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Eleição no COB é casca de banana em que Brasil olímpico não pode escorregar

Existe uma casca de banana no caminho do Brasil até as Olimpíadas de Paris. Quem colocou ela lá foi o próprio Comitê Olímpico do Brasil (COB), que agora precisa fugir da tentação de escorregar nela.

As eleições serão somente no fim do ano e mesmo o registro de chapas só acontecerá depois dos Jogos Olímpicos. Mas uma regra exige que quem queira se candidatar a determinados cargos deixe os postos atuais até 27 de março.

Ontem (21), Marco La Porta entregou o cargo de vice-presidente do COB e Yane Marques renunciou à sua cadeira na Comissão de Atletas (CACOB), onde era presidente. Os dois serão candidatos na eleição presidencial, mas o caminho é longo até ser decidido se ambos tentarão a presidência, como concorrentes entre si, ou se vão juntar forças para tentar duelar contra o favorito Paulo Wanderley.

O presidente está em situação privilegiada, e não precisa se descompatibilizar. Seguirá se relacionando institucionalmente com todos os eleitores, incluindo presidentes de confederação e membros da Comissão de Atletas. La Porta, que foi o chefe de missão em Tóquio, já anunciou que vai a Paris, mas desta vez só como torcedor. Agora ex-vice-presidente, tem direito a comprar ingresso e sentar na arquibancada, como qualquer mortal, e só.

A perda de poder por parte de La Porta nos últimos anos já foi reflexo deste processo eleitoral. Eleito na chapa com Paulo Wanderley em 2021, entendia que o caminho natural seria ser candidato à sucessão, mas o presidente preferiu se lançar para uma segunda reeleição, o que não é consenso ser permitido pela Lei Pelé. A ex-ministra Ana Moser, por exemplo, era da tese de que não é.

Já candidato posto a mais uma reeleição, Paulo Wanderley tomou diversas atitudes nos últimos anos que tanto enfraqueceram seus rivais, especialmente La Porta, como alteraram (para o bem ou para o mal) a preparação até Paris. Não há outra explicação plausível para a demissão de Jorge Bichara como diretor de Esportes, depois da ótima campanha esportiva em Tóquio.

Quando isso aconteceu, La Porta se juntou aos atletas criticando a decisão, enquanto Wanderley seguiu, depois, abrindo as portas da rua para vários funcionários da área de esportes próximos a Bichara, e ao próprio La Porta.

O histórico mostra que o COB tem deixado, sim, que decisões importantes sejam influenciadas pelo cenário eleitoral. E a Olimpíada só amplia essas possibilidades. Tudo que acontecer até Paris, e em Paris, de alguma forma vai se conectar com a eleição. Confederações são votantes e podem receber mais ou menos apoio na Olimpíada. Também podem entregar mais ou menos resultados, que podem ser usados por este ou por aquele candidato.

A pouco mais de 100 dias da Olimpíada, pela primeira vez no ciclo o COB tem uma oposição, que fica na corda bamba. Não pode subir o tom, sob o risco de ser acusada de atrapalhar a preparação olímpica, o foco nos Jogos. Também não pode deixar de atuar como oposição, porque há uma eleição no futuro breve, e quem entra nela o faz para vencer.

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O momento do esporte olímpico brasileiro, que não vai bater o recorde de atletas e dificilmente vai se aproximar do recorde de medalhas, já é preocupante o suficiente para que cartolas o sabotem por conta de eleições. O que quem ama o esporte olímpico quer é que o espírito olímpico prevaleça, pelo menos até o fim dos Jogos Olímpicos. Depois disso talvez seja pedir demais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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