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Danilo Lavieri

REPORTAGEM

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Palmeiras ainda tem problemas de caixa, mas não sairá do mercado, diz Leila

Flaco López e Merentiel durante apresentação no Palmeiras, ao lado da presidente Leila Pereira - Cesar Greco
Flaco López e Merentiel durante apresentação no Palmeiras, ao lado da presidente Leila Pereira Imagem: Cesar Greco

Colunista do UOL

05/02/2023 04h00

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Um dos grandes motivos de Leila Pereira ser alvo de protestos é a falta de contratação de reforços para esta temporada. Não à toa, logo na primeira fase do Paulistão, os muros do Allianz Parque já foram pichados.

Em entrevista ao blog, ela prometeu que vai continuar no mercado, mas reforçou o discurso que tem desde quando assumiu o clube: não passará do limite financeiro para não comprometer gestões futuras. Ela ainda avisou que os problemas com fluxo de caixa de 2022 se repetirão em 2023.

Leila Pereira ficou com a reportagem por mais de uma hora dando uma entrevista sobre os mais variados temas na última quinta-feira e que estão sendo publicados em tópicos nos últimos dias. Já estão no ar os trechos sobre a compra do avião, a relação com Abel Ferreira, as brigas com Paulo Nobre e Mancha Verde e a reação ao apelido de blogueirinha.

Confira a quinta parte da entrevista de Leila Pereira:

Danilo Lavieri: O Palmeiras vende jogadores, ganha títulos, tem bilheteria alta e receitas de TV. Por que há problemas de fluxo de caixa?
Leila Pereira:
O Palmeiras sempre teve problema de fluxo de caixa, eu já herdei isso do meu antecessor. São compromissos do passado que foram postergados para a minha gestão e que eu preciso honrar. Nós compramos alguns jogadores e, além disso, quanto mais vitorioso o elenco, mais caro ele fica. Foram várias renovações que preciso fazer, aumentar salário, pagar luva, e isso também pesa no caixa. Se você juntar pendências anteriores do passado que estouraram na minha gestão, investimentos que fiz em compras, em renovação... Realmente a gente ganha muita coisa, mas o torcedor sabe que não é o valor que vem integral: tem imposto, tem parte dividida entre comissão e jogadores e outros gastos.

Em 2023 isso vai melhorar ou ainda está comprometido? No ano passado, houve adiantamento da receita de 2023.
Leila Pereira:
Esse ano ainda vamos sofrer com isso, viu? Mas estamos fazendo o melhor para o Palmeiras. Com toda a sinceridade, eu acho que o torcedor não se preocupa com o caixa do Palmeiras. Ele acha que não contrata por problema de caixa. O torcedor só quer contratação. Mas se contratar sem pagar, é círculo vicioso. O dirigente inescrupuloso fala: se o torcedor quer, vamos comprar, não me preocupo com o caixa porque vou sair em dois anos. Ele usa esse clamor popular para comprar, como a gente vê em vários clubes, não é novidade. Se aproveita disso, todo mundo fica feliz por um tempo e aí a torcida depois fala de novo que tem que contratar. O Palmeiras nunca deixou de contratar, na minha gestão, por causa de um problema financeiro. As decisões de contratações passam por mim, pelo técnico e diretor. Temos um scouting que busca o perfil que a comissão quer, idade, posição. Ele busca no mundo, dentro da nossa realidade, claro. E aí ele apresenta cinco ou seis opções e a comissão escolhe quem quer e a gente vai buscar. Todos foram decididos em conjunto por todos nós. Uns não vieram porque o jogador não quis vir, o clube não liberou... Nenhum deles foi porque faltou dinheiro. E outra coisa, mesmo se o Palmeiras estivesse com caixa abarrotado, se eu achasse que não era necessário e a comissão também não, eu não contrataria.

Não vou contratar jogador por causa de clamor popular. Não vou. Sou responsável. Não quero arrebentar as contas do Palmeiras" Leila Pereira

Se eu atender a torcida, eles vão só querer mais. O Palmeiras tem responsabilidade e contratamos quando é necessário. Estamos em busca sempre do melhor para o Palmeiras, mas não no timing do torcedor. Sou presidente do Palmeiras há um ano e dois meses e nunca houve um início de gestão tão vencedor. Ah, Leila... Eu sou jornalista então pergunto e respondo (risos). Ah, mas você está surfando na onda do Maurício. Claro, eu sou responsável. O Maurício foi muito vencedor, ele montou uma equipe extremamente profissional e competente. Eu, por vaidade, vou jogar fora tudo? Em hipótese alguma. Eu melhorei a gestão do Maurício, pois conseguimos conquistar títulos inéditos. O que está bom eu não mexo, eu melhoro. Deixar a vaidade de lado e trabalhar para o melhor para o Palmeiras. A vitoriosa não é a Leila, é a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Mas o Palmeiras segue no mercado? Tem um prazo para uma reposição ao Danilo?
Leila Pereira:
Na minha empresa, quando eu quero algo, eu consigo determinar. Em tal data a gente vai assinar. E no clube de futebol não é. Se eu quero, o atleta quer e o outro clube não libera, como é que faz? Tem um processo de convencimento. Por isso nem sempre é no timing que gostaríamos. Tem novidades em andamento, eu tenho um prazo determinado com o diretor de futebol. Não vou te falar, tá? Mas tem uma data. E se não der certo o que planejamos, vamos para outro cenário. Temos vários cenários engatilhados e agora estamos esperando dentro de um prazo para fechar.

