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As bruxas e os tabus que o futebol conhece e não é capaz de explicar

Um grande amigo, torcedor do Palmeiras, costuma contabilizar pontos que seu clube de coração não somará no Brasileirão. Antes da primeira rodada, acrescenta o número zero ao lado de partidas no Beira Rio, Couto Pereira, Serra Dourada, quando era contra o Goiás.

O Flamengo pode fazer parecido com Bragança Paulista.

Sua última vitória na casa bragantina aconteceu em 1996. Desde que a Red Bull virou proprietária do time do interior, o rubro-negro já ficou vermelho de raiva e de vergonha, com empates e com derrotas, como os 4 x 0 do ano passado.

Desta vez, empate por 1 x 1, depois de expulsão de Luan Cândido e volta atrás do árbitro Paulo César Zanovelli, com auxílio do vídeo.

O Atlético não ganha do Fluminense como visitante desde 2015 e o Fortaleza nunca venceu o Corinthians, em São Paulo.

Esses tabus mudam de lado, não duram para sempre. O Palmeiras já se dá melhor contra o Coritiba, no Paraná, do que fez no passado, e a Serrinha mexeu com as estatísticas contra o Goiás.

Também porque o esmeraldino do Centro-Oeste anda numa crise sem fim, desde a morte de seu patrono Hailé Pinheiro.

Mudam muito. Não existe freguesia que sempre dure, nem paternidade que não se acabe.

Moacir Japiassu, brilhante jornalista potiguar e vascaíno, conhecido por suas colunas severas sobre imprensa, contou na edição 1060 da revista Placar, em 1991, que certa vez entrou no quarto de seu filho e o flagrou jogando futebol de botão sozinho, solitário. Japi perguntou, curioso: "Quem está jogando?" O filho, sério, respondeu: "Vasco e Fluminense. Zero a zero".

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Japiassu, provocador, disse ao filho, tenso: "O Vasco é freguês do Fluminense e você está jogando sozinho. Faz logo 10 x 0 para o Vascão!"

Assim se fez. O texto delicioso está numa edição de grandes clássicos publicada por Placar, em que cada autor-torcedor escolhia a data e jogo reais. Japiassu preferiu a história real de um jogo inexistente.

Tem tabus pessoais. Zico nunca fez gol no Cruzeiro, Juary cansava de marcar pelo Santos em cima do São Paulo, mas nunca no Corinthians, Pelé castigava os corintianos, muito mais do que os são-paulinos. Messi tem quatro gols no Brasil, mas nunca por eliminatórias, nem Copa América, nem Copa do Mundo, confronto este que não aconteceu depois de Maradona.

Hoje também haverá escritas para se desfazer. O São Paulo perdeu sete de seus últimos dez jogos contra o Vitória, em Salvador, todos disputados nos últimos 21 anos. O Vasco jamais venceu na Arena da Baixada, hoje Ligga Arena, pelo Brasileirão. São 12 derrotas e quatro empates, desde o último triunfo em Curitiba, em 1998.

O Brasileirão tem sua fé, no que existe, no que dura um tempo e no que parece nunca mudar. Um livro fabuloso chamado "Cuando Nunca Perdíamos", em espanhol, sobre a história do Barcelona no tempo em que parecia nunca vencer, lembra dos cinco chutes nas traves de Berna, na decisão da Copa dos Campeões da Europa de 1961, vencida pelo Benfica.

Os postes, na Suíça, ainda eram quadrados. A bola batia na quina e saía. A conclusão do autor é que, se fossem redondas, como hoje, ao menos uma das finalizações resultaria em gol, por tocar do lado de dentro da trave e parar no fundo da rede. Kocsis, vice-campeão mundial pela Hungria no mesmo estádio, foi vice da Europa pelo Barcelona.

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Contra Béla Gutman, técnico campeão paulista pelo São Paulo, em 1957, que venceu dois troféus europeus pelo Benfica. Demitido, jurou que o clube encarnado de Lisboa jamais voltaria a vencer um título na Europa, em cem anos. Já faz 62.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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