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Fábio Seixas

REPORTAGEM

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Cada um no seu quadrado: como será a parceria entre Ford e Red Bull na F1

Christian Horner, da Red Bull, com Jim Farley, CEO da Ford, no lançamento do RB19 - John Lamparski/Getty Images
Christian Horner, da Red Bull, com Jim Farley, CEO da Ford, no lançamento do RB19 Imagem: John Lamparski/Getty Images

Colunista do UOL

05/02/2023 09h37

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"Uma grande operação de marketing. Baixos riscos, altos ganhos." Assim um interlocutor com excelente trânsito nos bastidores do automobilismo sintetizou o acordo entre Ford e Red Bull.

É, de fato, uma parceria dos sonhos.

De um lado, a empresa de energéticos encontrou uma marca disposta a comprar os "naming rights" da moderníssima fábrica que inaugurou no ano passado em Milton Keynes, até agora batizada de Red Bull Powertrains. Do outro, a montadora americana ligará sua imagem à vanguarda da tecnologia de motores híbridos e a uma categoria que só faz crescer em seu quintal _de quebra, usará a F1 como laboratório para sua divisão de softwares.

Uma entrevista concedida por Horner ao "Top Gear", da BBC, em 2021, ajuda a explicar o anúncio bombástico da última sexta.

Na ocasião, o chefe da Red Bull conduziu uma equipe de reportagem do programa em um tour pelas obras da fábrica. Falando sobre os motores que seriam produzidos ali, em um futuro que então parecia distante, lançou: "Um dia, levarão uma marca qualquer".

A primeira opção óbvia foi a Honda. Mas os japoneses têm um jeito particular de trabalhar e que inclui um dogma: o controle total da operação e de suas propriedades intelectuais, algo difícil de manter quando se trabalha numa fábrica que não é sua.

Havia um outro problema: a maneira errática, pra não dizer aloprada, como a Honda conduz seus projetos na F1. (Escrevi sobre isso aqui.) A Red Bull precisava de um parceiro de longo prazo, com um pouco mais de previsibilidade, a partir de 2026.

Surgiu então a Volkswagen, com a marca Porsche. O namoro foi longo e sério, mas chegou a um impasse em meados do ano passado. O comunicado emitido pela marca alemã em setembro, pondo fim às tratativas, também ajuda a explicar o que aconteceu na última sexta.

"A premissa sempre foi de igualdade de condições, não apenas no fornecimento de motores, mas também na gestão da equipe. Isso não pôde ser alcançado", divulgou a Porsche.

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Jim Farley, CEO da Ford, e Christian Horner, chefe da Red Bull, com os pilotos da equipe no lançamento do RB19
Imagem: Mike Coppola/Getty Images

Com a Ford, a Red Bull encontrou o que buscava: um parceiro disposto a jorrar dinheiro para estampar o logo na fachada da fábrica e nos motores, mas sem muita ingerência no dia a dia. Em meio aos discursos do evento de sexta, Horner disse querer se beneficiar da tecnologia desenvolvida pela empresa com as baterias de seus carros elétricos.

A montadora também pretende usar a F1 como plataforma para testar e propagandear os softwares que serão desenvolvidos no seu novo hub tecnológico de Michigan e que conta com aporte financeiro do Google.

Bateria e softwares. Não irá muito além disso.

Motores modernos de F1, os dois lados sabem, é a Red Bull que sabe fazer. Nos últimos anos, a fabricante de energéticos recrutou vários engenheiros da sua maior rival, a Mercedes. Entre eles está Ben Hodgkinson, chefe da divisão de motores da montadora alemã na F-1.

Já os americanos tentarão reeditar uma receita que deu muito certo.

Seus grandes momentos na categoria foram vividos entre os anos 60 e 80 em parceria com uma fabricante inglesa de motores. A Ford pagava e a Cosworth (brilhantemente) executava.

Cada um no seu quadrado. Assim foram conquistadas 176 vitórias na F1, 13 Mundiais de Pilotos e 10 títulos de Construtores.

Qualquer coisa parecida com isso deixará Red Bull e Ford muito satisfeitos.

O interlocutor do primeiro parágrafo resumiu assim o acordo atual: "Podemos resumir a comparação entre esta operação e a da Cosworth como o acordo do bacon com ovos: a galinha entra com o rabo para pôr os ovos, o porco entra com a vida para servir o bacon. Na operação da Cosworth a Ford foi o porco. Na com a Red Bull, ela é a galinha". Genial.