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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Somos todas herdeiras de Serena

Serena Williams como garota-propaganda - Divulgação
Serena Williams como garota-propaganda Imagem: Divulgação

03/09/2022 10h22

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Uma das coisas mais lindas que já li sobre Serena Williams falava da sua relação com a tenista Naomi Osaka, também negra, também vitoriosa. Dizia: Naomi não é concorrente de Serena, ela é seu legado.

Ao contrário do que prega o mito que há séculos serve à manutenção do patriarcado, a sororidade, a união, o companheirismo entre as mulheres é enorme. É o que garante a nossa sobrevivência, financeira, emocional, literal.

Toda vez que uma mulher ascende ao topo, ela carrega consigo todas nós. Ela abre portas para todas nós. Ela torna mais difícil ao mundo negar nossas qualidades.

Quando essa mulher é negra, confiante, mãe, inegavelmente forte - em todos os sentidos -, e se consolida como a melhor de todos os tempos em um universo profundamente racista, sexista, classista, aí sua importância multiplica-se.

Como dizer para uma menininha negra que sua ambição deve ter limites quando ela conhece Serena Williams, Beyoncé, Viola Davis, Nina Simone, Rihanna, Djamila Ribeiro, Iza, Taís Araújo, Marta?

A sociedade tentará impedi-la, claro. Vai erigir barreiras, criar empecilhos os mais diversos e aparentemente intransponíveis, tentar convencê-la de que sua potência, aquela que ela sabe existir, que pulsa nas suas entranhas, que ela não passa de fragilidade. Que ela não precisa de tudo isso. Que qualquer vitória mínima já é progresso. Que ela não tem esse valor. "Contente-se porque você já conquistou o suficiente."

Então, ela olhará para Serena Williams, a melhor de todos os tempos. Ela buscará exemplos em que se mirar e encontrará irmãs ricas, poderosas, rainhas da porra toda. Irmãs que pisotearam limites. E ela será sua herdeira. Ela será seu legado.

Ela caminhará mais forte sabendo que seus limites nunca foram internos. Ela saberá que a jornada pode ser injustamente dura, mas que ela nunca andará sozinha.

Emicida escreveu que "Tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós". E nós temos Serena. Nós somos imparáveis. Nunca duvidem.