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Ashleigh Barty contra a história

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

27/01/2022 14h34

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Quando derrotou Madison Keys nesta quinta-feira, com uma atuação mais do que convincente, Ashleigh Barty escreveu mais uma página no paquidérmico livro que conta a história do tênis australiano. A jovem de 25 anos é a primeira mulher do país a alcançar a final de simples do Australian Open em 42 anos. Wendy Turnbull, em 1980, perdeu a decisão daquele ano para a tcheca Hana Mandlíková por 6/0 e 7/5. Se levantar o troféu, Ash será a primeira desde Chris O'Neil, que conquistou Melbourne em 1978. Naquela época, o torneio ainda era disputado nas quadras de grama do Kooyong Club.

Não que Danielle Collins (#30 do mundo), sua adversária na decisão deste sábado, não seja uma adversária de respeito. Pelo contrário. Na melhor semana de sua carreira, a americana de 28 anos chega a uma final de slam pela primeira vez na vida após vitórias maiúsculas sobre Elise Mertens, Alizé Cornet e Iga Swiatek. Um prêmio merecido pelo esforço de quem teve de passar por uma cirurgia de urgência de endometriose em abril do ano passado e, desde então, venceu seus dois primeiros torneios de nível WTA e só subiu no ranking. Collins, aliás, estreará no top 10 na próxima segunda-feira.

Danielle levará para quadra sua garra típica e uma postura agressiva na posição incontestável de zebra. A americana, contudo, não tem o tênis versátil nem as armas poderosas da tenista da casa. Tudo reforça a impressão de que Ash terá mesmo como maior obstáculo a expectativa de cumprir a "obrigação" diante de sua torcida. Uma tarefa menos simples do que parece. Lleyton Hewitt alcançou a final do Australian Open em 2005, mas não rendeu o esperado e viu Marat Safin levantar a taça. Em 2012, Sam Stosur competiu com o status de campeã do US Open e fracassou. Perdeu na estreia no WTA de Sydney e no Australian Open.

"Dominante" parece pouco para adjetivar o Australian Open de Barty até agora. Dois pneus. Nenhum set cedido. Nenhuma partida com mais de sete games perdidos - e só a "quente" Amanda Anisimova, vindo de vitória sobre Naomi Osaka, tirou mais de cinco games de Ash. Os números são espetaculares: 35 aces em 12 sets, 83% de pontos vencidos com o primeiro saque, 59% com o segundo serviço e apenas um saque quebrado. Nas quartas, a consistente Jessica Pegula levou 6/2 e 6/0. Nas semis, Madison Keys, vindo de dez vitórias seguidas, só conseguiu disparar quatro winners com sua direita, uma das mais potentes do circuito mundial (e duas dessas direitas vencedoras vieram no penúltimo game, com a partida virtualmente decidida).

Um tênis completo (escrevo mais sobre isso - desfiando a redundância - em outro momento), um momento raro, uma torcida tão calorosa quanto ansiosa e o livro de história aberto, esperando a tinta indelével. É a hora de Ash, e nada indica até agora que o título vai escapar. A não ser que a história mostre-se mais pesada no momento final.

Coisas que eu acho que acho:

- Djokovic fez uma temporada espetacular em 2021 e parecia navegar mares tranquilos até a semifinal olímpica. Foi ali, diante de Zverev, primeiro rival a colocar o sérvio contra as cordas, que Nole fez sua pior atuação em Tóquio.

- No US Open, a história foi parecida. Djokovic chegou como favoritíssimo à decisão contra Medvedev. Faltava um jogo para fechar o primeiro Grand Slam masculino desde Rod Laver, em 1969. Assim como Barty hoje, nada naquele torneio indicava que Novak sentiria o peso do momento. No entanto, na final, o número 1 fez seu pior jogo no evento e foi às lágrimas antes do fim do confronto.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: You Shook Me All Night Long (AC/DC) porque bem... uma banda australiana cantando sobre "all night long". Tá fácil de entender, né?

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