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OPINIÃO

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Esports no Oriente Médio: expansão e interesse levantam polêmicas

Esports têm crescido na Arábia Saudita - Jason Redmond/Reuters
Esports têm crescido na Arábia Saudita Imagem: Jason Redmond/Reuters

Colunista do UOL

08/07/2022 04h00

Goste você ou não de esportes eletrônicos, há que se concordar: o cenário competitivo de games representa progresso. Estar aliado à imagem dos jogos de maneira profissional significa estar alinhado com o futuro e com um mercado que cresce em progressão impressionante. Por isso, nos próximos tempos, há um elemento que tende a crescer com força: o investimento do Oriente Médio nos Esports. E com montantes titânicos de dinheiro.

É um cenário no qual todos os envolvidos encontram certo benefício. Do lado das organizações e dos jogadores, as premiações são generosas. A BLAST Pro Series de Counter-Strike:Global Offensive, por exemplo, foi anunciada para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. com uma bolsa de 1 milhão de dólares. E ninguém esconde: trata-se de uma iniciativa abertamente governamental.

E a progressão do esporte eletrônico não se limita ao ambiente futurista de Abu Dhabi. Em um regime cercado de políticas para lá de polêmicas, a Arábia Saudita também tem buscado expansão na área. O Gamers8, torneio de Rainbow Six Siege marcado para agosto, contará com a presença da brasileira MIBR, distribuirá 2 milhões de dólares entre oito times, na capital Riad. Sob o ponto de vista do time: como negar tamanha bolsa, ainda que esportivamente a competição não represente grande coisa?

Porém, obviamente, a relação não é tão simples. Costumes praticados no país, que vão de restrição de direitos a minorias até perseguições a opositores, levantam o questionamento: até que ponto faz sentido algo tão democrático como o Esport partir para esse lado, associando sua imagem de avanço a um ambiente onde quem não é privilegiado acaba submetido a práticas do passado?

Há dois anos, a LEC, principal liga europeia de League of Legends, anunciou parceria com a NEOM - um projeto de cidade transnacional localizada na fronteira da Arábia Saudita, em local estratégico, próximo ao Mar Vermelho. À época, a situação gerou revolta e um motim dos casters do torneio, baseado especialmente no fato da comunidade LGBTQIA+ não ter direitos previstos no país.

É óbvio que qualquer esporte, tradicional ou eletrônico, precisa fechar suas contas - assim como qualquer atividade comercial do mundo. Porém, cifras milionárias não são, necessariamente, um significado de vida longa quando tratamos de um mundo cada vez mais conectado e, principalmente, ciente de que sair em defesa de quem oprime é um verdadeiro tiro no pé.

E não adianta, aqui, repetir o exaustivo discurso de "não misturar as coisas". A política está presente em todos os contextos de nossas vidas, independentemente de nossas opções. Quaisquer escolhas e posturas do nosso dia a dia são políticas. Nos Esports, isso não é diferente. Essa relação ainda dará muito o que falar nos próximos anos.