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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

São Paulo joga fora um título inacreditavelmente fácil de ser vencido

Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante partida contra o Independiente del Valle na final da Copa Sul-Americana - Franklin Jacome/Agencia Press South/Getty Images
Rogério Ceni, técnico do São Paulo, durante partida contra o Independiente del Valle na final da Copa Sul-Americana Imagem: Franklin Jacome/Agencia Press South/Getty Images

01/10/2022 18h52

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O São Paulo Futebol Clube é um gigante que está no chão. Isso já aconteceu com outros aqui no Brasil. Quase todos os grandões do futebol brasileiro já viveram períodos de fila, seca, desastres. Talvez o Flamengo seja uma exceção. O São Paulo passa facilmente por seu pior momento, se olharmos para um recorte longo de tempo.

Os anos de fila contrastaram com títulos enormes de Corinthians e Palmeiras, com os estádios dos rivais subindo e sendo mais rentáveis que o Morumbi, com um cenário de futebol brasileiro em que os títulos ficam nas mãos de poucos. 

Em tempos assim, só há uma maneira de fazer a roda girar para o outro lado: ganhar. Trabalhar bem e ganhar o que der para ganhar. O que dá para o São Paulo ganhar hoje em dia? Paulistão, sem dúvida. E essa Copa Sul-Americana foi uma das maiores oportunidades possíveis. O São Paulo teve, em sua caminhada, um grupo ridiculamente fácil na primeira fase. E, no mata-mata, duelos contra Ceará e Atlético-GO, duas camisas bastante menos poderosas no cenário nacional - ambos podem ser rebaixados no Brasileiro, inclusive.

O sofrimento para passar de ambos talvez fosse um indício de que a final contra o Independiente del Valle, o emergente do Equador, não seria fácil.

Mas foi. O fato é que o Del Valle é isso. Um emergente. Do Equador. Um time que joga da mesma maneira há anos, um trabalho louvável em um país pobre do continente. Mas um time frágil. Tanto que foi eliminado na fase de grupos da Libertadores em um grupo que tinha o Atlético-MG jogando mal e o Tolima, aquele mesmo que depois levaria 7 do Flamengo.

O Del Valle deixou incríveis latifúndios para o São Paulo na final de Córdoba, principalmente no primeiro tempo. Não dava para os jogadores do São Paulo pedirem mais do que tiveram. E logo pela esquerda, que é por onde o São Paulo gosta de jogar. O time do Equador jogou com linha alta, errou saída de bola, permitiu todo o tipo de chances ao São Paulo. Mas os jogadores estiveram em uma tarde coletivamente terrível. Foram muitas decisões erradas e muitos impedimentos, o que mostra afobação e até desconhecimento do estilo de jogo do adversário.

O primeiro gol do Del Valle sai de rebatidas pífias de alguns jogadores do São Paulo. O gol perdido por Calleri no começo do segundo tempo beira o inacreditável - a expulsão do argentino, nos acréscimos, foi a cereja envenenada em um bolo estragado. No fim, a história da final é a história do São Paulo em boa parte da temporada. Joga melhor que o adversário em muitos momentos, consegue fazer a coisa fluir taticamente, mas falta calma, são cometidos erros técnicos inaceitáveis em diversos momentos das partidas.

Culpa de Rogério Ceni? Não sei. Acho que o trabalho do técnico é bom. A culpa tem de ser colocada muito mais nos jogadores. Mas enfim, como sempre, vitórias e derrotas são parte de um conjunto de acertos e erros.

Era uma Copa Sul-Americana muito, muito, muito fácil para o São Paulo vencer. Falar que o Del Valle é "um bom time" é verdade. Mas é também uma passada de pano enorme. Não é admissível, para um clube do tamanho do São Paulo, perder um jogo como o deste sábado.

Ao contrário de 2012, quando aquele título foi quase constrangedor, este teria sido importante para o clube. Importante para a torcida, para a auto estima, para fazer os próximos anos começarem menos pesados do que os últimos. Mas o gigante continua adormecido.