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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morre de covid o motorista que transportava time do River

Capa do jornal argentino "Olé" destacando o drama do River na Libertadores - Reprodução
Capa do jornal argentino "Olé" destacando o drama do River na Libertadores Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

26/05/2021 14h01

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O jornalista esportivo argentino Gustavo Yarroch informou em suas redes sociais no começo da tarde do dia 26 que morreu de covid um dos motoristas que fazia os traslados do time do River. O nome dele era Gustavo Insúa.

O time do River teve quase todo o seu elenco contaminado recentemente e foi notícia no mundo inteiro. Embora foquemos nos jogadores quando falamos de futebol e pandemia, todos os trabalhadores que atuam na comissão técnica também estão expostos. São roupeiros, massagistas, preparadores físicos, psicólogos, auxiliares técnicos, nutricionistas, fisiologistas, dirigentes etc.

A morte de Insúa é apenas um caso de fatalidade envolvendo esse futebol profissional que se recusa a parar, mas certamente há outras fatalidades.

Que todos os trabalhadores envolvidos no negócio do futebol usem máscaras PFF2 enquanto fora de campo deveria ser obrigatório. Isso inclui vestiários, túnel, entrevistas, transporte, profissionais que estejam no banco de reservas etc. Mas o que vemos nas imagens que antecedem um jogo são muitos profissionais sem máscara, com máscaras no queixo, com nariz para fora - e eu raramente vejo uma máscara PFF2 sendo usada pela comissão técnica.

Máscaras desse tipo, aliás, deveriam ser fornecidas pelos empregadores cujos negócios seguem funcionando de forma presencial: São caras e nem todos nós podemos pagar por elas. Postos de gasolina, supermercados, lojas, restaurantes e quaisquer outros empreendimentos que estão expondo seus funcionários ao vírus precisariam fornecer a eles as PFF2. Num mundo justo a obrigatoriedade incluiria os aplicativos de entrega e de transporte que gostam de chamar seus empregados de "sócios" justamente para escapar desse tipo de situação.

A Conmebol, por exemplo, se resume a pedir, antes dos jogos da Libertadores, um minuto de silêncio sem nem bem explicar o porquê do silêncio, seguido da frase "acredite sempre".

O que essa frase quer dizer fica a critério de cada um. Acredite no seu time? Na ciência? Na força do vírus? No contágio? Na salvação? Em vida depois da morte? Em bruxas? Não sabemos.

A CBF, as federações e as emissoras que transmitem os jogos fazem um minuto de silêncio e emendam o ritual com o número de infectados, o de mortos e o que dizem ser o número de vacinados. São informações que mais confundem do que ajudam.

Diante do número de infectados, o número de mortos pode parecer pequeno se a informação não for contextualizada - e ela não é. E o número de vacinados não se refere ao total de imunizados - ou seja, aos que tomaram as duas doses da vacina, o que seria um número bem menor. Se é para dar números, eles precisam ser colocados em contexto.

O que fazem Conmebol, CBF e Federações é pouco. É nada. Estamos morrendo às centenas de milhares e se as entidades que organizam o futebol não querem pará-lo para não perder dinheiro deveriam, pelo menos, ser claras em relação à mensagem que estão passando. Campanhas sobre a força do vírus, sobre como se prevenir, sobre a importância social do futebol, sobre a s formas corretas de usar a máscara... são muitas as possibilidades de comunicar ações que podem salvar vidas.

Pedir um minuto de silêncio antes de cada jogo seguido de informações e frases vazias de significado é uma infâmia.

Gustavo Unsúa era apenas um desconhecido para mim e para você. Mas para alguém que não sabemos quem é ele representava o universo.