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ReportagemEsporte

Joia do esporte em São Paulo, Baby Barioni fica às moscas sob Tarcísio

Quase 500 dias depois de ser reaberto após uma reforma que durou quase uma década, o Complexo Esportivo Baby Barioni, em São Paulo, está às moscas. A piscina semiolímpica, aquecida, coberta, recebe menos de 30 pessoas por semana. A pista de skate está fechada. "Não tem professor", é o que mais se ouve por lá.

O 'Baby' é vizinho de muro do Parque da Água Branca, na Barra Funda. A piscina de hidroginástica fica a menos de 50 metros, em linha reta, da sede do Instituto Melhor Idade, dentro do parque, que oferece yoga, dança e aulas de arte para idosos.

O natural seria unir o útil ao agradável e oferecer hidroginástica a este público. A piscina é recém-reformada, feita para isto, está em perfeito estado de conservação e recebe limpeza diária. Mas só alguns garotos e garotas que treinam basquete no ginásio ao lado pulam nela de vez em quando.

A Secretaria de Esportes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que atualmente é comandada pela coronel Helena Reis (Republicanos), rescindiu nove termos de autorização que estavam vigentes. No segundo semestre, abriu um chamamento público, que fracassou (uma entidade se candidatou, mas não apresentou documentos).

Um segundo chamamento deveria ter resolução na última quinta (11), mas deu "deserto": nenhuma entidade se interessou pela proposta de oferecer aulas gratuitas à população sem receber dinheiro em troca.

Procurada, a secretaria enviou uma nota à reportagem, que pode ser lida na íntegra ao final deste texto, dizendo que prioriza a promoção do esporte no estado como uma política pública essencial para a população. "O complexo Baby Barioni é utilizado atualmente por organizações, entidades, clubes e atletas para treino, como times de handebol que utilizam a quadra desde janeiro, além de equipes de futsal, vôlei e basquete", afirma. No Diário Oficial, não há nenhum termo de autorização de uso publicado durante a gestão.

A pasta não respondeu a quatro das seis questões enviadas, entre elas quantas pessoas são atendidas semanalmente, por que a piscina não é aberta ao público geral e tem ocupação tão baixa, por que não são oferecidas aulas de hidroginástica e por que a pista de skate está fechada.

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Imagem: Demétrio Vecchioli/UOL

Joia paulista

O Baby é um "legado olímpico". Foi inaugurado em 1945 e reformado a partir de 2013 para ser um centro de treinamento de alto rendimento em São Paulo, na esteira da Rio-2016. Por uma série de enroscos e irregularidades, a obra ficou parada por tanto tempo que o governo de São Paulo teve de devolver R$ 9,2 milhões dos R$ 20 milhões (valores da época) que havia recebido da União em 2014.

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Ela só destravou quando o então governador João Doria (PSDB, hoje sem partido) encontrou barreiras para privatizar o Ibirapuera e prometeu levar parte dos atletas que treinavam no 'Ibira' para a Barra Funda. Isso não aconteceu, mas a obra andou, ao custo de R$ 34 milhões só pela segunda fase. O Baby Barioni foi reinaugurado em uma cerimônia discretíssima em dezembro de 2022.

Visitei o complexo esportivo na época, e voltei lá na última terça (9), por volta das 15h, quando fui a primeira pessoa a assinar a lista de visitantes no dia.

Pela piscina, de manhã, haviam passado não mais do que 20 pessoas, em duas turmas, que foram selecionadas no começo do ano passado e treinam lá às terças e quintas de favor, em troca de doação de cloro e outros produtos para a piscina, segundo me contou um funcionário. Segundo ele, não há abertura de vagas há mais de um ano por falta de professores. À noite, alguns poucos alunos da equipe de natação da PUC treinam lá.