Voltando ao tema financeiro. Pagar a dívida da Crefisa com os bônus de conquistas é um acordo da gestão passada. Mas isso é saudável para o fluxo do Palmeiras ou você mantém por ser um combinado?
Leila Pereira:
Não, é o mais saudável. Hoje a dívida está em R$ 67 milhões. E aí tem a mecânica já conhecida para pagamento em relação aos jogadores que já saíram. E essa é uma forma inteligente de diminuir a dívida. A premiação da Crefisa em títulos vai ser abatida da dívida. O Palmeiras vai pagar a Crefisa assim como pagou o ex-presidente Paulo Nobre. O Palmeiras paga todos os seus compromissos. E achei interessante, acho que é a melhor forma.

Uma das formas de aliviar esse problema é gerando mais receitas. O marketing é uma arma para isso. No feminino, o marketing está indo muito bem, mas você considera que no masculino o Palmeiras está aproveitando a era mais vitoriosa da história para fazer dinheiro?
Leila Pereira:
Eu acho que sim. No feminino, você sabe que a Crefisa é patrocinadora do futebol do Palmeiras: masculino, feminino e base. Nós temos o valor que a gente paga por ano e as premiações. Quando fui candidata à presidência, muito se falou do conflito de interesse, mas esse conflito deveria existir para quem tira e não para quem coloca dinheiro. No feminino, eu abri mão, a Crefisa abriu mão. Eu sou a presidente, a caneta é minha. Então a Crefisa abriu mão das minhas propriedades e nenhum outro patrocinador faria isso. Eu poderia falar de abrir mão e tentar diminuir do total para a entrada de outras marcas.

Ok, o Palmeiras é uma instituição e ganha de uma maneira geral mesmo entrando dinheiro no feminino. Mas e no masculino? Está entrando o tanto de dinheiro que deveria entrar para uma época vitoriosa como essa?
Leila Pereira:
Está subindo. Foi a única área que eu mexi, fiz uma reestruturação. Nós tínhamos um diretor que eu achei que não estava funcionando como eu gostaria, então fiz mudanças. Eu sempre imaginei o marketing trazendo novos investimentos. O clube de futebol precisa de dinheiro. Sem dinheiro não faz nada. Olha o que era o Palmeiras em 2014 e depois quando a Crefisa entra em 2015 injetando os valores vultuosos, foi a partir dali que começamos a conquistar tantos títulos. Então como você vai buscar investimento? Preciso do marketing. Sentei com eles, nomeei um estatutário que sempre trabalhou em financeiro. Não é da área de marketing, mas o anterior também não era e não trazia receita nenhuma para o Palmeiras. Em um ano, o Palmeiras teve R$ 72 milhões em novos investimentos. Nós conseguimos uma infinidade de patrocinadores. O feminino é autossustentável. Temos o banco digital, o Palmeiras Pay, temos 50 mil contas abertas. Então sempre pensamos nisso.

Nota da redação: o ex-diretor Roberto Trinas tem MBA em marketing e teve o primeiro trabalho na área em 1996. Hoje, ele trabalha na Zeus Sports Marketing, empresa que detém direitos internacionais de streaming do Brasileirão para empresas de apostas

Como o Palmeiras vai ganhar dinheiro com esse banco?
Leila Pereira:
Em todas as operações que o torcedor fizer com cartão, o Palmeiras ganha um percentual. Eu não vou falar o valor e o percentual, mas é um negócio interessante. O torcedor tem que entender que a partir do momento que abre a conta, ele está contribuindo infinitamente para o crescimento do Palmeiras.

Você sempre é criticada por não ter reajustado o valor do patrocínio. Há alguma previsão para isso?
Leila Pereira:
Como não houve correção? Houve sim. O nosso patrocínio sempre foi um dos maiores, entendeu? Sempre foi muito superior ao mercado. E além disso eu abri mão do feminino para que outras empresas colocassem patrocínios para a receita do Palmeiras. Em 2024, se alguém oferecer um patrocínio novo -- mas um idôneo, não o que apareceu em época de eleição -- e aí a gente faz uma concorrência e quem pagar mais fica no Palmeiras.

Nota da redação: O patrocínio foi renovado até 2024 pelo mesmo valor do ciclo passado.

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