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Marília Ruiz

Efeitos da pandemia: estamos normalizando bizarrices

18/04/2020 15h45

O mundo inteiro está atrás da saída médica e segura para as portas das casas, das escolas, das lojas, das empresas, dos restaurantes e também dos estádios reabrirem.

Médicos, biomédicos, matemáticos, gestores públicos e até irresponsáveis fazem as suas apostas de quando e como isso poderá acontecer. Quanto mais técnica opinião, entretanto, menos certezas: a pandemia do novo coronavírus segue sendo um desafio para que políticos de todas as cores tomem decisões definitivas sobre a retomada da economia.

Pois muito bem. Devem estar todos mal informados.

Os dirigentes do futebol (digo futebol, porque a nada importante Olimpíada foi adiada para 2021) estão prestes a anunciar a saída para essa estagnação que empurra o planeta para a recessão do século (por favor, avisem o TRUMP e a OMS!!!). Grupos de médicos reunidos a pedidos dos cartolas da FPF, da Ferj, da Conmebol e de outras entidades estão próximos a anunciar um protocolo de saúde tal que a bola possa voltar a rolar o mais rápido possível.

Em entrevista para o Blog do Perrone, neste UOL, o ótimo cirurgião Moisés Cohen, cujo currículo não preciso dar CTRL C CTRL V, disse que algumas medidas "inovadoras" terão de ser tomadas para que as partidas sejam realizadas. Cohen chefia o grupo reunido pela FPF para auxiliar os clubes a retomarem as suas atividades em 1 de maio, quando acabam as férias dos jogadores.

Este BLOG apurou que a previsão otimista da entidade é de retorno do Paulista-20 em 16 de maio. Preocupada com contratos de patrocínio e de direitos de TV, a federação segue afirmando que o Estadual será disputado tal qual ele estava programado do ponto de vista formal e legal - o desmantelamento dos elencos da maioria dos clubes é um efeito colateral da pandemia que não está sendo levado muito em conta (trata-se da minha opinião, frise-se).

Recomendo fortemente a leitura do post do Blog do Perrone, mas cito aqui algumas das ditas "inovações" relacionadas pelo médico que, grifo, é bem mais realista em relação à volta dos torneios e não fixou data alguma para que se implementasse o Protocolo de Saúde que tem capitaneado:

"Temos que dar o exemplo, mesmo se tivermos segurança de que ninguém está contaminado. Então, faz o gol, pula sozinho para conmemorar. Se todo mundo se abraçar, imagina o reflexo que isso pode ter no torcedor. O cara que está assistindo pela TV vai falar: 'se eles estão se abraçando não tem perigo'. Daí ele pode sair abraçando todo mundo", afirmou Cohen.

Fiquei na dúvida, entretanto, sobre algumas coisas. Gostaria de saber também se os cartolas vão proibir o beijinho maroto na bola antes do pênalti, se as faltas serão canceladas (os jogadores usarão armaduras para evitar o suor dos outros 21 em campo?) e se haverá álcool em gel na lateral para desinfecção das mãos antes dos laterais.

Grata.

PS: esse texto claramente contém uma série de ironias bem fáceis de serem identificadas. Por favor, caprichem na interpretação de texto.