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Lei em Campo

Para especialistas, Fifa deveria barrar projetos como do Manchester City

04/09/2020 04h05

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Por Thiago Braga

Enquanto negocia para ter Lionel Messi vestindo a camisa do Manchester City-ING, o City Football Group, dono do clube inglês, mostrou seu poderio econômico ao comprar o Troyes, da França. O clube da segunda divisão francesa passa a ser a 10ª agremiação a fazer parte do conglomerado esportivo. O que, para especialistas pode ser um problema por criar um desequilíbrio econômico e vantagens em transferências, isso tudo sem nenhuma regulamentação por parte dos órgãos que regem o futebol.

"Na prática, como se estivéssemos vendo, de uma outra forma, terceiros investindo no futebol. Manipularem, de certa forma, através de suas influências, e não deixarem de ser parte. É a forma que os investidores encontraram através da compra de clubes, para poderem investir no futebol principalmente depois que o TPO foi banido, na compra de direitos econômicos dos atletas", analisa a advogada esportiva Fernanda Chamusca.

O TPO (Third-Party Ownership) era uma determinação da Fifa que previa a propriedade, por um terceiro, de direitos econômicos de jogadores de futebol. A prática está proibida desde 2015, mas pode ser usada por grupos poderosos como o City.

O grupo que controla o Manchester City detém o controle acionário também do New York City (MLS / Estados Unidos), Montevideo City Torque (primeira divisão do Uruguai), Melbourne City (primeira divisão da Austrália), Yokohama F. Marinos (primeira divisão do Japão), Sichuan Jiuniu (segunda divisão da China) e Mumbai City (India Super League / Índia).

"A depender de como tudo isso é orquestrado pode ter inúmeras consequências. Um clube satélite, de baixa expressão, pode virar tão somente uma barriga de aluguel. Ou se não render o esperado seja do ponto de vista desportivo ou econômico, ser completamente colocado de escanteio, deixado às moscas", afirma o advogado Luciano Motta, autor do livro "O mito do clube-empresa".

O City Football Group se tornará o novo acionista majoritário do Troyes após comprar a participação do proprietário anterior Daniel Masoni. O Troyes estava em quarto lugar na segunda divisão francesa na temporada passada, antes que a campanha 2019/20 fosse abandonada devido ao novo coronavírus.

"Os maiores riscos são haver um conflito de interesse, de clubes controlados por uma pessoa ou grupo de pessoas e estes estarem aptos a participarem da mesma competição. Vale dizer que não existe uma regra uniforme, variando de país para país, competição continental para competição continental; do ponto de vista econômico, criar toda uma estrutura global que, a partir de ações simuladas, consigam facilmente driblar o Fair Play Financeiro; e do ponto de vista político, a finalidade última da expansão do grupo não ser necessariamente desportiva, ser também ou, na pior das hipóteses, exclusivamente político", critica Luciano Motta.
A integridade é parte fundamental no esporte. Lisura do resultado e transparência são primordiais para o crescimento do negócio futebol. Mas a Fifa não parece engajada em regulamentar esse tipo de operação.

"Imagine que você poderá "simular" a precificação da compra e venda de atletas. Semelhante ao que Juventus e Barcelona fizeram no caso Pjanic/Arthur. Mas, dessa vez com clubes irmãos. Lógico que a normatização poderia até ser mais trabalhada e rigorosa, mas toda essa problematização, na prática, dificulta a aplicação de um Fair Play Financeiro. Como o problema é de escala global, a solução deveria passar por uma análise global, no sentido de a Fifa criar normativas, mecanismos de controle uniformes e um banco de dados que consiga perceber/captar e conectar todas essas movimentações com as suas diversas variantes. A própria Fifa ainda não sabe como resolver isso", finaliza Luciano Motta.

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