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Diogo Silva

Comissões de atletas sofrem resistência para manter autonomia

Serginho foi eleito para presidir a Comissão dos Atletas do Vôlei  - Pedro Ladeira/Folhapress
Serginho foi eleito para presidir a Comissão dos Atletas do Vôlei Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

20/01/2021 08h43

Nos últimos cinco anos, muitas comissões de atletas passaram a se organizar para atender a atualização da lei Pelé que prevê que toda entidade esportiva olímpica precisa ter um 1/3 da sua cadeira eleitoral formada por atletas para receber verba pública.

Mas o que seria uma solução para aumentar a fiscalização das entidades esportivas e dar mais voz aos atletas vem sendo alvo de muita resistência.

Algumas comissões estão sofrendo impedimentos jurídicos ou confusões administrativas por conta da malandragem de muitas confederações.

Na Comissão de Atletismo, por exemplo, dois dos nove membros desistiram, e o grupo não está conseguindo substituí-los para ter novamente 1/3 da cadeira eleitoral formada por atletas, como manda a legislação.

E isso se deve ao regimento interno, documento com as regras, direitos e deveres, que toda comissão deve criar que expõem suas regras. Como muitos atletas nunca tinham criado regimentos e não foram orientados por um departamento jurídico passaram a ter problemas para manter sua autonomia.

A Comissão da Luta Olímpica (wrestling) teve que entrar com um pedido judicial para ter os votos dos atletas autenticados na última eleição em dezembro de 2020. Os votos foram validados, e os atletas Flavio Cabral Neto e Aline Silva foram escolhidos como presidente e vice, respectivamente.

Já no badminton não foi respeitado 1/3 dos votos nas últimas eleições realizadas em setembro de 2020, diminuindo a participação do grupo. Ygor Coelho, de 24 anos, nascido na favela do Chacrinha, no Rio de Janeiro, e que hoje vive treina na Dinamarca, foi um dos atletas que se revoltou com a decisão da redução do grupo.

A situação no vôlei é uma das situações mais complexas. Como inclui as modalidades de quadra e areia, o sistema é confuso e cheio de falhas. Têm direito a voto 54 membros, com representantes de clubes, federações e atletas profissionais. Porém os atletas olímpicos têm seu poder diminuído, sendo apenas oito dos 54.

Esse sistema foi criado para dar errado, e o bi-campeão olímpico Serginho, o Escadinha, que foi eleito para comandar a Comissão dos Atletas do vôlei para o próximo ciclo, terá um enorme trabalho pela frente para corrigir ou diminuir tais erros.

O atleta é a estrela de toda organização esportiva, é a essência da existência de uma federação, confederação ou comitê olímpico. Mas essas estrelas, que são pouco valorizadas durante a carreira competitiva, estão sendo praticamente ofuscadas em muitas organizações.

Quando a lei Pelé foi atualizada e colocada em vigor não havia a obrigatoriedade por parte das organizações esportivas de capacitar os atletas sobre um novo universo administrativo e jurídico que eles iriam a adentrar.

Muitas comissões nasceram da necessidade de cumprir a lei, de exigências antigas de mais representatividade dos atletas e participação na gestão da modalidade que ele representa.

Porém os atletas, que até o momento, nunca tinham pisado em uma assembleia geral (espaço que elege o presidente e vice da sua modalidade, que cria o conselho administrativo, conselho de ética e fiscaliza as contas da entidade) e pouco sabiam do emaranhado de ratos que estavam se envolvendo.