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Ferrari e Mercedes têm problema igual: por que uma sofre e a outra é líder?

Lewis Hamilton em ação no W13, da Mercedes - Hamad I Mohammed/Reuters
Lewis Hamilton em ação no W13, da Mercedes Imagem: Hamad I Mohammed/Reuters

Colunista do UOL

13/04/2022 10h10

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Quando Toto Wolff diz que a Mercedes saiu de Melbourne, palco da terceira etapa do calendário, "em um estado melhor do que chegou", ele se refere aos bons pontos que o time conquistou, aos dados que coletou e a soluções que melhoraram a questão do aquecimento de pneus na classificação e desgaste na corrida. Mas um ponto central para explicar por que os octacampeões ainda estão longe de lutar por vitórias segue sendo um dilema: os quiques do carro, que afetam uma série de fatores. E o mais curioso é que a Ferrari também tem o mesmo problema. Mas lidera o mundial.

Assim como a Mercedes, a Ferrari ainda não sabe como se livrar dos quiques, que acontecem quando o assoalho deixa de funcionar como deveria e o carro começa a subir e descer sem controle em alta velocidade. "É algo em que estamos trabalhando, e sabemos que ainda não conseguimos uma solução definitiva. Não é algo óbvio ou simples de ser resolvido" reconheceu o chefe ferrarista, Mattia Binotto.

Os quiques da Ferrari não impediram Charles Leclerc de dominar o GP da Austrália e vencer com 20s de vantagem para o segundo colocado, mas isso não quer dizer que eles não são um problema para a equipe. A preocupação é principalmente com pistas mais onduladas, em que eles tendem a piorar. "Vão haver corridas, por várias razões, em que vamos sofrer mais do que em outras."

Na verdade, em Melbourne, mesmo com a vitória, Leclerc afirmou que o carro estava quicando mais do que nas corridas anteriores e isso o deixava menos confiante para frear mais dentro das curvas nas relargadas, por exemplo. E também o deixava menos confortável no carro.

Do lado da Mercedes, se estas fossem as únicas queixas, eles estariam comemorando. A diferença é na velocidade dos quiques do carro ferrarista, muito menor do que no W13 ou em outros que sofrem com isso, como a Aston Martin. Outro fator é onde esse fenômeno acontece: na Ferrari, é apenas nas retas, enquanto a Mercedes também salta nas curvas de alta velocidade.

Isso faz com que o time não tenha outra saída a curto prazo a não ser levantar um pouco o carro até um limite que seja aceitável para os pilotos e que também não gere danos ao carro. E isso diminui a eficiência aerodinâmica do carro tanto gerando mais arrasto, quanto diminuindo a eficiência do assoalho.

Quiques fazem Mercedes sofrer nas curvas de alta velocidade

Os efeitos disso são claramente vistos nos tempos de volta da Mercedes: na Austrália, o melhor setor para eles era o primeiro, que só tem retas e curvas mais lentas. Quando chegam as curvas mais rápidas, eles começam a perder muito. "Nas curvas 9 e 10 estamos perdendo toda a margem que construímos nas demais, quase um segundo em duas curvas", calcula Wolff.

Essa perda de tempo tem a ver com a configuração do carro em si e também com a falta de confiança dos pilotos nas freadas. "É uma sensação tão única com esse sobe e desce do carro que você não consegue se jogar nas curvas de alta", explicou George Russell. "É simplesmente a pior coisa que já experimentei em um carro de corrida", definiu Lewis Hamilton.

leclerc verstappen - Ferrari - Ferrari
Charles Leclerc, da Ferrari, só foi ameaçado por Max Verstappen nas relargadas na Austrália
Imagem: Ferrari

Mas o que o carro da Mercedes tem de diferente para o comportamento ser tão pior que o da Ferrari? Esta é uma pergunta que nem os engenheiros da Mercedes conseguem responder no momento, e eles seguem confiantes de que as laterais enxutas não têm nada a ver com isso, mas há algumas pistas. A Mercedes sempre teve como um de seus pontos fortes a suspensão, que é uma área que o regulamento de 2022 simplificou em grande medida. Então parte do problema deve estar nessa suspensão mais dura e isso afeta mais a Mercedes porque, para eles, a mudança em relação aos anos anteriores foi mais significativa. Outra peça importante nesse quebra-cabeça é o câmbio. E se a interação entre essas peças com o assoalho não está funcionando como deveria, então a solução passa por mudanças significativas no assoalho em si.

Esta é a parte mais importante do carro, então é preciso ter cuidado com as mudanças para não prejudicar a interação com o restante do projeto. E a Mercedes também não pode ir testando inúmeras peças até ver o que dá certo devido a duas limitações: o teto orçamentário de 140 milhões de dólares e os limites de testes aerodinâmicos. Como é a atual campeã de construtores, até julho eles são a equipe com menos tempo disponível no grid para estes testes.

Uma tentativa da Mercedes tem sido correr com vários sensores no carro para angariar o máximo de informações possíveis. Eles não ajudam o peso do carro, que já está entre os maiores do grid, mas vão ajudando os engenheiros a entender um problema tão complexo.

Como de costume na Mercedes, o foco é encontrar uma solução a longo prazo, mesmo que isso leve mais tempo. De momento, a tática vem dando certo, já que mesmo estando a cerca de 1s da Ferrari, eles têm uma vantagem em relação aos carros que vêm atrás e estão se aproveitando da falta de confiabilidade da Red Bull para ocuparem o segundo lugar entre as equipes e também entre os pilotos, com Russell.