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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Espanha só empata na Eurocopa: Sobra controle, mas falta descontrole

Pau Torres, zagueiro da seleção da Espanha - Getty Images
Pau Torres, zagueiro da seleção da Espanha Imagem: Getty Images

14/06/2021 17h57

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Posse de bola: Espanha 85%, Suécia 15%. Gols: 0 a 0. Com estes dados, vocês já devem ter conseguido visualizar exatamente o que foi a partida de estreia destas duas seleções na Eurocopa-2021, em Sevilla.

Domínio da Espanha, muito passe para lá, passe para cá, algumas chances de gol (mas não tantas), uma Suécia se defendendo o tempo todo, com uma finalização no alvo durante os 90 minutos (perdeu uma boa chance em cada tempo). E, no fim, um ponto para cada lado.

A Espanha sofre. A transição de uma geração campeã de tudo para a atual acabou sendo um processo mais drástico do que o desejável. E o "tiki taka", a posse de bola como forma de controlar o jogo, não conseguiu avançar para um jogo mais atual - de posse, sim, mas agressividade também. É difícil implementar algo diferente pelas características dos jogadores.

A Itália, na abertura da Eurocopa, dominou a Turquia e também foi incisiva, criou chances de gol, marcou três. Jogar com a bola não pode ser sinônimo de falta de agressividade. A Espanha dominou a Suécia nesta segunda-feira, mas a posse se transforma em pouca coisa. Os 85% viraram 17 finalizações, 4 a gol. Quem deu mais passes no jogo foi o zagueiro espanhol Laporte: 118. Lindelof, o sueco que mais deu passes, deu apenas 13.

Mas é muito controle e pouco descontrole. No futebol, as duas coisas são necessárias. Controlar o jogo é uma forma de se aproximar da vitória, de submeter o adversário, de correr poucos riscos. Mas o descontrole também é necessário. A anarquia da bola, atacantes que fujam do padrão, que encarem, que tentem o drible, algo diferente. Sair da caixinha.

A Espanha campeã de tudo inspirou e gerou meias em profusão. Não faltam jogadores que gostem da bola, com alta qualidade de passe e visão de jogo. Mas falta o que eles chamam de "chispa". A faísca. São muitos meias, poucos atacantes diferenciados.

É claro que o andamento do jogo pode fazer essa Espanha parecer maravilhosa ou insuportável. Se sai um gol no começo, em um lance como o cabeceio à queima-roupa de Olmo para uma defesa monstruosa de Olsen (o melhor em campo), tudo muda. O adversário tem que se abrir mais, a vitória parcial dá confiança e de repente um time como a Espanha mete um gol atrás do outro (como fez em cima da Alemanha, ano passado).

Mas, se o gol não sai, o adversário vai ganhando confiança na marcação, o time que tem a bola fica previsível e o jogo se transforma em uma samba de uma nota só, sem ritmo ou graça.

Aos 45min do segundo tempo, Olsen voltou a fazer milagre num cabeceio de Moreno. Novamente, um gol aqui "justificaria" todo o domínio, com a vitória conquistada. A meu ver, não mudaria nada na análise. A Espanha precisa superar o problema crônico de dominar sem agredir. Para a sequência do torneio, é difícil imaginar um time sem Moreno - o atacante do Villarreal entrou bem no segundo tempo e fez o ataque ser mais perigoso.

A Espanha é um time jovem, talentoso, que pode ganhar de qualquer um. Mas pode empatar por 0 a 0 também com qualquer um.