Real Madrid enfrenta único clube do mundo que respeita - mas perdeu o medo
Bayern de Munique x Real Madrid. Não há clássico maior na Europa. Pode até haver no mundo ou em algum país ou na tua cidade, mas não na Europa, se é que vocês me entendem. Não é a maior rivalidade, mas é o maior jogo. O Real Madrid é o grande campeão europeu da história, com 14 títulos. O Bayern é o terceiro da lista, com 6, o segundo em número de finais (11) e o que mais vezes esteve pelo menos nas quartas de final (23 vezes, contra 20 do Real).
São as equipes mais consistentes da história da antiga Copa dos Campeões da Europa e da atual Champions League e se enfrentam nesta tarde pelo jogo de ida das semifinais. A partida será em Munique, com a volta na semana que vem, em Madrid.
O Real Madrid construiu ao longo dos anos, principalmente neste século, uma autoconfiança extraordinária. Os torcedores do Real - e até o time - não respeitam ninguém. Entram em qualquer jogo considerando que dá para ganhar, que têm que ganhar, se recusam a entregar os pontos e os outros que se virem para conseguir um milagre. Só há uma exceção: e ela se chama Bayern de Munique - ou "La Bestia Negra", como gostava de apelidar a imprensa esportiva espanhola.
O Bayern é o único clube do mundo verdadeiramente respeitado pelo madridismo. É mais ou menos como a seleção francesa para o torcedor brasileiro. Como perdeu uma, perdeu duas, perdeu três, o respeito foi adquirido na marra. Por muito tempo, o torcedor do Real tinha verdadeiro pânico de ter de jogar em Munique. Era considerada uma viagem de derrota certa, o que é inimaginável quando falamos de Real Madrid, o clube mais poderoso do futebol intergaláctico.
Na história europeia, o duelo entre Real e Bayern foi o que mais vezes se repetiu. São 12 confrontos de mata-mata no total, com 7 vitórias espanholas e 5 alemãs. Foram 26 jogos, com 12 vitórias brancas e 11 alemãs. Aqui é importante ressaltar que o Madrid passou pelos alemães nos últimos três confrontos. E não só isso. Nestes três confrontos, venceu a partida de Munique, coisa que não havia ocorrido uma vez sequer nas dez visitas anteriores (com nove triunfos do Bayern e um empate).
É por isso que eu digo que a "paura" (ou mesmo pavor) é algo do passado. Antigamente era assim, era um temor danado de enfrentar o Bayern na Europa. Mas, depois das últimas classificações, ficou o respeito, foi-se embora o medo.
Os primeiros duelos entre eles ocorreram quase 50 anos atrás, em 1976 - tempos de Beckenbauer. O Bayern tirou o Real nas semifinais para, em seguida, sagrar-se tricampeão. Eles são os únicos, além do Ajax de Cruyff, a conseguirem conquistar a Europa três vezes seguidas (o Real o fez em duas ocasiões). Em 1987, novamente nas semis, nova vitória bávara.
O Real conseguiu o primeiro triunfo no ano seguinte, quartas de 88. Em 2000, voltou a vencer, nas semis, mas em 2001 o Bayern deu o troco na mesma fase. No ano seguinte, 2002, o duelo voltou a ser do Madrid, agora nas quartas. Pulamos uma temporada e, em 2004, o Real passou pelo Bayern nas oitavas. Em 2007, os alemães deram o troco. Em 2012, no único duelo decidido nos pênaltis, o Bayern avançou para a decisão da Champions. Naquele momento, a vantagem em mata-matas era de 5 a 4 para os bávaros e, como já citei, o Real nunca havia vencido em Munique.
A sina mudou exatos dez anos atrás. De lá para cá, são três duelos vencidos pelo Real - semis de 14, quartas de 17 e semis de 18. No total, em seis jogos, foram cinco vitórias do Real e um empate. A mais emblemática das vitórias, sem dúvida, os 4 a 0 de Ancelotti em cima do time de Guardiola, em Munique, na partida de volta em 2014. Ali, parece que a maldição foi quebrada. O Bayern deixou de ser "La Bestia Negra" para se transformar no "freguês vermelho".
Das sete vezes que o Real passou pelo Bayern, em cinco se sagraria campeão europeu,. Já o Bayern levantou o troféu em duas das cinco vezes que passou pelos espanhóis.
A temporada 2023/2024 dos dois gigantes foi muito diferente. O Real Madrid superou a perda de Benzema, teve uma imediata adaptação do brilhante Bellingham, galopa rumo à conquista da La Liga espanhola e já eliminou o atual campeão, Manchester City, nesta edição da Champions League. A renovação silenciosa no meio de campo funcionou, Vini Jr e Rodrygo dão conta na frente e Ancelotti mostra um total controle das situações que envolvem campo e vestiário.
O principal desfalque é Carvajal, lateral-direito que fez grandes jogos com o City. Lucas Vázquez, herói do clássico recente contra o Barcelona, deve começar na lateral, com Tchouaméni improvisado na zaga - a invenção de Ancelotti que funcionou ao longo do ano.
Já o Bayern não pode dizer o mesmo. Trouxe o outro astro da seleção inglesa, Harry Kane, que fez uma bela temporada individualmente, mas que ampliou a fama de pé frio, "campeão de nada", que carrega. O Bayern já perdeu Supercopa, Bundesliga, Copa e só resta a Champions League como chance de levantar um troféu. O técnico, Thomas Tuchel, já teve anunciada a saída ao final da temporada, mas segue no cargo - ele foi campeão europeu com o Chelsea em 2021. O time é instável, faz algumas partidas abaixo da crítica, mas tem jogadores bons o suficiente para complicar a vida de qualquer adversário.
TODOS OS CONFRONTOS ENTRE BAYERN E REAL NA COPA DA EUROPA:
75/76 - Semifinais
Real 1 x 1 Bayern
Bayern 2 x 0 Real
86/87 - Semifinais
Bayern 4 x 1 Real
Real 1 x 0 Bayern
87/88 - Semifinais
Bayern 3 x 2 Real
Real 2 x 0 Bayern
99/00
Fase de Grupos
Real 2 x 4 Bayern
Bayern 4 x 1 Real
Semifinais
Real 2 x 0 Bayern
Bayern 2 x 1 Real
00/01 - Semifinais
Real 0 x 1 Bayern
Bayern 2 x 1 Real
01/02 - Quartas
Bayern 2 x 1 Real
Real 2 x 0 Bayern
03/04 - Oitavas
Bayern 1 x 1 Real
Real 1 x 0 Bayern
06/07 - Oitavas
Real 3 x 2 Bayern
Bayern 2 x 1 Real
11/12 - Semifinais
Bayern 2 x 1 Real
Real 2 x 1 Bayern (*passou nos pênaltis)
13/14 - Semifinais
Real 1 x 0 Bayern
Bayern 0 x 4 Real
16/17 - Quartas
Bayern 1 x 2 Real
Real 4 x 2 Bayern
17/18 - Semifinais
Bayern 1 x 2 Real
Real 2 x 2 Bayern
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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