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Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

UEFA poderia punir Dinamarca se jogadores se recusassem a voltar a campo?

14/06/2021 17h08

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Por Gabriel Coccetrone

Em entrevista ao 'Good Morning Britain', o ex-goleiro Peter Schmeichel disse que acredita que a Uefa ameaçou e pressionou a Dinamarca com a derrota por W.O (3 a 0) caso os jogadores não voltassem ao campo para reiniciar a partida contra a Finlândia, pela Euro 2020, após a parada cardíaca do meia Christian Eriksen no final do primeiro tempo.

"Eu vi a nota da Uefa dizendo que estavam seguindo um conselho dos jogadores, que os atletas insistiram para jogar. Eu sei que não é verdade. Eles tinham três opções: jogar os 50 minutos restantes imediatamente, jogar os 50 minutos no último domingo ou abandonar a partida e perder por 3 a 0. Foi desejo dos jogadores? Eles tinham escolha? Eu acho que não", disse o ídolo da seleção dinamarquesa.

A declaração de Schmeichel causou espanto e revolta de muitos amantes do futebol contra a Uefa pela tamanha falta de sensibilidade diante do caso. Saindo da questão humanitária, é preciso esclarecer: a entidade de fato poderia aplicar W.O caso os jogadores da Dinamarca se recusassem a entrar em campo?

"A princípio, a UEFA poderia punir a Dinamarca, de acordo com o artigo 30.01 do regulamento da competição. Além disso, a associação dinamarquesa poderia ser prejudicada financeiramente, tendo em vista que o artigo 30.05 dispõe que a associação que for responsável pela incompletude de uma partida, perderá o direito de receber pagamentos da UEFA", avalia Pedro Juncal, advogado especialista em direito desportivo.

"A Uefa poderia aplicar o W.O à Dinamarca caso os jogadores se recusassem a entrar em campo. A entidade não prevê em seu regulamento para esta competição situações como essa justamente para evitar que partidas tenham que ser adiadas", afirma Brice Beaumont, advogado especializado em direito desportivo na França.

No entanto, Pedro Juncal explica que em casos de força maior, a entidade pode fugir do que diz exatamente a regra e tomar outras medidas.

"O regulamento da competição contém o art. 69, o qual dispõe sobre as chamadas 'circunstâncias não previstas' (casos de força maior, por exemplo) pelo código. Acredito que se encaixa à situação pela qual passou o Eriksen e, portanto, o painel de emergência da UEFA/Presidente da UEFA/Secretário Geral poderiam/deveriam adotar as medidas cabíveis. Neste sentido, era sim possível, na teoria, que se entendesse pela proteção psicológica dos atletas e remarcassem a partida para outro dia", completa o advogado.

Na primeira entrevista pública após o caso, o goleiro Kasper Schmeichel e o atacante Martin Braithwaite lamentaram nesta segunda-feira (14) a retomada do jogo enquanto eles ainda estavam em estado de choque.

"Fomos colocados em uma posição em que, em nível pessoal, acho que não deveríamos ter sido colocados", disse o goleiro do Leicester ao 'Helsingor'.

Braithwaite disse que os atletas "gostariam de ter tido uma terceira opção" e que retomar a partida "não foi um desejo, mas a menos ruim das opções propostas".

Aos 42 minutos do primeiro tempo, Christian Eriksen caiu em campo desacordado após receber a bola de um companheiro. Rapidamente a equipe médica foi acionada e entrou no gramado para socorrer o jogador. Foram mais de dez minutos de atendimento no gramado do Estádio Parken, em Copenhagen.

Cerca de 20 minutos depois do desmaio, Eriksen foi retirado do gramado para ser encaminhado ao hospital. Nos telões do estádio, a Uefa confirmou a suspensão da partida, mas orientou os torcedores a permanecerem nas arquibancadas até receber mais informações sobre o estado de saúde do jogador.

Poucos minutos depois, a Federação Dinamarquesa de Futebol comunicou oficialmente que o camisa 10 estava acordado e passaria por novos exames em um hospital próximo ao estádio.

Logo a Uefa emitiu um comunicado na qual avisava que a partida seria retomada após um pedido dos jogadores o que surpreendeu muitas pessoas, uma vez que o caso aparentava ser grave.

Mais tarde, os médicos da seleção da Dinamarca concederam uma entrevista coletiva e revelaram que o meia de 29 anos tinha morrido em campo, mas acabou sendo ressuscitado após fazerem uma massagem cardíaca para reanimar o atleta. Apesar do grande susto, o quadro atual de Eriksen é estável.

Até o momento, a Uefa não se manifestou sobre as declarações.

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