Milly Lacombe

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Como o VAR piorou o que já não era bom

Quem viu alguns jogos da rodada inaugural do Brasileirão 2024 deve ter notado o denominador comum: a qualidade da arbitragem. Não foi bom não. Não foi nada bom. Erros e mais erros, com ou sem o apoio do VAR.

O VAR veio para ficar, dizem os defensores da ferramenta. Não tenho a menor dúvida disso. Mas esse determinismo não pode nos impedir de criticar.

Desde a sua chegada, trazendo a ilusão de que a injustiça no futebol iria acabar, o VAR coleciona erros. O VAR erra porque ele coloca o futebol do avesso: ele entra no jogo para analisar frames, imagens congeladas. E o futebol é filme e não fotografia.

Analisar uma imagem enquadrada e paralisada sob múltiplos ângulos faz com que vejamos o que quisermos ver. Tocou, não tocou, estava à frente, não estava? seremos sempre induzidos a enxergar o que nossa bagagem de afetos estiver inclinada a nos fazer enxergar. Além de interromper por longos minutos uma partida, o VAR está sujeito ao erro.

Então, a ilusão de que ele traria justiça ao futebol precisa morrer porque ela só fez aumentar nossa frustração. Antes, a gente sabia que o erro era parte do jogo. Era ruim, mas a gente administrava a raiva. Agora, com a promessa da justiça divina, nossa raiva escalonou.

O futebol comporta uma dimensão de falhas e erros porque ele é uma metáfora da vida. O VAR não trará justiça ao jogo e, se hiperutilizado, vai também jogar contra tudo o que o futebol tem de melhor.

Isso dito, o VAR ainda trouxe para o meio novas esferas de insegurança para a arbitragem que, trepidante com a nova chefia onipresente e capaz de julgar cada gesto, tem errado mais do que o comum.

A primeira rodada do Brasileirão 2024 teve uma infinidade de erros bizarros, com e sem a colaboração do VAR. Acho, sinceramente, que poucos times podem se dar ao luxo de dizer ao fim da rodada: acho que a arbitragem desse jogo foi equilibrada.

A partir daqui, o que fazer?

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Diminuir de imediato o uso do VAR seria o caminho mais confiável. Depois, recalibrar o corpo de árbitros e de árbitras: treinar, educar, orientar. Em seguida, colocar jogadores e técnicos em seus devidos lugares: punir simulações com rigor, punir a rodinha em volta do juiz, punir chiliques e chiliquentos.

Futebol e reclamações convivem há décadas. Não vamos conseguir tirar do jogo a dimensão do erro a menos que coloquemos robôs jogando e robôs arbitrando. Como ainda preferimos pessoas nesses lugares, teremos que conviver com a noção de que erros haverá. O objetivo é diminuí-los ao máximo, coisa que o VAR fracassou em fazer - muito pelo contrário. Desde a sua chegada, tudo piorou.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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