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'Mais livre' após saída da Haas, Steiner vira embaixador do GP de Miami

Quando um chefe de equipe perde o emprego na Fórmula 1, é de se imaginar que ele logo começará a receber convites de outros times ou até mesmo para trabalhar na federação ou no próprio comando dos detentores dos direitos comerciais do esporte. Mas esse nunca pareceu ser o destino imediato de Guenther Steiner. Afinal, turbinado pela série da Netflix "Dirigir para Viver", ele já tinha se transformado em uma estrela. O público o adora. Pedidos de casamento em cartazes viraram febre nas arquibancadas e ele para quase tanto qualquer piloto para dar autógrafos.

"Estou mais ocupado do que gostaria", disse ele à coluna. "Mas estou mais livre e estar mais livre é sempre divertido."

Ele não gosta do status de estrela mas, menos de três meses depois de deixar o cargo, Steiner acumula funções que são resultado dessa popularidade. Ele acaba de ser anunciado como embaixador do GP de Miami, o que não deixa de ser algo curioso para um italiano que soa austríaco por vir da região de fronteira entre os dois países e que tem formação em engenharia e um histórico de décadas dentro do automobilismo. Nada que lembre a vibe tropical e latina de Miami, mas o seu carisma e uma sinceridade muitas vezes sem filtros se encarregaram de fazer essa ponte.

"É uma corrida que tem a ver comigo", disse Steiner. Mas como explicar essa conexão? "Faz 18 anos que eu moro nos Estados Unidos e vivo na Carolina do Norte, que faz parte do sul do país também. Acho que mostra que eu cheguei bem longe. E também tem a ver com a experiência que eu tenho no esporte e, como Miami está começando e querer crescer, fez sentido eles me chamarem."

Mas será que não tem nada a ver com a estrela da Netflix que ele se tornou? "Eu não queria dizer isso porque daí vão me acusar de querer ser uma estrela de TV. E eu não quero isso! Mas eu sou muito reconhecido especialmente nos EUA por conta do Dirigir para Viver e isso faz com que eu consiga levar a mensagem para o público."

E esse é apenas a última das recentes empreitadas de Steiner, que se desentendeu com o dono da Haas a respeito de questões financeiras e dos caminhos para o futuro do time que comandou desde que eles entraram na F1, em 2016 (tendo trabalhado no projeto desde o início, dois anos antes) e não teve seu contrato renovado para 2024. "Eu não estou perseguindo o próximo cargo de chefe de equipe."

E nem precisa. Steiner primeiro virou comentarista para a TV alemã. Depois, foi anunciado como colunista do site oficial da F1. No último final de semana, ele apareceu entrevistando os pilotos antes da cerimônia do pódio na transmissão oficial. "Não sei o que vem pela frente. Estou tendo a possibilidade de olhar tudo de fora e dá para enxergar as coisas com muito mais clareza. Estou adorando. Só entraria em um projeto em que eu acreditasse."

Em sua primeira coluna, Steiner deu um cartão de visitas sobre o que esperar dessa sua nova versão pós-Haas: disse que "quanto mais tempo passa, fica mais claro para mim que fiquei na Haas por tempo demais" e aproveitou para alfinetar a opção de insistir com dois pilotos experientes, Nico Hulkenberg e Kevin Magnussen, usando a boa estreia de Ollie Bearman, que é cotado para estar na equipe norte-americana, mas só no ano que vem. "Baseado no que vimos na estreia dele, eu lhe daria uma vaga."

O único fator que não está saindo exatamente como Steiner planejava são os resultados da Haas. Ele saiu do time norte-americano por dois motivos. Sentia que seria impossível para a equipe passar das últimas colocações com o nível de investimento ao qual Gene Haas está disposto. A operação da equipe é, de longe, a menor da F1, além de ser bastante descentralizada.

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Eles usam o máximo que o regulamento permite que seja comprado de terceiros. Basicamente, só fazem as superfícies aerodinâmicas. Isso acontece na Itália, enquanto o time tem outra unidade na Inglaterra, onde os carros são montados. E também há atividades sendo realizadas na sede norte-americana, lembrando que a Haas também tem forte atuação na Nascar.

Günther Steiner e a festa da Haas no GP do Bahrein de Fórmula 1 em 2022
Günther Steiner e a festa da Haas no GP do Bahrein de Fórmula 1 em 2022 Imagem: Divulgação/Haas

Steiner acredita que esse modelo não permite evolução, principalmente agora que há mais dinheiro na F1 (a receita prevista para esta temporada deve superar, pela primeira vez, os 3 bilhões de dólares) e as rivais diretas da Haas têm mais dinheiro para gastar. "Com o que a gente tinha, dava para lutar pelo sétimo, oitavo ou nono - mas não dava para lutar por pódios sem as mesmas armas dos demais. E isso não é algo que eu quero fazer da minha vida a longo prazo."

E ele também cobrou de Gene que se tornasse acionista depois de conseguir um acordo milionário de patrocínio para o time. Dá para entender por que Guenther tem usado todos os canais aos quais tem acesso agora para dar suas alfinetadas na Haas.

Mas nem tudo está entrando no script. A Haas pontuou em duas das três corridas até aqui, aproveitando as duas oportunidades realistas de ficar entre os 10 primeiros. Nada mal para um time que parecia destinado a amargar as últimas posições antes do início dos testes de pré-temporada. Mesmo sem mudar sua abordagem em termos de investimento, eles estão mostrando que uma boa execução do final de semana já faz uma grande diferença para estar nas primeiras colocações de uma parte muito competitiva do grid, que tem RB, Williams, Sauber e Alpine.

Isso, então, quer dizer que Steiner estava errado? Não necessariamente. Tirar o máximo do que o equipamento pode dar ajuda bastante, mas ao longo da temporada seus rivais diretos têm mais condições de atualizar o carro e melhorar o desempenho.

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Então dá para apostar que as alfinetadas de Steiner vão continuar. E que o embaixador do GP de Miami, colunista e comentarista de TV vai estar por todos os cantos nesta temporada.

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