores. O segundo asterisco, evidentemente, foi o convite recebido por João Fonseca, atual número 242 do mundo, para estar na chave principal. Para quem não entendeu (ou anda sensível demais no pachequismo): não é questionar o wild card, mas apenas constatar que o carioca ainda não tem ranking para este nível de torneio.

- O momento para o tênis brasileiro é dos melhores desde o pós-Guga. Wild, aos 24 anos, é um tenista que já viveu altos e baixos e parece ter encontrado seu caminho para alcançar a elite. É mais maduro, tem consciência do que fez de errado e tem tênis para fazer mais. Fonseca, por sua vez, já é um dos queridinhos do mundo do tênis. Furou a bolha brasileira e, em breve, deve furar a bolha do tênis no país. Vem sendo comparado a gente grande como Jannik Sinner e, mais do que isso, vem mostrando que tem os elementos para ser muito grande. Ainda há uma longa estrada, mas os sinais são muito animadores.


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- A chave de duplas do Masters de Madri - a primeira sob as novas regras - saiu. Alguém olhe e me diga como o novo formato criado pela ATP fortaleceu ou tornou a modalidade mais interessante...

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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