Por protocolo de segurança, só pude chegar perto da piscina acompanhado de um salva-vidas, policial civil, que não costuma ter vidas para salvar por ali. Enquanto isso, a piscina do Ibirapuera, também estadual, está fechada ao público, sob a justificativa de que não há salva-vidas — a desculpa é a mesma desde 2019, pelo menos.

A pista de skate, inaugurada em dezembro de 2022, está fechada há meses. Estevan Rodrigues, então chefe de gabinete da secretaria, me disse um mês atrás que ela logo seria reaberta, porque o problema havia sido resolvido. Combinamos que maiores detalhes seriam fornecidos por email, assim como informações sobre a piscina do Ibirapuera.

No dia combinado para a resposta, 22 de março, a assessoria de imprensa da pasta informou que Rodrigues não trabalhava mais na secretaria. Ele nunca foi exonerado, mas não dá expediente desde aquele dia, quando toda a cúpula que cuidava do Ibirapuera também foi mandada embora. Hoje o diretor responsável tanto pelo Ibirapuera quanto pelo Baby é o major Ricardo Santos, da Polícia Militar.

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As dúvidas sobre o Baby e sobre o Ibirapuera nunca foram respondidas.

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Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Quase ninguém usa

O problema estrutural da pista de skate é o colapso do sistema de passagem de águas pluviais por baixo dela, o que demandaria quebrá-la para chegar até os canos estourados. A secretaria afirma que "obras de manutenção estão em andamento", mas a reportagem, in loco, não viu qualquer obra ali.

Ao lado da pista, na terça, a academia estava vazia. Também não havia ninguém nas sete salas de luta, que em tese deveriam ser voltadas para sete modalidades diferentes, ou no espaço destinado à melhor idade. O alojamento, com seis andares, novinho em folha, pronto para receber 200 atletas de uma só vez, estava fechado. A coluna apurou que ele só foi usado em uma ocasião, em meados do ano passado, nos Jogos Escolares.

No total, cerca de 60 jovens praticavam esportes, em três quadras, na terça à tarde. As duas quadras cobertas eram ocupadas por times do Centro Olímpico, da prefeitura, que costumam treinar no COTP, no Ibirapuera. A estrutura municipal, porém, passa por reformas, que estão prestes a acabar. Quando isso acontecer, eles voltam para lá. Um time de hóquei sobre patins também informa treinar duas vezes por semana lá.

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Já o ginásio do Baby Barioni, que ficou famoso pela Forja dos Campeões de boxe, recebia dois times de basquete 3x3, um masculino e outro feminino, que treinam lá desde janeiro e também se revezam na academia. O espaço já recebeu algumas competições desde a reabertura.

O prédio administrativo, que no passado era casa de diversas federações, também está fechado. Em algum momento a sede da Secretaria de Esporte deve sair de um prédio histórico no centro de São Paulo, que o governo quer leiloar, e mudar para lá. Isso está sendo prometido desde 2019.

Outro lado

"A Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo prioriza a promoção do esporte no Estado como uma política pública essencial para a população. Sobre o Conjunto Desportivo Baby Barioni, o complexo é utilizado atualmente por organizações, entidades, clubes e atletas para treino, como times de handebol que utilizam a quadra desde janeiro, além de equipes de futsal, vôlei e basquete.

Na piscina, há aulas de natação para cerca de 120 alunos adultos que dominem pelo menos três modalidades. Para se cadastrar, basta ao interessado dirigir-se à recepção do conjunto munido de documento com foto. Havendo abertura de vagas, o candidato será informado por telefone ou e-mail.

A Secretaria já realizou dois chamamentos públicos e busca alternativas para oferecer aulas gratuitas de diversas modalidades esportivas no local.

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Os alojamentos também são utilizados e chegam a receber cerca de 600 atletas por mês. Além disso, no Baby são realizados eventos esportivos e culturais. Na pista de skate, obras de manutenção e pequenos reparos estão em andamento e a previsão é que em maio o espaço já esteja liberado para a população."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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