Por que simplesmente não desistimos?
Passando uns dias em Copacabana, no Rio, fui à rua realizar tarefas mundanas debaixo de um calor de duzentos graus. Calçadas lotadas de pedestres, de ambulantes e de pessoas abandonadas pela sociedade. Avenidas lotadas de carros, vans, motocicletas, bicicletas e ônibus que ziguezagueavam sem nenhuma ordem aparente, buzinando a cada metro perigos iminentes a frente de todos. Uma ideia bastante particular de inferno, caos e desespero.
A cada dois passos, alguém suplicando por uma moeda ou um pedaço de pão. Vendedores às centenas, milhares, tentando comercializar qualquer coisa, de pano de prato a carregador de celular passando por uma imensa bandeira, vejam só, do Palmeiras. Andando por essa cenário, carregando em meus ombros duas sacolas pesadas e suando copiosamente, me peguei pensando por que não desistimos? Por que seguimos insistindo? Seria esse planeta o inferno de um outro?
Transpirando mais a cada passada compreendi que não desistimos porque a vida se impõe sobre nós. Se impõe forte e soberana. Queremos viver. Queremos sorrir, amar, beijar, conversar. Queremos mais do que um teto e uma fatia de pão. Queremos conviver e nos recusamos a desistir mesmo diante das maiores adversidades. Uma migalha de vida é chamamento para desejar mais um tico mais de vida. Mais vida. Um pouco mais de vida, alguém pode me ajudar por favor.
A vida se impõe mesmo quando nada ao redor indica que assim poderia ser. Somos a planta que rasga o concreto e sai do outro lado pequenina mas encorajada a seguir. A razão talvez nos mandasse desistir. Olhem em volta. Espiem o noticiário. Polícias, milícias, guerra, fome, genocídio, queimadas, temperaturas insanas, a privatização de todas as coisas comuns, riquezas sendo acumuladas aceleradamente pelos mesmos de sempre. Não faz sentido e não parece haver saída. Mas a paixão entra e diz não. Não agora. Não ainda. Me ofereçam uma fresta de luz. Um olhar. Um bom dia. Mais um pouco de vida por favor.
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