O dinheiro venceu os princípios, e a WTA voltará à China

Em 2 de novembro de 2021, a tenista chinesa Shuai Peng desapareceu misteriosamente depois usar sua conta na rede social Weibo para contar que teve uma relação com o ex-vice-premiê chinês Zhang Gaoli e que ele abusou sexualmente dela em 2017. O post foi apagado meia hora depois, a tenista sumiu, e a WTA cobrou do governo chinês uma investigação completa e transparente.

Depois disso, Peng fez apenas uma meia dúzia de aparições aparentemente ensaiadas, que não convenceram a entidade que regula o tênis feminino. Diante disso, a WTA decidiu cancelar todos torneios no país. Uma medida corajosa, sobretudo financeiramente, já que o calendário de 2019 (pré-pandemia) teve dez torneios na China, inclusive o milionário WTA Finals. Na época, a posição tomada pelo CEO da WTA, Steve Simon, foi elogiada globalmente até por executivos de gigantes que não ousaram fazer o mesmo.

Menos de dois anos depois, a WTA sucumbe e anuncia, nesta quinta-feira, que voltará a fazer eventos em solo chinês. Com o circuito enfrentando dificuldades financeiras, a entidade vendeu 20% de sua equidade para a firma CVC Capital Partners por US$ 150 milhões, segundo o jornal "The Times". Agora, cede a pressões que vêm de sua própria diretoria.

"Após 16 meses de suspensão na China e de esforços para alcançar nossas exigências iniciais, não há sinais de que haverá mudanças na situação. Concluímos que nunca alcançaremos completamente aqueles objetivos, e serão nossos jogadores e torneios que, no fim, pagarão um alto preço por seu sacrifício", diz o comunicado da WTA, tentando justificar e varrer para baixo do tapete a dura realidade: o dinheiro derrotou seus princípios.

Simon, que segundo a Sports Illustrated queria manter a suspensão, entregou os pontos. "Enquanto não nos arrependemos da decisão pela suspensão, nossos membros acreditam que agora é a hora de voltar à nossa missão na China. Temos a esperança de que, ao voltarmos, mais progresso possa ser feito. É importante que nosso engajamento renovado na China dê segurança a Peng e todas atletas mulheres que se beneficiarão de nosso retorno e das oportunidades que o tênis oferece. É essencial que as vozes das mulheres sejam ouvidas", disse.

Um discurso bonito, que destaca valores importantes, mas que, diante de um irredutível e poderoso (não só financeiramente!) governo chinês, soa como palavras ao vento diante de uma Praça da Paz Celestial vazia. Pena.

Coisas que eu acho que acho:

- A "derrota" para a China é ruim para a WTA também porque cria um precedente. Será que a entidade terá o mesmo poder de barganha na próxima "briga" que comprar com algum governo? Ainda que seja difícil imaginar uma disputa contra alguma força tão grande quanto a China, o mais provável é que a WTA evite confrontos semelhantes - com ou sem razão - no futuro próximo.

- A WTA informou que os torneios voltam à China a partir de setembro. O calendário no site da entidade, porém, ainda não informa datas exatas nem quais serão os eventos disputados em 2023.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: a belíssima versão de Pompeii gravada por Bastille no Unplugged MTV.

.

Quer saber mais? Conheça o programa de financiamento coletivo do Saque e Voleio e torne-se um apoiador. Com pelo menos R$ 15 mensais, apoiadores têm acesso a conteúdo exclusivo, como podcast semanal, lives restritas a apoiadores, áudios exclusivos e de entrevistas coletivas pelo mundo, além de ingresso em grupo de bate-papo no Telegram, participação no Circuito dos Palpitões e promoções.

Acompanhe o Saque e Voleio no Twitter, no Facebook e no Instagram.