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Como a Ferrari promete "salto" em motor se desenvolvimento está congelado?

Charles, Leclerc, da Ferrari acelera na pista do GP da Estíria - Clive Rose/Getty Images
Charles, Leclerc, da Ferrari acelera na pista do GP da Estíria Imagem: Clive Rose/Getty Images

Colunista do UOL

18/08/2021 04h00

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A Ferrari anunciou que terá uma atualização importante em seu motor na segunda metade do campeonato da Fórmula 1, na tentativa de retomar o terreno perdido depois que a FIA descobriu que os italianos usavam um sistema que permitia a injeção de mais combustível em alguns momentos. Isso fez com que a unidade de potência italiana, que era a melhor do grid em 2019, perdesse dezenas de cavalos.

Em 2021, a Ferrari está empatada com a McLaren no terceiro lugar no campeonato, mesmo trazendo menos atualizações para o carro que os ingleses. Com a nova unidade de potência, o chefe da Scuderia, Mattia Binotto, prevê "um passo significativo", que pode ser decisivo nesta disputa.

Mas este anúncio gerou uma dúvida: como a Ferrari poderá atualizar seu motor sendo que a F1, na tentativa de controlar os gastos durante a pandemia, tem um congelamento em vigor?

O exemplo da Ferrari mostra que, embora haja restrições, não existe um congelamento em si. Na verdade, a regra criada antes do início da temporada de 2020 permite uma mudança de especificação em 2021 para a maioria dos componentes da unidade de potência, sendo que alguns deles (as baterias, a central eletrônica e o MGU-K, um dos sistemas de gerenciamento de energia de um motor que é híbrido na F1) poderiam ser modificados já em 2020. O restante pode ser modificado apenas uma vez até o início de 2022.

É devido a estas limitações, inclusive, que a Ferrari pouco pôde fazer em 2020 depois que teve de mudar sua unidade de potência no final de 2019. Neste ano, ao contrário de Mercedes e Honda, a Ferrari optou por não homologar todos os novos componentes, fazendo apenas algumas modificações e, por isso, ainda pode mexer no motor no meio da temporada.

A mudança acontece alguns meses antes de a Fórmula 1, de fato, congelar seus motores por um período mais longo, a partir de 1º de março de 2022 (ou 1º de setembro para os três componentes citados acima) até o final de 2025. Isso significa que, mesmo alterando seu motor agora, a Ferrari poderá dar ainda mais um passo antes da temporada 2022 começar, assim como seus rivais.

Depois de perder até 70 cavalos de potência, de acordo com estimativas, com as mudanças que teve de fazer após as inspeções da FIA, a Ferrari vem recuperando terreno aos poucos, igualando-se à Renault, que basicamente está correndo com o motor de 2019 no momento, apostando em uma grande mudança antes do congelamento de 2022.

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Acidentes na Hungria devem gerar punições para os dois pilotos da Ferrari por trocas de motor
Imagem: Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Quanto a Ferrari pode ganhar com o novo motor?

A atualização, cuja data de estreia ainda não foi confirmada, mas não deve acontecer nas próximas corridas, deve colocar a Ferrari à frente da Renault, mas a dúvida é o quão perto eles ficariam de Honda e Mercedes.

Binotto calcula que o déficit em classificação da equipe em relação à ponta na temporada 2021 seja 60% em função da falta de potência, e 40% decorrente da falta de pressão aerodinâmica gerada pelo carro, ou seja, mesmo se a melhora for mesmo significativa, não será o suficiente para a Scuderia voltar a brigar na ponta tão cedo.

O foco segue sendo bater a McLaren e ficar com o terceiro posto. Neste ano, a Ferrari já melhorou bastante com a introdução de uma traseira totalmente diferente, que está ajudando nas curvas de baixa velocidade e, mais recentemente, passou a lidar melhor com os pneus nas corridas, evitando o desgaste que apareceu especialmente no GP da França. Por outro lado, acidentes com ambos os carros na Hungria - Sainz bateu na classificação e Leclerc foi atingido por Lance Stroll na largada - fazem com que os dois pilotos tenham de sofrer punições por passarem do limite de componentes da unidade de potência na temporada.

A Fórmula 1 no momento está de férias, com as fábricas das equipes impedidas de desenvolverem qualquer item ligado à performance, mas volta no último fim de semana de agosto com o GP da Bélgica.