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Luís Rosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

12 de junho de 1993, memória do título mais marcante como palmeirense

Evair e Antônio Carlos comemoram gol do Palmeiras na final do Paulistão 1993 contra o Corinthians, no Morumbi - DJALMA VASSAO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Evair e Antônio Carlos comemoram gol do Palmeiras na final do Paulistão 1993 contra o Corinthians, no Morumbi Imagem: DJALMA VASSAO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

12/06/2023 04h00

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Fazia frio naquele 12 de junho de 1993, algo incomum no outono em Sertãozinho, cidade do interior paulista, onde eu nasci, em fevereiro de 1972, fui criado e, até me mudar para São Paulo, jamais tinha gritado "campeão" com o meu Palmeiras.

Antes da primeira partida da decisão contra o Corinthians, eu combinei com um grupo de amigos, que, independentemente do que ocorreria no dia 6 de junho, iríamos nos reunir na casa dos meus pais para um churrasco.

Havia quatro meses que eu estava morando em São Paulo, confiante de que eu me tornaria um jornalista, mas em nenhum momento pensei em me especializar na área esportiva.

Bom, vamos falar da vida como torcedor palmeirense. Empolgação não faltava, afinal, com o timaço montado graças à cogestão com a multinacional Parmalat, eu achava que, enfim, seríamos campeões, mas eu me senti culpado, coisa de quem sempre se achou um pé-frio, pelo que aconteceu no primeiro jogo.

Após quatro horas de fila na antiga sede da Federação Paulista de Futebol, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, eu consegui comprar o ingresso para o primeiro jogo. Na época, em alguns setores as duas torcidas podiam assistir aos jogos juntas, e eu fiquei em meio a muitos corintianos no setor de cadeiras térreas do Morumbi.

Só que sem me manifestar, ainda mais pelo que aconteceu no começo da partida e o desempenho bem abaixo dos palmeirenses.

Dali, com visão privilegiada, eu vi Neto cobrar a falta, a bola viajar pela área, até que Viola, com um salto improvável, aproveitou o descuido do goleiro Sérgio e fez o chamado gol "porco", com a sua imitação que depois foi usada para motivar os palmeirenses.

Fiquei incrédulo com a derrota e tremendo o pior para o segundo jogo. Duro foi aguentar a gozação dos amigos durante toda a semana na faculdade de jornalismo.

Dos palmeirenses da sala, eu era o mais pessimista. Foram eles que me trouxeram à realidade e que tínhamos, sim, muitas chances de acabar com a fila de títulos, que perdurava desde 1976, quando o Palmeiras conquistou o Campeonato Paulista daquela edição.

Por causa do jogo da seleção brasileira nos Estados Unidos, a decisão foi no sábado, dia 12 de junho, Dia dos Namorados.

Com a ajuda do meu saudoso pai, organizamos a casa para recebermos os amigos. Como fazíamos em jogos de Copa Mundo, televisão na varanda, muita carne, cerveja e fé que daria tudo certo.

Sou de uma família de santistas, mas os meus pais nunca se esforçaram ou impuseram que eu me tornasse mais um alvinegro. Aliás, como eles não aguentavam mais me ver sofrendo, isso desde os sete anos de idade, quando, influenciado por vizinhos, virei palmeirenses, ambos entraram no clima da torcida no famoso "agora vai" e curtiram o churrasco e a farra com os meus amigos.

Sinceramente, o título veio com o gol do Zinho. Com 1 a 0 no placar, eu tinha certeza de que era questão de tempo gritar "é campeão" pela primeira vez.

Eu fiquei tão insuportável, que até liguei o rádio e sintonizei a Bandeirantes, com narração de Fiori Gigliotti, para acompanhar a partida, isolado, pilotando a churrasqueira. Meus amigos, alguns não palmeirenses, se revezavam comigo nos momentos que eu, digamos, ficava mais calmo.

Isso só aconteceu definitivamente no segundo tempo, com os gols de Evair e Edílson. Pelo regulamento, o troco de 3 a 0 não dava o título. Era preciso jogar a prorrogação, mas a vantagem era do Palmeiras, que podia empatar.

No primeiro tempo da prorrogação, o gol histórico. Evair, letal na cobrança de pênalti, me fez soltar o "grito de campeão".

Do jogo, não me lembro de mais nada. Fomos comemorar na principal avenida de Sertãozinho, uma festa inesquecível, que só não fiquei até varar a madrugada porque o corpo pediu banho e cama.

Voltar a São Paulo na segunda-feira como campeão pela primeira vez foi a glória. Na faculdade, nós palmeirenses estávamos, claro, insuportáveis. Para ajudar nosso professor de Introdução ao Jornalismo, Júlio Veríssimo, um mestre com quem tive o prazer de ser colega de profissão na Folha de S. Paulo e palmeirense fanático, comandou a gozação para cima dos rivais, principalmente, claro, dos corintianos.

Pouco mais de três anos depois desse título, eu comecei a trilhar o caminho como jornalista esportivo. Faltava menos de um mês para terminar a faculdade, quando surgiu essa oportunidade.

Ao longo de quase 27 anos de profissão, posso dizer que o fanatismo se perdeu logo que fui contratado como estagiário no extinto Jornal da Tarde. Tanto que nem sou daqueles que escancara o time que torce, ainda mais nos últimos anos, diante do patrulhamento ostensivo das redes sociais e antissociais. Nada contra com os meus colegas de profissão que fazem questão de dizer para qual clube torce.

Esse distanciamento me faz ter discernimento de dizer aquilo que eu penso, criticar e elogiar e, como já aconteceu como colunista do UOL, ser chamado de anti-palmeirense. Isso é bem divertido.

Aos palmeirenses, que vivem uma fase iluminada, celebrem a história de 30 anos deste título incrível, com o devido valor, afinal, neste Dia dos Namorados, o amor verde e branco está no ar.