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Rafael Oliveira

Seleção de 94 foi muito melhor do que o crédito (ou os rótulos) que recebe

Galvão Bueno e Pelé se abraçam em histórica transmissão do tetra da seleção nos EUA - Reprodução
Galvão Bueno e Pelé se abraçam em histórica transmissão do tetra da seleção nos EUA Imagem: Reprodução

Colunista do Uol

26/04/2020 09h00

O Brasil tem muita história para contar no futebol. Até por isso, algumas recebem maior atenção ou carinho do que outras.

A Copa de 1994 não costuma entrar na lista dos times mais reconhecidos. Geralmente a equipe de Parreira é tratada quase como uma antítese do futebol brasileiro. Ou como um retrocesso causado pelo trauma de 82.

"Pragmático", "Romário decidiu sozinho", "retranqueiro", entre outros reducionismos. A reflexão talvez pudesse ir no sentido contrário. Evitaria alguns clichês que duram até hoje, como a necessidade da figura do "10" ou o vazio hábito de contar o número de volantes nas escalações.

O elenco também não era a maior reunião de craques, se comparado a tantos outros momentos especiais do Brasil. Reuniões que podem marcar (como em 1982), podem vencer (como em 1970), podem "envelhecer bem" (como 2002) ou podem não dar em nada (como em 2006).

Uma oportunidade de enxergar o coletivo potencializando o individual. O Brasil de 1994 pode não ter encantado muita gente, mas apresentava características que seriam exaltadas em outros países ou momentos.

A capacidade de controlar a partir da posse de bola, a agressividade dos meio-campistas para preencher espaços, desarmar e impedir que o adversário ficasse confortável... Eram grandes virtudes.

Geralmente, a sensação de show está muito relacionada a trechos de jogos marcantes. Especialmente quando o cenário permite períodos abertos, com espaços para empolgantes contra-ataques. Isso, aquela seleção não teve. Mas e as atuações?

A semifinal contra a Suécia é um recorte bem interessante. O Brasil teve total controle e criou inúmeras chances claras. O bom futebol ficou ofuscado pelo nervosismo de um gol que só saiu nos minutos finais. Uma goleada talvez fosse o resultado mais coerente e o jogo entraria na lista das memoráveis atuações em mundiais.

Mauro Silva e Dunga fizeram grande Copa do Mundo. Não apenas como protetores da defesa, mas também na dinâmica da saída de bola. Dunga foi um dos melhores do torneio pela capacidade de distribuição em uma seleção que não abria mão da iniciativa. A zaga, montada na última hora, também foi muito bem e os laterais tinham papéis importantes.

A dupla de ataque se completou e decidiu. Enquanto Bebeto caía pelos dois lados, Romário não só atacava a área, mas também era grande ameaça ao recuar e se posicionar nas costas dos volantes, atraindo zagueiros para girar com agilidade e acelerar em direção ao gol.

A seleção de 94 não é um "patinho feio". Pelo contrário. É a demonstração de que a diversidade de estilos e estratégias está ao alcance de todos. O que talvez falte é o reconhecimento de que é possível jogar bem de diferentes formas.