Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

CBF cala e afunda na lama do machismo, da misoginia e do racismo

A seleção de Dorival Junior está na Europa faz três dias. Fará amistosos na Inglaterra e na Espanha. Até o momento eu não vi nenhuma manifestação oficial a respeito do frontal, grotesco e assombroso racismo que tem sido cometido contra Vini Jr regularmente em solo espanhol

Se a CBF escolheu ir jogar na Espanha mesmo depois de os casos de racismo contra seu atleta estarem fora de controle o mínimo que esperávamos era um posicionamento oficial e contundente a respeito do que está acontecendo. O mínimo do mínimo era o enfrentamento no ato da chegada à Europa. Apenas isso justificaria ir a Espanha nesse momento histórico. Mas acho que não teremos nem ações nem manifestações verbais contundentes. Tivemos, pelo contrário, sorrisos e afagos.

O que a CBF vai fazer a respeito do racismo sofrido por aquele que é hoje seu principal jogador? Vini tem 23 anos e está segurando uma horda de racistas sozinho no peito.

Não aguentamos mais faixas, camisetas, hashtags e notas de repúdio. Não servem mais soluções de marketing para problemas sociais. Não venham remendar com esparadrapos as vísceras perfuradas.

E sobre Daniel Alves e Robinho? Vai vexatoriamente calar a respeito dos dois jogadores que por muitas vezes usaram a camisa amarela? Não tem um pronunciamento sobre as condenações? Nadinha? O mundo inteiro repercutindo as condenações e a absurda fiança supostamente paga por Neymar pai e a CBF fazendo o que melhor sabe fazer: a egípcia.

Nesse momento tão marcante em que casos de estupro vêm para a superfície e começam a ser punidos no futebol quem cala apoia a violência de gênero. É bastante simples a associação: calar é apoiar.

O silêncio é, para dizer só um pouco mais, um vexame. Mas é também coerente. Essa é a CBF. Pequena, miúda, frouxa. Me admira muito que anda haja empresas que queiram associar suas marcas a esse estado de coisas. Diz sobre elas também, obviamente.

Quem não calou foi a chefe da delegação, a presidente do Palmeiras Leila Pereira, que se sentiu no dever de se posicionar. Com a atitude Leila aumenta ainda mais a dimensão histórica de estar na chefia dessa viagem. Não fosse uma mulher a chefe da delegação não teríamos sequer essa manifestação.

Vejam, o diretor de comunicação da CBF está agora mesmo citado num processo de violência de gênero como revelou com exclusividade o repórter Lucio de Castro, da Agência Sportlight, para o "The Inquisitor" no texto "Assédio, espionagem, homens armados em eleição: a verdadeira face da CBF". O diretor em questão segue trabalhando com o apoio do presidente como se citado não fosse. Então, a CBF não fala porque não está mesmo nem aí para esse negócio de mulher reclamando de ter sido abusada, assediada etc e tal.

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Daniel Alves e Robinho continuam no Hall of Fame da CBF que, por coerência, deveria inaugurar um Hall of Shame e colocar as imagens de todos os diretores já afastados por malfeitos, além da de seus atletas condenados por estupro. Vai faltar cimento pra construir parede.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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