Milly Lacombe

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Passou da hora de chamarmos o massacre usando seu verdadeiro nome

O noticiário usa os termos Guerra Israel x Hamas para miseravelmente definir o que estamos vendo acontecer com a população palestina. Seria hora de chamarmos as coisas pelo nome que elas têm a fim de informar com honestidade o real caráter do que está ocorrendo.

Primeiro, não é guerra. Guerra envolve dois lados na luta. Não há dois lados. Há um dos exércitos mais equipados do mundo, que se utiliza das armas mais letais e modernas, contra mulheres e crianças majoritariamente (2/3 das vítimas em Gaza é composta por idosos, mulheres e crianças. Tratam-se de dados, não de achismos). Depois, não é contra o Hamas já que quem morre são crianças e suas mães. E, por fim, não é apenas Israel. E essa parte precisa ser falada.

O que estamos vendo acontecer na Palestina é um genocídio que tem a assinatura dos Estados Unidos. O mesmo país que naturalizou monstros como Hitler e Mussolini, o mesmo que chamou Nelson Mandela de terrorista por décadas enquanto, pelo mesmo período, recebia com honras Saddam Hussein em seu território, o mesmo que colocou seus joelhos sobre o pescoço de George Floyd até ele sufocar.

Guerra Estados Unidos x Palestina. Assim deveríamos chamar o massacre.

Sem as armas e o apoio diplomático dos Estados Unidos, que veta qualquer tentativa de cessar fogo e segue mandando bombas para Israel, não haveria o genocídio.

Sem os Estados Unidos, Netanyahu teria perdido seu poder, sido afastado, e Israel poderia, ela mesma, experimentar alguma paz.

Sem os Estados Unidos é possível que os países árabes e Israel já tivessem firmado algum tipo de trégua e começado a viver em comunhão. Se não houvesse interesse econômico estadunidense no Oriente Médio, Israel certamente existiria sem se sentir ameaçada. Lembremos que a existência do Hamas é uma co-criação de Netanyahu, que só será salvo de seus atos através da perpetuação de um estado de guerra eterno, com apoio estadunidense.

Em dezembro de 2023, quando o caráter genocida do massacre já era bastante real, o governo de Joe Biden aprovou por duas vezes o envio de mais armas para Israel sem sequer passar a decisão pelo Congresso. Historicamente, os Estados Unidos ganham bilhões todos os anos armando Israel. Os Estados Unidos lucram muito mantendo a imagem de uma Israel ameaçada pelo Oriente Médio. Toda bomba que cai sobre um corpo feminino ou infantil em Gaza tem a assinatura do governo dos Estados Unidos.

Joe Biden é tão culpado quanto Bibi Netanyahu. Os Estados Unidos são tão, ou mais, responsáveis do que Israel.

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Não nos deixemos levar por narrativas falsas de possíveis incidentes diplomáticos que a declaração de Lula teria causado. Não houve isso. Lula deu um passo à frente para apontar para o horror que estamos testemunhando de forma covarde, e os grandes líderes mundiais calaram, deixando bastante claro que concordam.

Lula errou nas palavras? Podemos debater se errou ou não errou. Temos que escutar o que diz a comunidade judaica, temos que respeitar limites, dores, traumas, medos, história, passado, lugares de fala. Tudo isso deve ser debatido, compreendido, absorvido.

O que não podemos debater é a tragédia em Gaza, os corpos de crianças, as mães assassinadas, um milhão de pessoas sem suas casas, a fome, a morte por infecções, a dor, o sofrimento, as cirurgias que precisam ser realizadas sem anestesia.

Sim, o dia 7 de outubro de 2023 e seus horrores também não estão em debate. Israelenses e palestinos merecem viver, merecem proteção, merecem paz, integridade, futuro, segurança.

Por isso, mudemos a forma como falamos do conflito.

Os Estados Unidos estão bombardeando Gaza. Os Estados Unidos estão assassinando mulheres e crianças palestinas. Os Estados Unidos estão cometendo terrorismo de estado. Os Estados Unidos estão atuando em nome do genocídio.

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A guerra é dos Estados Unidos contra a indefesa população palestina.

Chamemos a coisa pelo nome que ela tem porque só é possível começar a resolver um problema quando acessamos sua real dimensão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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