Topo

Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

F1 deveria abrir logo as portas para Andretti

O americano Michael Andretti durante teste de sua equipe de Fórmula Indy em Indianápolis - Joe Skibinski/Penske Entertainment
O americano Michael Andretti durante teste de sua equipe de Fórmula Indy em Indianápolis Imagem: Joe Skibinski/Penske Entertainment

Colunista do UOL

10/05/2022 10h34

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Papel e caneta na mão, dois amigos do lado, Michael Andretti bateu de equipe em equipe no último fim de semana em Miami. Carregava um abaixo-assinado, uma manifestação de apoio ao seu projeto de entrar na F1. Ainda há obstáculos à sua frente, mas ele saiu de lá satisfeito.

Já divulgou até seu próximo passo. Em agosto, espera começar as obras de uma nova fábrica em Indianápolis. O projeto da nova estrutura, segundo ele, já está em andamento. E isso foi quase tudo o que ele disse à imprensa. Até lá, há muito trabalho de bastidores pela frente.

"Não quero falar muito. Eles não querem falar muito. Mas foi positivo", disse o ex-piloto, ao fim de sua peregrinação por boxes e escritórios. O encontro com Christian Horner, da Red Bull, foi registrado por repórteres e exposto nos tweets abaixo. "Estamos gastando dinheiro para manter essa bola rolando porque temos esperança de que vai acontecer. Estamos assumindo um risco, mas valerá a pena. Já estamos contratando pessoas, coisas assim."

Entre os encontros em Miami, Andretti conversou com o emirático Mohammed Ben Sulayem, novo presidente da FIA. "Acho que ele está do nosso lado", afirmou o americano, após o papo.

Na agenda também havia uma reunião com Stefano Domenicali, CEO da F1. E aí o buraco é mais embaixo. Porque envolve dinheiro, porque afeta as outras equipes do grid, porque mexe com o conceito estúpido de franquias que a Liberty Media pretende implantar.

Para pleitear uma vaga na categoria, qualquer organização precisa, em primeiro lugar, depositar US$ 200 milhões _cerca de R$ 1 bilhão. Essa é uma exigência do Pacto da Concórdia, acordo que rege as relações das equipes com a F1. A versão mais recente foi assinada em 2022, com validade até 2025. Os recursos são usados por dois anos para compensar os dez times existentes pela entrada de mais um na divisão do bolo de receitas.

Mas não é automático assim, não é pagou-levou. A parte mais complicada é o trabalho político. Andretti tem que convencer FIA, Liberty e as equipes de que não será um parasita. Ou seja, precisa apresentar um plano de negócios com indicações claras de que tem potencial para trazer novas marcas e novos negócios para a F1, aumentando o tal bolo.

Daí o ex-piloto ter batido em tantas portas no fim de semana, com um abaixo-assinado debaixo de braço e na companhia de um investidor, Dan Towriss, do grupo 1001, dono da seguradora Gainbridge, e de J.F. Thormann, vice-presidente da Andretti Autosport.

michae1 - Chris Jones/Penske Entertainment - Chris Jones/Penske Entertainment
Michael Andretti desfila em caminhonete antes do GP de Long Beach da Indy em 2021
Imagem: Chris Jones/Penske Entertainment

Por fim, há o tal conceito estúpido. Por décadas, a F1 foi aberta a qualquer organização que se dispusesse a disputar o Mundial. Já houve corrida com 39 pilotos disputando 26 vagas! Mas, desde 2017, só dez equipes em todo o planeta conseguem disputar o campeonato.

O que começou como contingência econômica foi entendido pela Liberty como oportunidade: fechar o clube, copiar as ligas americanas e criar um sistema de franquias. Compreendo o lado financeiro: valorizar quem está dentro, criar uma aura de exclusividade, espremer quem tentar entrar.

Mas será que, a longo prazo, não é um tiro no pé? O que é melhor para o espetáculo? Um grid murcho, com 20 carros, ou mais gente na pista, batendo rodas, disputando freadas? Não, não é para virar festa de portões abertos. Mas será que não dá para chegar a um meio termo?

Em tempo: o Regulamento Esportivo da F1 estipula um limite máximo de 13 equipes no grid. Parece-me um número razoável. E faz tempo que isso não acontece, quase 27 anos. A última vez foi no GP de Mônaco de 1995. Contei essa história aqui.

Entre os maiores opositores ao projeto de Andretti estão representantes dos dois extremos de poder no grid: Toto Wolff, da Mercedes, e Günther Steiner, da Haas. Ambos defendem que dez equipes são o suficiente para a categoria.

Na turma dos apoiadores está Horner. "Não temos nenhum problema com mais competição. A volta do nome Andretti seria muito positiva para a F1", disse o inglês, em Miami.

Concordo com ele. E mais: grids cheios produzem mais histórias, formam mais talentos, abrem mais oportunidades. Andretti não é um aventureiro: é parte de um clã tradicional das pistas, é idolatrado nos EUA e há anos mantém estruturas sólidas na Fórmula Indy e suas categorias de base e na Fórmula E. Este blogueiro torce para que aconteça.