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Brasileiros relatam calotes de clubes do exterior

Goleiro Bruno Santos em ação durante jogo em Portugal - Arquivo pessoal
Goleiro Bruno Santos em ação durante jogo em Portugal Imagem: Arquivo pessoal

21/02/2020 04h00

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O goleiro Bruno Santos rumou para a Armênia em maio do ano passado na esperança de enfim conseguir tranquilidade financeira para quando se aposentar dos gramados. Mas a frustração foi maior do que ele esperava. Depois de ele ter sido liberado para as férias de final de ano, uma vez que o campeonato nacional é paralisado no período, Bruno foi comunicado pelo clube que não precisava mais voltar. Pior, o Lori não depositou os três últimos salários dele.

"Eu tinha que voltar para lá dia 14 de janeiro, mas não me mandaram a passagem. No dia 28 eles falaram que não contavam mais comigo. Tenho contrato de um ano e meio, falei para a gente fazer um acordo, mas não tem negociação. Eles não respondem, não rescindiram o contrato. O que chateia é que parece que não se respeita mais os contratos. Agora é treinar para manter a forma e tentar voltar para Portugal no meio do ano, ou achar um clube aqui", desabafou Bruno, que está há cinco anos fora do Brasil.

Com passagens por times como Roma Barueri e Mauaense, Bruno resolveu partir para a Europa na busca da independência financeira. Desembarcou em Portugal, onde perambulou por times desconhecidos do grande público, como Nogueirense, Camacha e Limianos.

"Roí o osso em Portugal. Em Portugal, sempre me pagaram direitinho. Cada ano foi melhorando um time, fui ficando com moral, a ponto de sair da terceira divisão de Portugal e ir para a primeira divisão da Armênia. Em Portugal eu ganhava 1,5 mil euros no máximo. Na Armênia tem clube que paga de US$ 10 a US$ 15 mil por mês. O Lori é o que pior paga. A meta era ir para lá, fazer um ano bom, e ir para um clube que pagava mais para poder ficar tranquilo. Estou com 30 anos e ficaria lá até os 35. Quando pensei que ia ganhar um dinheiro na primeira divisão da Armênia, acontece isso", lamenta Bruno Santos.

Segundo o advogado Cristiano Caús, que defende Bruno, o Lori foi notificado, mas não respondeu. Agora a defesa precisa esperar 10 dias para acionar o clube armênio na Fifa.

"Mas ele não precisa de ação para assinar com outro clube. Assim que ele arrumar um clube, a gente começa o procedimento do ITC (Certificado de Transferência Internacional) provisório. Ele precisa só fazer o pedido da transferência por um clube. O clube vai pedir o ITC provisório. Aí isso vai ir para a federação dele, a federação informa o clube [Lori]. O clube não vai responder com o ITC. A Fifa vai analisar o caso, entender porque está pedindo o ITC provisório e dá o ITC provisório. Aí entramos com o processo para reclamar os salários atrasados. Estou preparando o processo de cobrança", esclarece Cristiano Caús, que presta assessoria jurídica neste caso de maneira Pro Bono.

Outro atleta que passou por problemas foi o meia-atacante Bruno Michel. No ano passado ele assinou com o Ohod, da Arábia Saudita. Mas o sonho de ganhar os petrodólares virou pesadelo após ele receber só dois salários em seis meses de clube.

"No caso do Bruno Michel, conseguimos a liberação e a transferência dele para o Atlético-MG. Acionamos a Fifa para a cobrança e fizemos um acordo na Fifa para o Ohod pagar os salários atrasados", explicou Cristiano Caús.

No Relatório Global de Emprego da Fifpro, sindicato que cuida dos interesses dos jogadores profissionais, que ouviu 14 mil entrevistados, mais de 45% dos pesquisados ganharam menos de US$ 1 mil por mês. Além disso, o salário médio mensal médio em todo o mundo variou entre US$ 1 mil e US$ 2 mil. Apenas 2% dos jogadores receberam mais que US$ 720 mil por ano em pagamento. E mais de 700 jogadores (6% dos pesquisados) foram pressionados a treinar sozinhos. E 41% dos jogadores tiveram atraso de salário pelo menos uma vez nas duas temporadas anteriores.

Para combater esse tipo de prática, a Fifa e o Fifpro lançaram o Fundo FIFA para Jogadores de Futebol (FIFA FFP), que visa fornecer apoio financeiro a jogadores que não foram pagos e que não têm chance de receber adequadamente os salários acordados com seus clubes.

Inicialmente serão destinados US$ 16 milhões para o fundo até 2022, com essa alocação dividida da seguinte forma: US$ 3 milhões em 2020, US$ 4 milhões em 2021 e US$ 4 milhões em 2022, além de US$ 5 milhões adicionais para ações retroativas em proteção aos salários dos jogadores para o período entre julho de 2015 e junho de 2020.

Por Thiago Braga

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