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Pole Position

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Após duas poles seguidas, por que a Ferrari saiu zerada da última corrida?

Charles Lecrerc, da Ferrari, durante treino classificatório para o GP da França - Rudy Carezzevoli/Getty Images)
Charles Lecrerc, da Ferrari, durante treino classificatório para o GP da França Imagem: Rudy Carezzevoli/Getty Images)

Colunista do UOL

23/06/2021 04h00

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A Ferrari saiu de Paul Ricard sem entender onde foi parar o ritmo de seus pilotos, que largaram em quinto e sétimo lugares e terminaram fora da zona de pontuação, com Carlos Sainz em 11º e Charles Leclerc em 16º, em sua pior posição de chegada desde sua terceira corrida na F1, pela Alfa Romeo. Para piorar, sua rival na disputa pelo terceiro lugar no mundial de construtores, a McLaren, ficou com o quinto e sexto lugares, não só passando a Scuderia, como também abrindo 16 pontos de vantagem.

Mas o que deu tão errado para a Ferrari? O carro do time que fez a pole position das duas corridas anteriores é muito bom em uma volta lançada, entre outros motivos, por conseguir colocar muita energia nos pneus, preparando-os bem para a classificação. E a tentativa dos engenheiros é de domar essa característica para as corridas, pois isso gera mais desgaste.

Na França, a Ferrari já foi para a classificação sem ter achado o melhor acerto para o carro, com Leclerc reclamando que saía muito de frente. No final, ele estava contente com a volta que conseguiu fazer mesmo com os problemas, já que ambos os carros começariam a prova na frente das McLaren.

Porém, o emborrachamento foi parcialmente lavado com a chuva que caiu no domingo de manhã em Paul Ricard, e as temperaturas na pista também eram muito mais baixas na corrida do que nos dias anteriores. Isso gera o risco de um fenômeno conhecido como graining, ou granulação dos pneus, quando a parte interna se aquece de maneira mais rápida que a externa e a borracha começa a esfarelar, voltando a grudar no pneu. Isso diminui a superfície de contato com o solo e gera perda de aderência.

Sofrendo com muito graining nos pneus dianteiros, Leclerc e Sainz começaram a perder rendimento. A Ferrari iniciou a rodada de pit stops bem cedo, na volta 16, com Charles, tentando tirá-lo desse ciclo vicioso, mas não adiantou: o mesmo fenômeno aconteceu com o segundo jogo de pneus. No outro carro, Sainz também sofria e ambos começaram a ser passados por seus rivais.

No final, a Ferrari até tentou parar Leclerc novamente, o que só serviu para ele perder ainda mais nas posições. Para se ter uma ideia, comparando o ritmo de Sainz com o de Ricciardo, que adotaram estratégias muito semelhantes, a diferença entre os dois no final da corrida chegou a 0s7 por volta.

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Daniel Ricciardo andou bem com a McLaren na França e foi sexto
Imagem: Javier Soriano/AFP

"Já vimos em várias corridas que há uma certa tendência de nós sofrermos mais aos sábados e termos um carro bom para a corrida no domingo, enquanto eles sofrem com a administração dos pneus. Mas quando você larga em oitavo e décimo não espera terminar em quinto e sexto, porque pode ficar preso atrás de outros carros", disse um surpreso Andreas Seidl, chefe da McLaren, sobre o desempenho de sua equipe

Do lado da Ferrari, há pressa para entender por que o carro sofreu muito mais com graining que os rivais no domingo. "Realmente precisamos entender, porque os dois carros tiveram muita dificuldade, perderam muito ritmo", disse Leclerc. "Nós temos um bom ritmo nas duas primeiras voltas e depois todos seguem na mesma tocada e nós começamos a perder terreno. É nisso que precisamos trabalhar no momento e realmente precisamos entender esse problema".

A pressa tem motivo: a Fórmula 1 já volta às pistas neste fim de semana, no primeiro de dois GPs em sequência na Áustria, onde a previsão indica clima instável, com uma frente fria chegando na sexta-feira de treinos livres. As temperaturas, que estão na casa dos 30ºC de máxima nos últimos dias, devem cair, e há a possibilidade de chuva. É claro que a chuva traz consigo muita imprevisibilidade, mas pelo menos a queda na temperatura pode ajudar a Ferrari com seus pneus.