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Imprudência impediu Djokovic de colar em Roger e Rafa (não só nos títulos)

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

07/09/2020 06h00

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Era para ser o menos complicado dos títulos de slam dos últimos tempos para Novak Djokovic. Roger Federer, que teve match point contra ele em Wimbledon, está fora, lesionado. Rafael Nadal e Stan Wawrinka, tenistas que já superaram o sérvio em finais de slam, não foram a Nova York. Juan Martín del Potro, algoz de Nole em duelos importantes, também está afastado do circuito por causa de uma lesão. Além disso tudo, depois da derrota de Marin Cilic na noite de sábado, Djokovic era o único campeão de slam restando na chave deste ano.

Na terceira rodada, contra Jan-Lennard Struff, Djokovic mostrou um tênis impecável. Era favoritíssimo ao título. Era o tenista mais completo do planeta na atualidade em uma chave depenada. "O US Open é obrigação", pendurariam nas arquibancadas alguns torcedores de futebol. Pois então aconteceu o inconcebível. Num estádio gigante, sem público e onde juízes de linha ficam até longe do fundo de quadra por conta do enorme recuo do Estádio Arthur Ashe, Djokovic acertou uma bolada no pescoço de uma árbitra.

O resultado disso foi sua desclassificação. Não há o que questionar. Não houve intenção, mas houve culpa. Pior: houve uma consequência séria - uma juíza de linha indo ao chão com dificuldade para respirar - o que facilitou o trabalho do supervisor do torneio, que entrou na quadra, apurou os fatos e tomou a óbvia decisão de eliminar o número 1 do mundo. A imprudência foi imperdoável. Agora, em vez de duelar nas quartas contra o impetuoso-mas-inconsistente Denis Shapovalov, que fará sua primeira aparição nas quartas de um slam, Djokovic tomou um avião de volta para casa sem levar dinheiro (ele perdeu o direito aos US$ 250 mil de premiação pelas oitavas de final) nem pontos no ranking (ele somaria ao avançar às quartas).

O pior de tudo, tudo mesmo, foi deixar passar essa enorme chance de somar um slam e encostar nas marcas de Federer, recordista com 20 títulos em simples, e Nadal, que acumula 19. Djokovic continuará com seus 17 no caminho para as quadras de saibro de Roland Garros, onde o normal é que Rafa e Dominic Thiem sejam os favoritos. Nos últimos três anos, Nole foi derrotado pelo austríaco duas vezes e teve de ver o espanhol aumentar sua coleção de peças de prata.

Para um tenista de 33 anos que tanto fala na meta de ser o maior campeão da história do tênis masculino e já está na reta final da carreira - ainda que não tão perto da aposentadoria - este triste episódio do US Open não será esquecido facilmente. Resta torcer para que o sentimento expresso em sua mensagem de desculpas seja sincero. Que ele aprenda, cresça como ser humano e tenista e volte a fazer o que ele sabe. Ganhar jogos.

Coisas que eu acho que acho:

- Deixar o Estádio Arthur Ashe sem dar a coletiva obrigatória foi um gesto de pequenez do sérvio. Fez bobagem? Dê as caras e assuma. Achou que foi injusto? Tenha a coragem de admitir. É fácil entrar numa sala cheia de jornalistas e dar chocolates após vitórias. Fugir das explicações após um gesto imprudente mostra medo de ser confrontado com perguntas sobre seu comportamento. É muito mais fácil - mas também covarde - soltar um comunicado frio três horas depois do que aconteceu.

- Estava de cabeça quente? Não queria falar algo de que fosse se arrepender depois? Tomasse um banho gelado e esperasse o sangue descer antes de falar com a imprensa. É isso que Federer e Nadal costumam fazer em dias ruins. É isso que os separa do resto. Nole pode ter pequena vantagem sobre ambos em confrontos diretos dentro de quadra, mas ainda tem muito a remar para alcançar o patamar de seus maiores rivais fora de quadra.