Milly Lacombe

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CBF faz o impossível: desce mais um andar no edifício da frouxidão

Faz quase três dias que Daniel Alves foi considerado culpado por estupro pela justiça espanhola e, até aqui, a CBF não foi capaz de emitir uma nota a respeito. Nem um pio. Um silêncio eloquente e cúmplice.

Aí está o que pensa a CBF sobre um de seus maiores campeões, chamado por ela de um cara que transcende o futebol (Foi Tite que disse, mas na condição de técnico da seleção), ter sido condenado como estuprador: A CBF não liga. Quem não liga, apoia.

Portanto, para a CBF, está tudo certo com Daniel Alves.

O Bahia, clube que revelou o jogador, se manifestou tirando a foto de Daniel de sua galeria. Os cidadãos de Juazeiro, cidade natal do ex lateral, cobriram sua estátua com saco de lixo. E a CBF? Calou.

Na sexta 23 de fevereiro o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, anunciou investimento no futebol feminino. Chamou reunião do conselho e revelou os números como se estivesse fazendo uma coisa gigantesca. Os números podem ser inéditos mas ainda são baixos para uma empresa bilionária como a CBF. O teatro foi armado, talvez, para fingir que eles se importam com o futebol feminino, com o feminino, com as mulheres.

De teatro estamos fartas.

Seria muito mais efetivo se o mandatário tivesse feito declaração indignada sobre o estupro cometido por um de seus campeões, tirado o nome dele de homenagens rendidas, tirado fotos, anunciado que ofereceria cursos contra o machismo e a misoginia, que todo treinador formado por ela teria que ser aprovado nesses cursos etc. Mas a CBF, por interesses próprios, não toca no tema.

Primeiro porque já teve um presidente afastado por ter sido acusado de assédio sexual. E, mais recentemente, porque seu diretor de comunicação foi acusado da mesma coisa por uma ex-diretora num processo revelado pelo repórter Lucio de Castro para o The Inquisitor.

Ednaldo nada disse, o diretor de comunicação não foi afastado e segue esse jogo aí, olha aqui mais dinheiro para vocês, peguem a grana e agradeçam porque é a primeira vez que recebem tanto, parem de importunar e de ser chatas.

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Parecia que já tínhamos visto a CBF chegar ao último andar desse lamaçal moral, mas não vimos não. A cada hora, o silêncio aprofunda a vergonha.

A boleiragem, aliás, segue o silêncio de sua confederação. Conseguem berrar contra as pedras atiradas no ônibus do Fortaleza mas são incapazes de se manifestar sobre a violência de gênero. Calar é apoiar, claro, mas eles não ligam.

A CBF é uma empresa privada e nosso alcance para protestar contra seus métodos é limitado. Mas eu fico intrigada com os patrocinadores desse circo chamado CBF. Eles se importam com tanta covardia e frouxidão contra as mulheres ou para eles está tudo bem? Fica aqui mais esse questionamento.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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