Topo

Diego Garcia

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Homem-forte do São Paulo recebeu R$ 20 mil em operação polêmica de Aidar

Leonardo Serafim recebeu por operação da Far East, diz MP - Divulgação
Leonardo Serafim recebeu por operação da Far East, diz MP Imagem: Divulgação

com Pedro Lopes e Thiago Braga

03/10/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O advogado Leonardo Serafim, ex-diretor jurídico do São Paulo e atual homem-forte do presidente Julio Casares, recebeu R$ 20 mil relativos a uma operação envolvendo a Far East na intermediação do contrato de patrocínio com a Under Armour em 2015. A informação consta em documentos de uma quebra de sigilo realizada pelo Ministério Público (MP) aos quais a reportagem teve acesso.

O Ministério Público diz que Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo entre 2014 e 2015, com participação de Serafim, contratou o escritório do advogado José Roberto Cortez "aparentemente versando sobre a nebulosa questão de comissões para a empresa Far East no contrato com a Under Armour", desembolsando R$ 200 mil.

Segundo o órgão, a ordem de pagamento partiu do departamento jurídico do São Paulo. A contratação de Cortez ocorreu no dia 8 de junho de 2015. Apenas cinco dias depois, a TML, empresa de Cinira Maturana, então namorada de Aidar, pagou R$ 20 mil a Serafim. O órgão destaca que a quantia é justamente 10% do valor acordado com o escritório.

"Assim, nesta contratação específica houve repasse de exatamente 10% do valor bruto, em ligação óbvia entre a aceitação desta 'contratação' por Aidar, com interferência direta de Leonardo, e o pagamento espúrio ao diretor jurídico", diz o MP.

Serafim era um dos dirigentes que haviam assinado o contrato de comissão para a Far East Global, empresa que receberia gorda comissão na Era Aidar por intermediar a chegada da Under Armour ao Morumbi.

O Ministério Público de São Paulo denunciou Serafim no crime patrimonial e em lavagens de capitais, enquadrando o advogado em artigos do código penal que mencionam furto qualificado, com abuso de confiança e mediante concurso de duas ou mais pessoas.

O acordo com a Far East foi um dos motivos que levaram à renúncia de Carlos Miguel Aidar da presidência do São Paulo em 2015. No total, o acerto foi de uma comissão de 15% (R$ 18 milhões) sobre o contrato do clube com a patrocinadora Under Armour —a empresa, chamada Far East Global, era desconhecida.

O São Paulo absolveu Aidar ao constatar que o pagamento da comissão não se concretizou e não houve dano aos cofres do clube. Conselheiros de oposição do clube sempre desconfiaram que Jack Banafsheha, representante da Far East, poderia ser um laranja da gestão do ex-presidente.

O UOL entrou em contato com todos os envolvidos citados nesta reportagem. Serafim foi procurado por telefone e mensagem e afirmou que vai se manifestar apenas no processo. A assessoria de comunicação do São Paulo informou que o clube não comenta ações judiciais. A reportagem conversou, por telefone e troca de mensagens, com a advogada de Cinira e foi informada que ela não comentaria sobre o assunto.

Os advogados José Luis Oliveira Lima e Fernanda Melo Bueno, que representam Aidar, divulgaram a seguinte nota:

"Em primeiro lugar, a defesa registra a sua indignação com mais um vazamento seletivo em um procedimento sigiloso. Vamos requerer novamente a investigação sobre essa circunstância. No tocante à acusação, ela nada mais é do que uma peça de ficção criada pelo Ministério Público, que não é capaz de narrar um único fato criminoso em face do presidente Carlos Miguel Aidar. Depois de mais de cinco anos de investigação conduzida pelo MP, absolutamente nada foi demonstrado contra o Presidente Carlos Miguel Aidar, que sempre pautou a sua vida pela correção e ética."

José Roberto Cortez, por sua vez, afirmou:

"Cabe esclarecer que no Inquérito Policial instaurado à época dos fatos há expressa manifestação do Ministério Público afirmando não haver nenhuma materialidade para envolver a mim e minha filha. A afirmação de 'comissionamento embutido' nos honorários a serem recebidos pelo trabalho de advocacia não faz sentido, uma vez que o contrato de serviços previa pagamento apenas em caso de vitória judicial. Para recebê-los, tivemos que ajuizar uma ação de cobrança, que tramita há três anos, na qual o SPFC foi condenado por decisão unânime, transitada em julgado, em todas as instâncias, a nos pagar mais de R$ 5 milhões. A decisão está sendo executada e estamos buscando receber um saldo próximo de R$ 3 milhões, por meio de pedidos de penhoras em contas bancárias, como já autorizado pela Justiça. Por essas razões e diante da falta de fundamento em eventual denúncia criminal, estamos preparando um pedido de habeas corpus. É o que nos cumpria informar".