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História de Sérgio Maurício com a Fórmula 1 teve proibição do pai e "fuga"

Sérgio Maurício - Divulgação/SporTV
Sérgio Maurício Imagem: Divulgação/SporTV

Colunista do UOL

27/03/2021 04h00

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Que Sérgio Maurício é apaixonado por automobilismo, qualquer um que já ouviu alguma de suas narrações na Fórmula 1 ou na Stock Car percebe logo de cara. Mas o que poucos sabem é que a história dele com o esporte teve um capítulo curioso: quando criança, ele chegou a mentir para o pai e ser acobertado por um tio para assistir às corridas.

Foi em 1973, quando o agora narrador oficial da Fórmula 1 na TV Bandeirantes tinha 10 anos. Ele e o pai estavam acostumados a ver as corridas juntos, o que, na época, também significava que eles viam muitos acidentes sérios, já que os anos 1970 ficaram marcados como a era mais perigosa da história da F1. Não era raro ver pilotos presos dentro de carros em chamas, e foi depois de uma cena dessas que o pai de Sérgio Maurício o proibiu de assistir às corridas.

"Foi o acidente fatal do Roger Williamson no GP da Holanda. O David Purley, que era amigo dele, parou e saltou do carro para tentar ajudar, numa cena parecida com aquela do Senna com o Erik Comas (em 1992, no GP da Bélgica). Naquela época, não tinha a mesma tecnologia de hoje. Os caras sentavam em verdadeiras banheiras de gasolina. O carro explodiu, pegou fogo. E meu pai me proibiu de ver corrida", contou o narrador ao UOL Esporte.

"Só que meu tio era um aficionado por corridas. Então, nos domingos em que tinha GP, eu comecei a ir na casa dele. Eu ficava inventando desculpa 'ah, eu vou na casa do tio comer bolo', 'vou lá tomar guaraná'. Até que meu pai percebeu e disse: 'que coisa é essa de ir na casa do tio todo dia que tem corrida? Que coincidência, né? Logo na casa dele, que gosta tanto de corrida?'. Aí, ele acabou vendo que era inevitável e me deixou ver corrida em casa. O amor que eu tenho pela F1 é uma coisa de criança."

Sérgio Maurício começou a trabalhar como narrador esportivo com apenas 16 anos, no rádio. Alguns anos depois, insistiu para que sua emissora na época, a Rádio Carioca, transmitisse o GP do Brasil de 1988. Foi sua primeira narração da categoria. "Eu sou um apaixonado por esporte e, no Brasil, o maior deles é, obviamente, o futebol, e eu sempre gostei muito. Mas sempre sonhei em narrar a F1. Eu consegui, em 88, convencer o diretor da rádio a transmitir o GP, fazendo um "geladão" em casa, tivemos que alugar linhas telefônicas para fazer. Então é por isso que eu digo que é um sonho que se transformou em realidade".

A primeira corrida que Sérgio Maurício narrou na TV Globo foi o GP da Áustria de 2014, que acabou sendo a última pole de Felipe Massa e, obviamente, também de um brasileiro na Fórmula 1. Na época, a emissora carioca ainda mandava o narrador e comentaristas para a pista, e Sérgio Maurício guarda na memória o momento em que Lewis Hamilton rodou quando estava tentando bater o tempo do então piloto da Williams. "Foi bem na minha frente!".

Nos últimos dois anos, contudo, Sérgio Maurício já não estava narrando mais as corridas, desde que a Globo decidiu acabar com a versão da corrida feita pela equipe do SporTV, mas seguiu conectado com os fãs de automobilismo, ele acredita, muito em função das transmissões dos treinos livres que fez no canal a cabo nos últimos 13 anos.

"O grande fator para o telespectador —e a Band também— não ter esquecido de mim foi a narração dos treinos porque o treino livre às vezes é muito tedioso. Eu lembro uma vez, em Monza, em que os pilotos demoraram 45 minutos para ir para a pista. E eu fiquei lá, interagindo com as pessoas que participavam. Isso abriu uma porta, deu uma voz para as pessoas, uma intimidade. Eu caí até em pegadinha daquela Oficina Simas Turbo, quebrei a internet com o pessoal rindo de mim! E essa intimidade se refletiu agora."

Isso é algo que Sérgio Maurício vai levar para a nova casa, junto com a paixão do menino que não se assustou com os acidentes dos anos 70. "Eu sei de toda a responsabilidade de ter sido convidado pelo Grupo Bandeirantes e essa responsabilidade é muito grande porque, embora eles tivessem outras opções, foram em cima de mim para que eu viesse. É um orgulho poder trabalhar fazendo a maior categoria do esporte a motor do mundo, uma realização profissional por terem acreditado em mim mesmo sem eu ter sido, digamos assim, um narrador contínuo da F1". E também é a realização de um sonho de criança.