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Diego Garcia

REPORTAGEM

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Presidente da CBF, Caboclo comprou apartamento de R$ 10,5 milhões à vista

Rogério Caboclo, presidente da CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Rogério Caboclo, presidente da CBF Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista do UOL

28/05/2021 04h00

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Rogério Caboclo, 48, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), comprou à vista um apartamento de luxo de R$ 10,5 milhões na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, em dezembro de 2019. A aquisição faz parte de um aumento de patrimônio imobiliário, acelerado desde 2013.

O imóvel foi adquirido em dezembro de 2019, oito meses depois de o dirigente assumir o cargo maior da CBF, sediada no mesmo bairro. Na escritura, à qual a coluna teve acesso, é informado que o valor total foi pago de forma integral no ato da compra, por meio de cheque administrativo.

A lista de imóveis de Caboclo aumenta desde 2013. No período, o dirigente e uma empresa da qual é sócio já usaram mais de R$ 23,5 milhões para adquirir terrenos, prédios e apartamentos.

Caboclo diz que a compra é compatível com seus ganhos. "Todos os bens que eu adquiri são perfeitamente compatíveis com meus rendimentos. Meus recursos são fruto de várias atividades profissionais que desenvolvi ao longo de mais de 30 anos de trabalho. Tudo está devidamente informado na minha declaração de imposto de renda", afirmou.

Em 2012, Rogério Caboclo assumiu um cargo no Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014. Em seguida, indicado pelo então presidente da CBF Marco Polo Del Nero, virou diretor financeiro da entidade, cargo que ocupou até o fim de 2016. A partir daí, se tornou superintendente e, em 2019, assumiu a presidência.

O crescimento de patrimônio

A reportagem teve acesso a documentos que mostram como os bens de Caboclo foram aumentando. Até 2013, os únicos imóveis de Caboclo estavam no nome de uma empresa de sua família, da qual ele é sócio com 16,8% de participação, ou eram fruto de herança. Os da empresa foram adquiridos por R$ 2,3 milhões (segundo as escrituras), todos antes de 2010. As propriedades deixadas como herança são compartilhadas com pais e irmãos, e todas elas foram construídas há mais de 80 anos.

A partir de 2013, o crescimento é acelerado. Primeiro, adquiriu um imóvel na pessoa física por R$ 4,15 milhão, em 2013. Depois, a movimentação da empresa aumentou. Foram cinco aquisições em leilão em 2014, totalizando investimento de R$ 1,75 milhão. No ano seguinte, comprou mais um apartamento em seu nome, por R$ 390 mil.

Em 2017, a mulher de Caboclo adquiriu um imóvel por R$ 1,35 milhão e uma de suas empresas comprou um prédio e um terreno por R$ 5,5 milhões, com R$ 3 milhões pagos no ato da assinatura, segundo a escritura.

A compra de maior valor aconteceu em 2019: o apartamento de R$ 10,5 milhões na Barra da Tijuca, pagos de forma integral no ato da compra. Localizado na avenida da praia, em frente ao Posto 6, o imóvel tem quase 300 m² de área exclusiva, com quatro suítes, vista privilegiada, sala de jantar, sala de TV, copa, cozinha, área de serviço, dependência completa de empregada e quatro vagas de garagem, além de um condomínio com 26 mil m² de área com infraestrutura de lazer e segurança.

Ainda são do dirigente dois carros de luxo: uma BMW X4 XDrive35I, ano 2016, de R$ 320 mil, e uma Land Rover Discovery Sport, ano 2015, que vale cerca de R$ 150 mil. Caboclo também foi dono de uma Mercedes CLS400 ano 2015, de R$ 360 mil, no período.

Comprar casa no Rio era "plano antigo"

Antes de 2013, o dirigente, na pessoa física, tinha comprado apenas dois imóveis: um apartamento (adquirido em 2001) e outro imóvel (comprado em 2007 e vendido em 2012), ambos em Indianópolis, bairro da capital paulista, pelos quais pagou R$ 2,2 milhões.

Rogério Caboclo foi diretor da Federação Paulista de Futebol (FPF) de 2001 a 2015, com salário que chegou a R$ 35 mil. Na CBF, em que chegou por indicação de Marco Polo Del Nero, recebia cerca de R$ 120 mil mensais como diretor financeiro. Como presidente, o salário de Caboclo é superior a R$ 200 mil mensais. Em um ano, um cartola da confederação pode receber até 16 salários.

À coluna, Caboclo declarou que era um plano antigo adquirir um imóvel no Rio de Janeiro, cidade na qual tem residência fixa há quase sete anos e onde vivia em apartamento alugado. Segundo ele, já existiam recursos suficientes em sua conta corrente para a compra do imóvel antes mesmo de assumir a CBF, de acordo com sua declaração de imposto de renda de 2018, entregue para a Receita Federal em abril de 2019. O UOL não teve acesso à declaração de imposto de renda de Caboclo.

O cartola disse que não é correto falar em aumento ou depreciação patrimonial sem conhecer efetivamente a situação financeira completa de qualquer pessoa, o que inclui a sua disponibilidade financeira, sua declaração de imposto de renda, entre outros aspectos. Acrescentou que a compra representou uma transferência da sua disponibilidade bancária para um ativo imobiliário.

Em seu nome, o presidente possui cinco empresas, todas em sociedade com familiares. Quatro delas são com pais e irmãos, sendo duas distribuidoras, uma de logística e outra de empreendimentos imobiliários. A outra é de advocacia, em parceria com a sua mulher.

Situação política se deteriora

Caboclo vive crise política no cargo que ocupa desde 2019, causada por denúncias que extrapolam a esfera esportiva. Segundo reportagem do UOL, o movimento para minar Caboclo é interno na CBF e em sua esfera de influência. Dentro da confederação, há relatos sobre grosserias, ordens sem sentido e aparente instabilidade emocional, em algumas vezes com estado descrito como "alterado".

Funcionários evitam a presença de Caboclo quando percebem esse estado. Em uma reunião com os clubes, ele foi flagrado soltando palavrões aos presidentes das equipes.

Em busca de apoio, Caboclo chegou a procurar Ricardo Teixeira. E também voltou a estreitar laços com Del Nero, que chegou a fazer movimentos para abafar a insatisfação com o dirigente. Ambos estão condenados por corrupção e foram banidos do futebol.

Perguntado sobre denúncias de comportamentos tidos como inadequados, com acusações de supostos desvios de conduta e apelidos pejorativos recebidos por dirigentes do futebol, o presidente não fez qualquer comentário.

Segundo fontes ouvidas pela coluna, o comportamento errático de Caboclo se agravou nos últimos meses. Também apurou que existe discussão sobre a sucessão caso a situação se torne insustentável. Uma das alternativas seria a renúncia, que levaria a uma eleição com os oito vice-presidentes como candidatos e uma disputa aberta pelo poder.

Na última sexta (21), reportagem da ESPN ainda mostrou que o ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero interferiu na entidade mesmo após ter sido banido pela Fifa de todas as atividades ligadas ao futebol. Gravações reveladas mostram o ex-dirigente influenciando na confederação após sua saída, apesar de banido pela Fifa. A Fifa investiga o caso.