Milly Lacombe

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Pedro, Weverton, Cassio: Qual o limite da crítica a ídolos?

Em uma semana tivemos três ídolos sendo duramente criticados por suas torcidas: Weverton, Pedro e Cassio. Aqui alguns rubro-negros poderiam argumentar que Pedro ainda não é ídolo. Compreensível. Na dimensão da idolatria, Gabigol em má fase ainda é maior do que Pedro tinindo. Mas Pedro é jogador de seleção, é atacante acima da média e serve de exemplo para muitos jovens baterem no peito e dizerem: Pedro é do Mengão. Então vou tomar a liberdade de chamá-lo de ídolo para fins da reflexão a seguir.

Weverton é um dos maiores goleiros da história do Palmeiras. E olha que ele vai no mano-a-mano com outros craques formados em uma escola de goleiros que, sem exageros, está entre as melhores do mundo. Ainda assim, bastou tomar uma decisão equivocada na falta batida por Garro, e que resultou no empate contra o maior rival para, ser xingado.

Antes, havia contra ele uma crítica feita na miúda sobre uma suposta incapacidade de defender penaltis. Muitos palmeirenses, e meu amigo Mauricio Svartman, são-paulino, foram às contas para descobrir que não era exatamente Weverton que não catava nas finais: eram os jogadores do Palmeiras que perdiam muitos penaltis em decisões e comprometiam a análise de sua performance.

Está na conta dele a defesa do penalti de Tiquinho Soares naquela virada absurda contra o Botafogo pelo Brasileirão 2023. Sem a citada defesa provavelmente não haveria título.

Mas Weverton não foi poupado da fúria da torcida depois de falhar no clássico.

Será que estamos na fase mais imediatista de nossas vidas e por isso não toleramos mais falhas? Tudo está mais descartável do que nunca. Tudo pode ser trocado com um estalo de dedos. Estaríamos usando essa lógica com nossos ídolos? Não toleramos mais o fracasso, a falha, a derrota. Não somos mais capazes de compreender que dentro de uma grande conquista moram muitos fracassos porque são eles que nos formam e nos fazem ganhar couraça moral. Isso, claro, desde que encaremos de frente nossas falhas e não tentemos passar por elas como se nada fossem.

Teria sido bacana se o goleiro palmeirense tivesse se manifestado depois da falha. Trazido o erro para a ordem do humano. Errei, tenho que viver com isso, quero usar para melhorar. Alguma coisa assim.

O pensamento me leva a Cassio.

Considero Cassio o maior goleiro da história do Corinthians e, mesmo assim, em recente entrevista ao Podcast do brilhante Lucca Bopp, eu disse que preferia Dida a Cassio. Acho que para mim Cassio apagou quando puxou a paparicação a Cuca e na hora de celebrar uma classificação suada na Copa do Brasil deu as costas para a torcida e levantou Cuca como herói. Ali nos separamos. Acontece. Ídolos deixam de ser ídolos das formas mais dolorosas.

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Mas, mesmo distante de um antigo ídolo, é preciso reconhecer seu tamanho e sua importância. Cassio merece estátua em Itaquera em tamanho real: 5 metros. Merece feriado, merece espaço exclusivo no museu, merece documentário. E a torcida do Corinthians merece o reconhecimento por parte da comissão técnica de que Cassio não está bem. E faz tempo.

Ainda com Vitor Pereira constatei que Cassio estava levando muito golaço. Onde as pessoas viam falta de sorte e diziam "que azar, contra o Corinthians, todo mundo faz golaço" eu via falhas. Só tomar golaço é indicativo de falta de impulsão. E, desde então, só piorou. Acho que as críticas a Cassio fazem mais sentido do que as críticas a Weverton. Até porque o Palmeiras ganha, ganha e ganha. Já o Corinthians?

Contra o Palmeiras, Cassio fez uma partida bastante ruim. Falhou nos dois gols e depois saiu do gol destrambelhadamente e acabou expulso. Sua expulsão poderia ter resultado em uma goleada histórica do rival se Ogum não estivesse muito atento nesse dia e decidisse realizar um milagre em Barueri. Mas milagres não acontecem a todo instante e o Corinthians precisar ter no gol um goleiro em boa fase para não passar pelo que tem passado.

Chegamos a Pedro.

Aí, para mim, as vaias não fazem sentido algum. Pedro é atleta dedicado e goleador. Passou por assédio moral e físico quando levou um soco do assistente de Sampaoli e seguiu firme. O Flamengo tem um timaço, vem voando nessa fase preparatória, pode entrar em um ano glorioso. Por que desestruturar uma de suas peças chave sendo que Pedro nem em má fase está?

Aqui a explicação é, para mim, a elitização do futebol. Tá, ok, o Maracanã vaia até minuto de silêncio como o querido Nelson Rodrigues, autor da frase, já deve estar exausto de escutar. Mas perder a paciência com um ídolo que está jogando satisfatoriamente não faz sentido e nem é coisa inteligente a se fazer.

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A geral vaiaria Pedro? O geraldino faria isso com ele? Eu apostaria que não vaiaria. As vaias, aliás, vêm sempre dos setores mais caros do estádio, daquela parcela de pessoas que os clubes hoje chamam de clientes e não de torcedores. Essa turma que não admite ficar em filas, que manda "você sabe com quem está falando?", que reclama de tudo sempre.

São, portanto, três casos diferentes mas que ensinam uma coisa que todo jogador deveria saber: não há ídolo maior do que o clube. Ídolos passam; o amor por uma camisa fica.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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