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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fernando Diniz não mudou

Fernando Diniz, treinador do Fluminense, durante partida contra o Ceará pelo Brasileirão - WANDERSON GOMES/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO
Fernando Diniz, treinador do Fluminense, durante partida contra o Ceará pelo Brasileirão Imagem: WANDERSON GOMES/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO

18/07/2022 04h00

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Fernando Diniz mudou! Esta é a grande "conclusão" a que muitos chegam ao ver o Fluminense fazer grandes partidas e emendar uma sequência de bons resultados. São os mesmos que dirão "Diniz segue sendo um teimoso!" daqui a alguns dias ou semanas, quando as derrotas vierem na eterna montanha-russa do futebol brasileiro.

Não, Diniz não mudou. O que muda é a "análise" em função de resultados. Diniz segue convicto e colocando em prática as ideias dele. Nunca se comparou a Guardiola. Já disse, aqui para esta coluna no UOL, que se inspira mais em caras como Klopp (no jogo) e Simeone (no trato com o elenco).

Não aprendeu a ser retranqueiro, não virou um cara calminho na lateral do campo e nem "desencanou" de "saidinhas de bola". Talvez muitos não tenham percebido, mas as "saidinhas" viraram um padrão no futebol brasileiro - já era há algum tempo no europeu. Não se dá mais chutão, a chance de você ser contra atacado é muito maior do que o risco inerente a sair jogando. Nunca foi uma loucura de Diniz e nem invenção dele, era apenas a modernidade chegando aos nossos olhos.

Diniz tomou decisões erradas de carreira - no meu ponto de vista - depois de sair do São Paulo. Santos e Vasco são barcas difíceis de tocar, e ele tem uma característica que é muito clara para mim, admitida por ele e que faz com que muitos lugares no futebol brasileiro sejam uma armadilha para um cara como Diniz. Ele precisa de um ambiente harmonioso, em que peças estejam encaixadas e ele se sinta bem para desenvolver o trabalho.

Santos e Vasco não tinham nada nem perto disso. O São Paulo teve - até a mudança de diretoria na virada de 20 para 21 desconstruir tal harmonia. Diniz tem dificuldades para trabalhar bem no caos. Uma pena para ele, no entanto, que o caos seja o padrão nacional. Tem gente que acha que ele é "mau técnico" por não conseguir desempenhar da mesma maneira em qualquer cenário. Respeito a crítica, mas não compactuo.

No Fluminense, ele reencontrou a paz. Paz que ele teve, diga-se, na primeira passagem pelo clube, em 2019. Mas quando, naquele ano, o time perdia 750 gols por jogo, ele era "teimoso". Agora, que consegue fazer gols e obter resultados, ele "mudou".

Não mudou coisa nenhuma! Evoluiu, sem dúvida. Todos nós devemos buscar a evolução e crescer em nossas profissões. Ele melhorou em alguns aspectos em que nitidamente seus times eram mais fracos do que outros - transição defensiva e bolas paradas, por exemplo. Conforme a experiência vai se acumulando, ele vai agindo de uma ou outra forma diferente em relação ao que faria no passado. Mas isso serve muito mais para relações interpessoais do que para o plano tático.

Aliás, Rogério Ceni tampouco mudou em relação ao goleiro Rogério, ao novato treinador Rogério ou ao campeão Rogério no Fortaleza. É outro que segue sendo a mesma pessoa e enxergando o futebol do mesmo jeito.

Os jogos entre Diniz e Ceni foram grandes dois anos atrás, o de ontem voltou a ser bacana. Nada fora do script.

Não sei se o Fluminense se manterá na disputa do título brasileiro (acho difícil) e se fará algo grande na Copa do Brasil (depende de sorteio, do caminho, é mata-mata, enfim). Mas sei que continuará sendo um time agradável de ver e com a cara de seu técnico. Que é a mesma cara de um, dois, três ou mais anos atrás.